ALERTA: CONHECEMOS REALMENTE OS EQUIPAMENTOS A OPERAR?

ALERTA: CONHECEMOS REALMENTE OS EQUIPAMENTOS A OPERAR?

O texto a seguir pode ser visto como uma opinião, mas com tom de alerta. Desdobrado de um parecer técnico formal emitido há alguns anos relacionado a guindastes offshore, sua importância está além das fronteiras de uma empresa, assim como não limitada ao grupo de equipamentos referenciado, justificando essa divulgação.

O objetivo é reiterar a importância de realização de treinamento específico por parte de profissionais que não tem ou possuem reconhecidamente pouca experiência em operar tipos e modelos diferenciados de um mesmo equipamento de movimentação de cargas. Trazendo previamente para uma comparação o cenário de dirigir um fusca 66 e pilotar uma Ferrari 2023, onde até o verbo usado para condução muda. Ambos são automóveis, tem rodas, volantes, retrovisores, freios etc., mas as diferenças são significativas entre os dois equipamentos, tanto em quantidade de recursos, por exemplo, de espelhos retrovisores, como em tecnologia, visto pela forma de frenagem à tambor e à disco, isto sem falar dos motores.

Observando agora os processos de movimentação de cargas, a idade avançada também chegou para algumas máquinas que ainda se encontram em serviço, assim como ocorreu a evolução tecnológica, levando a disparidades semelhantes ou ainda mais complexas do que a observada entre os automóveis citados anteriormente devido as aplicações à que estas se destinam. O resultado é grande diversidade de equipamentos, percebida em aspectos construtivos, operacionais e funcionais. Estes se não conhecidos adequadamente, podem fazer com que um operador despreparado coloque em risco a segurança de pessoas e de instalações.

A seguir alguns exemplos:

  1. Construção – no caso de guindastes, a instalação dos guinchos de elevação de carga sobre a lança em máquinas de concepção mais atual, fez com que não ocorra o movimento relativo entre a bola peso ou moitão e a ponta da lança quando da realização de abaixamento da lança para posicionar uma carga em um raio de operação maior. Mas em outros equipamentos, os guinchos estão no chassi ou cavalete do guindaste, e surge a possibilidade de choque dos acessórios de içamento com a ponta da lança, já que os cabos de aço se deslocam sem o desenrolar do tambor, devido ao movimento relativo entre os guinchos e a estrutura da lança. Ao prosseguir neste sentido, pode suceder a transferência de esforços de sustentação da lança para os cabos de carga, e em seguida o possível rompimento destes com a queda do acessório (bola peso ou moitão).
  2. Operação-  Alguns equipamentos possuem joysticks ou alavancas que atuam comandos únicos ou acumulam duas funções, por exemplo, atuam movimentos de translação e giro do guindaste, dependendo do sentido que são atuadas. As normas de fabricação utilizadas para projeto dos guindastes podem definir para estes dispositivos arranjos de funções diferentes, apesar de posicionadas da mesma maneira nas cabines das máquinas. Há ainda a possibilidade de diferentes respostas a partir de como se deslocam tais comandos, por exemplo, pequenos deslocamentos destes em alguns guindastes já são suficientes para obtenção de resposta, enquanto que em outros, o curso do movimento do comando tem que ser bem acentuado para início de movimento. Efetuar um comando equivocado ou de forma inadequada pode resultar em grandes problemas.
  3. Função – A ausência de recursos de segurança em alguns equipamentos, como a correlacionada a característica construtiva citada no item i deste texto. Em geral há proteções para evitar a ocorrência indesejada descrita, como limites de curso de movimento dos acessórios de içamento, mas o desconhecimento quanto a indisponibilidade de tais recursos no equipamento pelo operador, assim como sobre atenção necessária demandada pela referida característica construtiva do equipamento, pode resultar em danos catastróficos em serviço.

O evento descrito abaixo de fato ocorreu e pode ajudar a entender a mudança de postura de uma operadora de E&P.

Em uma instalação offshore, o operador estava habituado a trabalhar com um guindaste de acionamento hidráulico dotado de frenagem dinâmica por coluna hidráulica, e estática, atuada de forma automática por cintas de freio, ambas a partir do posicionamento do joystick de comando em neutro. Mas ao chegar na nova instalação onde efetuaria seu primeiro embarque, este se deparou com um guindaste mecânico dotado apenas de frenagem estática automática efetuada por cintas de freio. O desconhecimento neste equipamento sobre o retardo à atuação automática de freio, resultante do posicionamento do comando neutro, foi o suficiente para viabilizar o início do movimento de reversão do tambor, comprometendo a frenagem e permitindo a descida descontrolada de uma carga suspensa. O profissional experiente no equipamento atuaria o pedal de freio anteriormente ao posicionamento do comando em neutro.

Após a avaliação do ocorrido, foi reconhecida pela empresa a necessidade de treinamento específico prévio por operadores que não possuam experiência comprovada nos equipamentos de uma instalação.

É relevante também salientar que treinamentos adequados, com abordagem aos riscos a que estão expostos os profissionais em questão e as medidas de proteção aplicáveis, podem atender a Regulamentos Técnicos estabelecidos no país, portanto representar a conformidade legal do processo conduzido.

Neste texto foi abordada a capacitação na operação de equipamentos específicos e não a qualificação de profissionais como operadores de equipamentos de movimentação de cargas.

Mais conhecimento aplicado, mais segurança e menos acidentes.

ronaldo cruzRonaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: cruz@cargopro.com.br

 

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