COMISSIONAMENTO DE EQUIPAMENTOS DE MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS

Por Ronaldo Gonçalves Cruz (1)

Inicialmente, como contextualização sobre o tema, a leitura da notícia, de 24/11/2021, transcrita parcialmente na Figura 1, pode ser considerada como aplicável.

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Fonte: Agência Petrobras

Uma instalação offshore de exploração e produção de óleo e gás (E&P) demanda recursos de movimentação de carga muito diversificados, tanto em tipicidade quanto em capacidades de trabalho, fazendo com que a fase de comissionamento destes equipamentos seja de extrema responsabilidade. Não há dúvida que um guindaste demanda atenção especial pela função de receber materiais, rancho e pessoas para a bordo, todos vitais para continuidade operacional da unidade, mas outros executam o deslocamento interno de algumas dessas mesmas cargas em locais onde a grande máquina não tem alcance e/ou tem papel fundamental no suporte a manutenção, como talhas manuais e motorizadas, turcos, pontes rolantes, troles e rail cars de convés.

A Figura 2 mostra uma talha de correntes em comissionamento. Lembrando que tudo isto deve ocorrer de forma segura, tanto operacionalmente, relacionado à presença do operador capacitado e respostas funcionais adequadas do equipamento, como do ponto de vista da integridade estrutural.

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Figura 2- Talha de corrente

A Tabela 1 a seguir relaciona alguns quantitativos de equipamentos presentes em um Floating Production Storage and Offloading (FPSO) a serviço pela PETROBRAS, como o ilustrado na Figura 3.

Tabela 1 – Equipamentos de movimentação de cargas em um FPSO

Tipo Quantidade Capacidades (t)
Turcos 06 0,5 a 2
Talhas 81 0,5 a 25
Trole de convés 01 5
Rail car 01 22
Guindastes 02 25
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Figura 3 – FPSO em serviço offshore (Agência Petrobras)

Desta forma, o recebimento e operacionalização adequada desses equipamentos requerem a atuação de profissionais habilitados nos serviços relacionados que envolvem desde a inspeção visual no recebimento e condução de testes à avaliação de adequabilidade documental de operação e manutenção (O&M), fornecida pelo fabricante, em conformidade com os requisitos das Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), como a NR-37 – Segurança em saúde em plataformas de petróleo.

De acordo com Ministério do Trabalho e Emprego, profissional legalmente habilitado (PLH) corresponde ao profissional previamente qualificado, com atribuições legais para a atividade a ser desempenhada, que assume a responsabilidade técnica, possuindo registro no conselho de classe competente. Como se tratam de equipamentos mecânicos, técnicos de nível médio de formação em mecânica estarão naturalmente enquadrados para atuar no perfil então estabelecido se devidamente registrados no Conselho Federal dos Técnicos, mas estes não devem ser os únicos atores que devem ter envolvimento nestes serviços.

Quando a abordagem está relacionada a inspeção de equipamentos, conforme a legislação brasileira, laudos desta natureza ainda devem ser assinados por engenheiro mecânico, devidamente registrados no Conselho de Engenharia e Agronomia (CREA), sob pena de ter seu valor jurídico invalidado. Uma vez que em atendimento a requisito da NR-37 todos os equipamentos de movimentação de cargas da instalação, quando em serviço, deverão ter suas certificações periódicas atestadas por um PLH, a atuação do engenheiro mecânico na fase de comissionamento deve ser considerada como integradora.

Além do aspecto legal envolvido, se deve observar também o estratégico, uma vez que desta atuação conjunta ficam fortalecidas ações como: mapeamento dos equipamentos para cadastro nos sistemas de informação empregados pela empresa para controles internos; obtenção de referências para estabelecimento de planos de manutenção e inspeção; coleta de subsídios para estruturação programas de treinamento de O&M, estas duas últimas ações anteriores visam a obtenção de conformidade legal; identificação de demandas técnicas à fornecedores e fabricantes e, principalmente, o recebimento técnico adequado de todos os recursos.

Mas há realmente fundamento em se preocupar com o comissionamento destes equipamentos? Estão relacionados a seguir na Tabela 2 alguns exemplos do que se pode evitar a partir da atuação de forma técnica e legal adequadas.

Figura 2q
Tabela 2 – Ocorrências indesejáveis em comissionamento de equipamentos

Diante do exposto, a estruturação de uma equipe composta por técnicos e engenheiros mecânicos para atuar desde a fase de comissionamento dos equipamentos de movimentação de cargas em instalações offshore de uma empresa de E&P configura uma ação estratégica de foco legal e técnico, considerada ainda mais assertiva se a mesma equipe estiver designada como responsável pelos futuros programas de certificação periódica em serviço destes equipamentos.

ronaldo cruz(1) Ronaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: ronaldo.cruz@cargopro.com.br

 

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