Por Ronaldo Gonçalves Cruz (1)
Historicamente, o aprendizado na operação de guindastes em plataformas de petróleo ocorre na prática. Uma situação que persiste ainda hoje. No entanto, já se observam no mercado algumas opções de treinamento que se propõem a qualificar, capacitar e, mais recentemente, certificar esses operadores. No que consistem e quais as fragilidades desses treinamentos?
Qualificação – Nesse caso, o que se anuncia é a formação de operadores de guindastes offshore, tendo como público alvo profissionais sem experiência com essas máquinas. Não é difícil perceber uma grande vulnerabilidade nesse tipo de proposta, uma vez que não há um regramento legal que estabeleça conteúdo programático, corpo docente, infraestrutura para o curso e ainda critérios de aprovação. Desta forma, há programas com cargas horárias que variam de 40 a 200 horas, alguns com realização de aulas práticas limitadas a guindastes terrestres e outros com emprego de simuladores de operação offshore.
Há ainda modelos de treinamentos que seguem, integral ou parcialmente, programas de qualificação consagrados fora do Brasil, mas que, no exterior, são regulados por entidades governamentais, o que não ocorre ainda aqui. Em resumo, o país ainda não conta com um programa de habilitação formal para operação de guindastes offshore nos mesmos moldes dos que estão disponíveis para equipamentos terrestres e marítimos. Ao final, a validação desse treinamento dependerá do contratante do serviço.
Capacitação – Os treinamentos de capacitação se destinam a operadores com experiência profissional, desconsiderando a forma como esta foi iniciada. Visam agregar conhecimento através de atualização de conceitos, aspectos construtivos e funcionais dos equipamentos, recursos operacionais, apresentação de tecnologias e, por vezes, abordagem de estudos de casos, de modo a ampliar a visão do operador. Em suma, a meta é aperfeiçoar o profissional. Esses treinamentos são bem vistos pelas empresas contratantes dos operadores e clientes dos serviços de movimentação de cargas, uma vez que se destinam a enriquecer o currículo dos profissionais, mas devem ser avaliados quanto à qualidade de sua aplicação. Vide Figura abaixo.
Certificação – No momento, ainda não há no Brasil um programa de certificação implantado para os operadores de guindastes offshore cuja entidade certificadora seja reconhecida pelo INMETRO, organismo nacional acreditador responsável por esta competência. Da mesma forma que modelos de treinamentos de qualificação são importados, se observada a realização de treinamentos que forneçam no Brasil a certificação segundo modelos estrangeiros, é necessário verificar se a entidade responsável pela certificação tem o reconhecimento para conduzir tal processo no Brasil. Do contrário, se torna questionável a qualidade da certificação ofertada.
Um programa de certificação reconhecido, ao estabelecer critérios oficiais, iria beneficiar a todos: prestadores de serviços e contratantes. Esses últimos também, porque poderiam dispensar a necessidade do estabelecimento de requisitos contratuais, desonerar o gerenciamento e fiscalização dos contratos e viabilizar a padronização entre suas unidades de negócio.
Apesar da possibilidade futura de reconhecimento de mais entidades certificadoras, evitando possíveis gargalos no processo de disponibilização ao mercado destes profissionais, isto deve ser visto como solução paliativa enquanto o processo de habilitação formal destes profissionais não esteja estabelecido.
Ronaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: ronaldo.cruz@cargopro.com.br
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