0 HIDROGÊNIO NA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

0 HIDROGÊNIO NA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Mais do que a M&T Expo (Brasil) e a Intermat 2004 (França), feiras de equipamentos, que acontecem simultaneamente na penúltima semana de abril, um outro evento, que ocorre em paralelo às duas – Hannover Messe (HM2024), de 22 a 26 de abril – na Alemanha, com certeza sinaliza melhor as tendências atuais da indústria veicular (equipamentos, incluídos). Isso porque, sendo uma feira industrial, a HM2024 reúne os principais fornecedores, por exemplo, de peças, componentes e sistemas embarcados em guindastes e caminhões – em meio a um total de 2.662 expositores, 101 institutos de pesquisa e 151 startups.

É o maior encontro mundial da engenharia mecânica, elétrica e, mais recentemente, inteligência artificial aplicada a esse segmento de mercado. O tema da feira em Hannover neste ano dispensa tradução: “Energizing a Sustainable Industry”. São quatro as grandes áreas da HM2024, não por acaso as tendências atuais da indústria: IA e aprendizado de máquina, Hidrogênio e células de combustível, Energia para a indústria e novos processos de produção (Indústria 4.0). Se considerado apenas um desses setores da feira – Hidrogênio e células de combustível – são cerca de 500 expositores.

O que é revelador do quanto essa opção de abastecimento tem avançado, não somente como alternativa aos combustíveis fósseis, como também de uma complicada migração radical de toda a indústria para a eletrificação veicular. A Europa, como se sabe, a partir da guerra na Ucrânia, passa por uma grande crise energética e, ao mesmo tempo, corre contra o tempo para atender restrições de emissões cada vez mais severas.

HANNOVER MESSE 2023
HANNOVER MESSE 2023

Se a eletrificação veicular não é problema para a China que soube estruturar uma rede mundial dos minerais essenciais para a produção de baterias e dispõe até mesmo de lítio em seu subsolo, o mesmo não ocorre no continente europeu. A Alemanha, por exemplo, que viveu e ainda vive o trauma da carência do gás russo, não pode apostar todas as suas fichas na dependência de minérios. Além do que, tem toda uma indústria instalada e fornecedora global baseada em motores a combustão. O hidrogênio, nesse sentido, é o caminho do meio para a transição.

Aplicações de propulsão variadas

Alguns exemplos referendam essa tese. O Grupo Volvo, por exemplo, ao mesmo tempo em que adquire uma instalação de desenvolvimento e fabricação de baterias nos EUA, está investindo fortemente no hidrogénio – tanto para aplicações em células de combustível como como combustível renovável para motores de combustão. “Acreditamos que o futuro exigirá aplicações de propulsão variadas. Vejo o motor de combustão interna que funciona com hidrogénio verde como outra solução de grande interesse que estamos atualmente a testar nos nossos laboratórios de motores e veículos de teste”, afirma Lars Stenqvist, Diretor de Tecnologia do Grupo Volvo.

Outros fabricantes veiculares seguem na mesma linha, mas é entre os produtores de petróleo, por razões óbvias, que a preferência pelo hidrogênio é ainda maior. Da Petrobras, que já anunciou um investimento inicial de R$ 90 milhões em pesquisas para produção e utilização do hidrogênio, aos líderes mundiais, os árabes. Com preços historicamente baixos da energia solar e eólica, infraestruturas estabelecidas e uma localização estratégica para as exportações, o Oriente Médio está bem posicionado para capitalizar a mudança global para o hidrogénio limpo.

Em novembro de 2023, 50 diferentes projetos de hidrogénio limpo estavam em desenvolvimento na região. Destes, dois foram inaugurados, ambos na Arábia Saudita: a instalação de produção de hidrogénio verde NEOM, com investimento de US$ 8,4 bilhões, que deverá ser a maior do mundo quando estiver operacional em 2026, e o Complexo Jazan IGCC, com investimento de US$ 12 mil bilhões, que produzirá energia, vapor e hidrogênio.

HANNOVER MESSE 2023
HANNOVER MESSE 2023

A própria União Europeia já anunciou que pretende produzir 10 milhões de toneladas métricas e importar 10 milhões de toneladas métricas de hidrogénio renovável até 2030. E poderá contar com um fornecedor próximo e confiável que, por acaso, está na liderança no desenvolvimento dessa tecnologia, os noruegueses. Uma estatal daquele país, a Enova, já concedeu 61 milhões de euros para cinco fábricas de produção de hidrogénio verde, ao longo da costa, de norte a sul. Tanto a estratégia da Noruega, como da UE consideram o hidrogénio essencial para alcançar uma sociedade com emissões líquidas zero até 2050. Para o mercado em geral esse prazo poderia sugerir alguma folga para implementação desse processo, se não fossem as etapas intermediárias, cada vez mais restritivas.

ESTA considera metas impraticáveis

Enquanto empresas de transporte vem testando progressivamente diferentes alternativas aos combustíveis fósseis, em trens, navios, veículos e equipamentos, a determinação de políticos, ambientalistas e legisladores parece insaciável. A ESTA (associação de locadoras e transportes especiais da Europa) lançou um comunicado no início deste ano afirmando que as metas de emissões europeias são “impraticáveis”. E criticou duramente o Parlamento Europeu por acordar normas de redução de emissões de CO2 para novos veículos pesados (HDVs), sem implementar um plano para desenvolver a infraestrutura necessária para o carregamento de veículos eléctricos e a adoção de combustíveis alternativos.

Se for adotado inalterado, o acordo mantém as metas de redução de emissões para os fabricantes de caminhões e veículos originalmente estabelecidas pela Comissão Europeia – 45% até 2030, aumentando para 65% a partir de 2035, antes de saltar para 90% a partir de 2040. Estas metas serão aplicadas em caminhões pesados com mais de 7,5 t e veículos. Os negociadores concordaram em fixar as metas para os reboques em 7,5% e para os semirreboques em 10%.

“Não vemos sinais, a curto e médio prazo, de que a infraestrutura necessária para essas metas extremas de emissões zero de veículos pesados esteja pronta para implantação em grande escala em áreas urbanas e nos principais eixos rodoviários”, afirmou Ton Klijn, diretor da ESTA. “O pensamento por trás da política é louvável, mas sem um plano desse tipo para lidar com os aspectos práticos da infraestrutura, ela irá falhar.”

Foto em destaque: Gebruder Weiss, operador global e um dos pioneiros no uso de hidrogênio verde em seu país sede, a Áustria.

 

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