SEGURANÇA É O PONTO MAIS ALTO

SEGURANÇA É O PONTO MAIS ALTO

O momento não é dos melhores, mas o Brasil é um país repleto de oportunidades futuras para as locadoras de plataformas. O conceito ainda é novo no país, com a chegada das primeiras companhias somente há duas décadas. “Desde o segundo semestre de 2014, houve uma retração entre 30 e 50% para as prestadoras de serviços”, afirma Roland Colombari, consultor e diretor da RR Qualifica. “No entanto, o mercado de plataformas ainda está sendo descoberto. Se você vai a um canteiro de obras na Inglaterra ou nos Estados Unidos, verá uma quantidade imensa em operação. Plataformas são regras nesses países e ainda serão aqui também”.

Roland Colombari
Roland Colombari

Colombari, Engenheiro Mecânico e de Segurança do Trabalho, tem mais de 20 anos de experiência no mercado e já atuou em empresas como Solaris e Cunzolo. Em entrevista, ele fala da importância da seleção das plataformas, os treinamentos existentes, e a necessidade de um padrão de documentação técnica para os equipamentos, Em dezembro do ano passado, o especialista criou sua própria empresa, a RR Qualifica, que presta serviços nas áreas de Engenharia, Treinamento e Consultoria. Roland Colombari tem um objetivo em mente. “Meu desejo é que a companhia seja uma referência técnica para todos que atuam nesse segmento”.

Confira abaixo, com exclusividade, a entrevista com o ex-presidente do Conselho Brasileiro da IPAF (Federação Internacional de Plataformas Aéreas).

Crane Brasil – O que deve ser levado em conta num projeto para a seleção de uma plataforma de trabalho aéreo (PTA)?

Colombari – Há três tipos de plataformas: tesoura, articulada e sobre caminhão. De forma resumida, deve ser analisado todo o ambiente onde será realizada a operação. Você precisa levar em conta o tipo de piso, sua resistência, inclinação e acabamento. Piso é um dos pontos mais críticos, pois as máquinas têm limites quanto à inclinação e cada PTA tem seu limite, que começa por volta de 5º. A inclinação faz com que a carga esteja em outro centro de gravidade. Vários acidentes ocorrem por causa disso. Outros fatores a serem considerados são o tipo de ambiente (aberto ou fechado) e os riscos do local (obstáculos existentes, como rede elétrica). Exemplificando, um ambiente fechado requer preferencialmente um motor elétrico. E dependendo dos obstáculos existentes na obra, é mais comum a utilização de uma plataforma articulada. Outro ponto é o peso da PTA. Não parece, mas o menor modelo do mercado, do tipo tesoura, pesa mais de 1 t. Existem máquinas que chegam a pesar até 15 t. Se você vai trabalhar numa laje com um peso desses, precisa ter certeza de que ela dará o suporte necessário.

Crane Brasil – Em sua opinião, a maioria dos acidentes ocorre por erro humano, pelo fato de uma PTA parecer uma máquina pequena?

Colombari – Sim, em 99% dos acidentes. Eles ocorrem por negligência ou imprudência. O equipamento está projetado de uma forma muito segura, plataforma não cai à toa. Ou houve um erro com a pessoa se aproximando de um risco ou uma falha no cálculo do piso. O 1% que eu deixo em aberto é o vento, item crítico para as PTAs. Dependendo do caso, esse item pode ser culpa de quem opera o equipamento. Quando um operador percebe a força do vento ou que o tempo vai fechar, ele precisa recolher a lança. Mas, em alguns casos, podem surgir rajadas inesperadas. Isso é uma fatalidade. Caso contrário, é realmente imprudência ou negligência.

Crane Brasil – Quais os tipos de treinamentos existentes no Brasil?

Colombari – Existe um folclore quanto aos treinamentos, pois há muitos aventureiros no mercado. Se você digita “treinamento de plataformas” na internet, vai encontrar empresas que possuem “reconhecimento internacional”, sem referência alguma, ou que prestam “pleno atendimento da NR (Norma Regulamentadora) 11”. Só lembrando que a NR 11 trata de manuseio de carga, não tem nada a ver com plataformas. PTAs estão contidas nas NRs 12 e 18. A NR 18 pede, para o treinamento, um conteúdo programático, com questões de segurança da máquina conforme o manual de operação dos fabricantes. O treinamento da IPAF é altamente recomendado, mas as fabricantes também realizam. Além disso, há os treinamentos das próprias locadoras e de prestadoras de serviços. Ao concluir, você recebe um certificado.

Crane Brasil – Quais tipos de alterações são esperadas para a NR 18?

Colombari – Com a revisão da NR 18, que deve sair no meio do ano, haverá muito mais requisitos. Treinamento com carga horária de 8h, por exemplo. Outra novidade serão os requisitos específicos para a formação de instrutores. O modelo de treinamentos IPAF já se encaixa nos itens que devem ser incluídos na NR 18. O conteúdo programático atende praticamente todos os fabricantes, pois são associados. Dessa forma, se você faz um treinamento para tesoura, poderá operar qualquer plataforma do tipo tesoura no Brasil, por exemplo. Eu sou instrutor IPAF e assumo que o modelo é excelente, mas não é o único. Acredito que com os novos requisitos da NR 18, a estrutura será muito melhor.

Crane Brasil – Não existe um padrão de documentação técnica para PTAs no Brasil. O que existe hoje e quais as suas propostas?

Colombari – Nos Estados Unidos e na Europa, existe um processo de inspeção anual de máquinas. Todas as máquinas possuem um selo, que atesta a inspeção da máquina, levando em conta questões estruturais. São analisados trinco em chassis e solda com defeito, por exemplo. É algo muito mais detalhado e crítico. Esse é um modelo do qual sou grande defensor. Uma entidade independente, qualificada pelo fabricante, faz um laudo e atesta a boa condição das máquinas. Esse modelo salva vidas, pois há muitos acidentes com danos estruturais das máquinas. No Brasil, a maioria das empresas realiza o check-list, mas não há uma documentação que suporte. As empresas não têm um profissional legalmente habilitado e os documentos raramente são assinados por um engenheiro. É ainda mais difícil encontrar uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), documento emitido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) – quando o engenheiro assume qualquer responsabilidade. Gostaria de ver no Brasil um padrão de inspeção anual, com um laudo que apresente resultados, fotos da estrutura da máquina e ensaios hidráulicos, elétricos e de motor a combustão. Não podemos ficar somente numa análise visual da máquina. (Por Ricardo Gonçalves)

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