Por Ronaldo Gonçalves Cruz (*)
Adquirir um guindaste destinado à aplicação offshore nem de longe se parece como uma simples busca em um portfólio de fabricantes. Mesmo que possibilidades de enquadramentos da relação capacidade fundamental versus raio de operação sejam inicialmente observadas, há ainda muitos aspectos que demandam atenção, justificando o enfoque fit for purpose para estas máquinas.
Normas de fabricação para esses equipamentos estão disponíveis, assim como recomendações complementares a estes documentos estabelecidas por organizações atuantes, por exemplo, com suporte em segurança e performance social no segmento de Exploração e Produção de Petróleo (E&P).
Estes últimos vistos como documentos balizadores de boas técnicas e práticas consolidadas ao longo de anos por usuários, fabricantes e especialistas em operação e manutenção desses equipamentos. Além do normativo ou recomendado, a evolução natural dos guindastes resultante da retroalimentação de referências obtidas a partir do dia a dia operacional, adequações demandadas em função da locação de novas instalações offshore e/ou pelas condições exigidas para o serviço, já denotam um universo de variáveis que deve ser considerado para a especificação de guindastes offshore.
Pelo citado até o momento se denota que o projeto, seu desenvolvimento e a entrega do guindaste são fases da produção do equipamento que devem ser adequadamente interligadas e acompanhadas de perto. Custos adicionais não previstos podem advir do não atendimento integral do especificado ou ainda pela inadequabilidade de características estruturais e funcionais inseridas pelo fabricante, quando ambas situações são observadas tardiamente
Para ilustrar melhor, a Figura 1 a seguir mostra uma interessante sequência de pontos de atenção que precisam ser observados em um processo de aquisição do equipamento por uma operadora de E&P.
Ao avançar na produção do equipamento, entre as fases especificação, desenvolvimento de projeto e recebimento, aspectos indesejáveis não percebidos podem seguir trazendo impactos a entrega, representada pela operação na locação definitiva da instalação offshore com um resultado aquém do desejado inicialmente para a grande máquina.
Que aspectos podem ser estes?
Da Especificação para o desenvolvimento de projeto:
Requisitos deficientes e/ou incompletos – A não observância do ambiente a que se destina o equipamento ou das suas condições de serviço representam em grande parte este grupo. Na especificação, a base normativa e recomendada cobre requisitos fundamentais bloqueando boa parte de inconvenientes.
Do desenvolvimento de projeto para o recebimento:
Aspectos inadequados e desvios não identificados – o afastamento entre operadora e fabricante na fase de desenvolvimento de projeto viabiliza o surgimento de inconvenientes relacionados ao arranjo geral da máquina ou de suas funcionalidades, algumas que até podem representar risco a operação. Somam-se aos exemplos citados, os desvios a especificação, ou seja, à base normativa utilizada ou à requisitos inseridos pela operadora com base em recomendações e/ou experiência própria.
Atenção: Diante de um deficiente acompanhamento do desenvolvimento de projeto, os resultados de requisitos deficientes e/ou incompletos, citados anteriormente quando da especificação, tendem a passar também despercebidos até o recebimento (Figura 2).
Do recebimento para operação:
Aspectos inadequados, desvios não identificados e correções pendentes – Estes representam os problemas não identificados nas fases anteriores e acumulados, com o possível incremento das demandas de correções não realizadas sobre os inconvenientes que possam ter sido percebidos quando do recebimento.
Barreiras precisam ser estabelecidas para que não se receba um guindaste que não corresponda às necessidades operacionais pretendidas, sendo importante que estas não estejam limitadas a verificações documentais, tão pouco sejam conduzidas sem a participação daqueles profissionais que vivem a realidade operacional e que sentirão na prática as consequências de uma aquisição recheada de inconvenientes.
Certíssimo também que a indústria destes equipamentos evoluiu muito nos últimos anos, minimizando problemas oriundos de falhas de fabricantes, que também aprenderam com seus clientes. Ainda assim, pelo exposto, a atuação da operadora de E&P é fundamental ao longo de todo o processo de aquisição e deve começar a partir de uma “caixinha” que não consta da Figura 1: a seleção criteriosa dos fornecedores dos equipamentos; para que a evolução referenciada no início deste parágrafo contribua a seu favor.
Até nossa próxima leitura.
(*) Ronaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: ronaldo.cruz@cargopro.com.br
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