A HISTÓRIA DO SERVIÇO DE INSPEÇÃO DE GUINDASTES NA BACIA DE CAMPOS

A HISTÓRIA DO SERVIÇO DE INSPEÇÃO DE GUINDASTES NA BACIA DE CAMPOS

Por: Ronaldo Gonçalves Cruz (*)

Este artigo é um reconhecimento de valor de todos os profissionais que atuaram de forma pioneira em inspeção de guindastes offshore e também uma homenagem a uma “senhora” que completou 45 anos de produção recentemente; falo da Unidade de Negócios da Bacia de Campos (UN-BC) da Petrobras.

A história já está escrita, o aprendizado obtido pelos profissionais desde então atuantes no tema é um legado que formou a base para orientações práticas, normativas disponíveis e especificações relacionadas a movimentação de cargas na empresa e fora da mesma. Os trabalhos continuam e a correlação destes com a disponibilidade operacional dos equipamentos com segurança é inquestionável.

Relembrando um pouco sobre a Bacia de Campos.

A Bacia de Campos foi a primeira descoberta, com grande potencial de exploração e com o desafio de alcançar águas profundas. A área da Bacia de Campos abrange cerca de 100 mil quilômetros quadrados, estendendo-se do Estado do Espírito Santo, nas imediações de Vitória, até Arraial do Cabo, litoral norte do Rio de Janeiro.

O primeiro campo com volume comercial descoberto foi Garoupa, em 1974, a 124 metros de profundidade. No ano seguinte, foi descoberto o campo de Namorado e, em 1976, o de Enchova, onde em 13 de agosto de 1977, foi o início da produção comercial offshore, através do Sistema de Produção Antecipada instalado na plataforma Sedco 135-D, produzindo 10 mil barris diários (bpd) de óleo.

Fonte: www.presalpetroleo.gov.br/bacia-de-campos/

EMPRESA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL S.A. PRÉ-SAL PETRÓLEO S.A.

No início, pouco se conhecia sobre os aspectos e variáveis presentes na aplicação offshore dessas grandes máquinas de movimentação de cargas. Nos anos 70 a 80 estes guindastes tinham como característica a adaptação para essa condição de serviço a partir de projetos onshore, tanto os produzidos no Brasil como muitos presentes em plataformas vindas do exterior originalmente destinadas a perfuração. Isto logo viria a ser percebido tanto pelo desempenho inadequado de sistemas integrantes dos equipamentos, como infelizmente pela ocorrência de eventos indesejáveis.

A Figura 1 mostra um exemplo de guindaste em serviço nas plataformas de produção.

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Figura 1: Guindaste adaptado para uso offshore

Nesse período foi percebida a necessidade e estruturado o serviço de inspeção dedicado a guindastes na unidade, onde o foco estava em segurança de pessoas e instalações. Uma informação adicional importante é o fato que na ocasião os serviços de manutenção eram conduzidos por recursos humanos próprios da empresa, possível em função do ainda reduzido quantitativo de plataformas.

Com o aumento da produção no final dos anos 80, houve o recebimento de novas instalações, a ponto que a manutenção destas máquinas passou a estar integralmente atribuída a empresas contratadas para tal. A ainda incipiente especialização dos recém chegados parceiros nestes serviços resultou em frequentes indisponibilidades de alguns equipamentos, principalmente porque com a evolução tecnológica ocorreram aquisições de projetos de máquinas tipicamente desenhadas para o serviço offshore, em boa parte produzidos no Brasil, trazendo em conjunto maior complexidade de sistemas integrantes. Nesse período a inspeção passou a ser vista como um importante complemento dos planos de manutenção preventiva, já devido ao conhecimento adquirido nestes equipamentos e pela confiança adquirida junto a operação das instalações.

Na Figura 2 pode ser vista uma máquina de concepção offshore produzida no Brasil.

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Figura 2: Guindaste offshore

Um pouco mais a frente e a equipe de inspeção da Bacia de Campos teve a oportunidade atuar em conjunto com os órgãos da empresa que estabeleciam as especificações para aquisição dos guindastes, incorporando soluções para problemas observados anteriormente, assim como a proposição de melhorias de projeto com base na prática operacional. Isto ocorreu ao final dos anos 90, quando os fornecimentos de guindastes passaram a vir da Europa, tendo sido viabilizada também a participação da inspeção nos recebimentos em fábrica, o que viria a enrobustecer o aprendizado junto aos fabricantes.

A experiência europeia no projeto e fabricação foi prontamente observada, mas ainda assim a Petrobras conseguiu demonstrar a aplicabilidade de requisitos inseridos então nas suas especificações. Na Figura 3 se encontra um dos primeiros projetos recebido da geração europeia.

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Figura 3: Guindaste offshore ao final dos anos 90

Em paralelo no Brasil, a busca por empresas de manutenção especializada se acirrava com objetivo de aumentar a disponibilidade dos equipamentos, passando a responsabilidade pela gestão dos serviços ser da Petrobras. A atuação da inspeção de guindastes a bordo das plataformas passaria a ter neste momento o caráter de auditoria dos serviços de manutenção, como suporte aos gestores do processo.

Nos anos 2000 ocorreram recebimentos de novas instalações, a Bacia de Campos deixou de ser a única unidade de negócios da empresa no sul-sudeste do Brasil, sendo criadas as unidades do Rio de Janeiro, Espírito Santo e um pouco mais a frente, Santos. A equipe de inspeção da UN-BC passou a compartilhar seu conhecimento, contribuindo na formação das demais equipes de inspeção destinadas a atuar nas novas unidades, assim como em trabalhos específicos de forma conjunta, como ocorre até hoje.

O leque de empresas especializadas em manutenção de guindastes se abriu com a chegada de empresas parceiras internacionalmente reconhecidas e também, fabricantes de guindastes, alguns não limitados a prestar serviços apenas sobre seus fornecimentos. Desta forma, após as mudanças de foco ocorridas nos diferentes cenários que se apresentaram, a inspeção voltou a ter como objetivo a observância da segurança operacional.

Engenheiros, técnicos e gestores da área de inspeção dedicaram anos de trabalho em prol dos objetivos almejados em qualquer dos períodos descritos neste texto, suportaram tecnicamente a operação e gestão das plataformas, evitaram perdas de produção e, com certeza, salvaram vidas. Encerro esta narrativa com um agradecimento aos profissionais citados pela oportunidade de ter trabalhado em conjunto e pelo aprendizado obtido junto a estes; os parabenizando pela atuação e desejando muito mais sucessos a todos.

À “senhora” UN-BC, seguem os votos de longa vida com produção e segurança.

ronaldo cruz(*) Ronaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: ronaldo.cruz@cargopro.com.br

 

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