SEGUROS: “OBRIGADO. NÃO ACEITAMOS GUINDASTES….”

Por Alberto Garufi (*)

A frequência desta resposta para seu corretor está cada vez mais comum. São poucas as seguradoras que estão se propondo oferecer a seus consultores de seguro a apresentação de custos e condições para o risco de seu Guindaste. Dependendo do limite e do valor, a resposta negativa já é frequente e a tendência de mercado é de se tornar cada vez mais restrita.

No ano que acaba de terminar, sinistros deixaram sequelas para o Mercado Segurador e, em minha opinião, demandará algum tempo para que as empresas de seguro tenham “apetite” em ofertar garantias securitárias para alguns tipos de máquinas e equipamentos.

“Sinistros em 2020 deixaram sequelas no mercado. Demandará algum tempo para que as seguradoras tenham “apetite” em ofertar garantias securitárias”

Para que você leitor tenha um melhor entendimento do porquê isto acontece, inicialmente vou relembrar que, em 2020, não foram poucas as ocorrências de sinistro envolvendo guindastes. Você que é do mercado sabe disto!! A frequência e os valores indenizados acenderam um alerta nas seguradoras e resseguradoras para a carteira de Riscos Diversos: GUINDASTE não é um bom negócio.

No atual momento, as seguradoras só querem abrir a tratativa de renovação, para aqueles que não tiveram reclamações de indenização ou, na melhor das hipóteses, quando o resultado final dos prejuízos reclamados e os prêmios arrecadados ficaram no positivo, caso, contrário, o padrão da resposta será: “AGRADECEMOS SUA CONSULTA, MAS NÃO APRESENTAREMOS PROPOSTA PARA O RISCO EM QUESTÃO. RISCO DECLINADO. FORA DA POLÍTICA DE ACEITAÇÃO”.

Vou tentar, de forma sucinta, explicar ao leitor como o mercado de seguro e as seguradoras absorvem seus riscos e como um evento indenizado impacta tanto em quase todas as seguradoras de mercado, ainda que saibamos que o conceito principal do seguro é o mutualismo.

A seguradora que assume o risco proposto tem por trás de si algumas ferramentas de proteção que lhe garante a capacidade financeira em absorver impactos indenizatórios, muitas vezes superiores ao volume de negócios de determinadas carteiras.

“Não serão mais aceitas explicações com ‘esqueceu de colocar contrapeso, de estender patola, limpar os filtros, revisar as lingadas ou colocar os mats”

Existem algumas maneiras para uma seguradora se garantir destes impactos, mas vou focar em duas delas.

A primeira, oferecendo ao (s) ressegurador(es) toda a sua carteira (todos os riscos aceitos e emitidos) através de contratos automáticos, onde ela seguradora retém um determinado percentual de todos os riscos aceitos (o que chamamos de retenção) e repassa a responsabilidade do excedente para uma ou diversas resseguradoras (o que chamamos de resseguro). Desta forma, todos os seguros que ela fechar, respeitando-se os limites de automaticidade, serão repassados de acordo com a proporcionalidade pactuada.

Ao final de cada ano de contrato, as resseguradoras se sentam à mesa para repactuar com as seguradoras suas condições contratuais, e então todos os parâmetros serão revisados de acordo com o resultado obtido da carteira. Assim, taxas, condições de cobertura, limites de aceitação automática, gerenciamento de risco, tipo de bem aceito, percentuais de participação, serão itens abordados e novo contrato será celebrado por mais um ano.

A segunda forma, se o risco não se encaixar na primeira possibilidade, é a de se propor o risco ao mercado ressegurador de forma facultativa (FAC), ou seja, a seguradora oferece o risco a todos resseguradores que atuam na modalidade, e cada um deles, após a análise, oferece um percentual de participação até que o painel de aceitação atinja 100% do risco. Quando isto acontece, a seguradora tem a garantia da colocação integral dos riscos contratados.

Dito isto, imaginem que existem poucas seguradoras que gostam de operar com o segmento específico de máquinas e equipamentos e, ao mesmo tempo, poucas resseguradoras que queiram garantir contratos automáticos de resseguro. Imaginou? Pronto, este é o cenário: a maioria das seguradoras tem por trás dos seus contratos automáticos de aceitação, na sua maioria, os mesmos resseguradores, ou seja, na prática, na ponta da linha, teremos os mesmos fundos garantidores dos sinistros.

Eis o porquê um grande sinistro ou uma série de sinistros indenizados por seguradora (s) acaba influenciando o mercado como um todo e as condições de renovação de sua apólice ficam cada vez mais dependentes de um mercado sadio e responsável.

A tendência das seguradoras para este ano de 2021, muito provavelmente, será a aceitação de riscos de menor tamanho, ou seja, focar mais em seguros de equipamentos de menor porte e valor, sendo que, equipamentos acima de R$ 10 milhões ou serão negados ou serão ofertados dentro da modalidade facultativa, uma proteção da seguradora para não comprometer o resultado do contrato automático.

Além das limitações dos valores segurados, o mercado de seguro exigirá para a aceitação: mais segurança operacional, controle de manutenção dos equipamentos, gestão de pessoal e responsabilidade.

As seguradoras não mais aceitarão explicações tais como: “esqueceu de colocar contrapeso, esqueceu de estender patola, deixou de colocar os mats, não limpou os filtros de óleo, não revisou as lingadas…”. Não que ela mudará o contrato, mas, para fazer o seu seguro, exigirá maior controle da empresa e suas operações.

Gostou do tema? Dê sua opinião ou envie sua sugestão e poderemos abordar nas próximas edições.

 

garufi(*) Alberto Garufi é engenheiro mecânico e consultor de seguros especializado em  máquinas e equipamentos. Trabalhou nas multinacionais Marsh e Zurich. Sugestões e comentários enviar para alberto@garufiseguros.com.br

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