QUALIFICAÇÃO VERSUS CERTIFICAÇÃO

QUALIFICAÇÃO VERSUS CERTIFICAÇÃO

Por: Camilo Filho (*)

Vamos imaginar o seguinte cenário: você é o diretor de operações de uma grande empresa de locação de equipamentos, responsável por toda frota e mão de obra (operadores de guindastes, supervisores, sinaleiros, motoristas etc.).

Imagine agora que você recebe uma ligação de um cliente extremamente insatisfeito, porque um de seus operadores quase tombou o guindaste em sua obra. Você, após uma verificação no prontuário deste operador, verifica que ele não só passou pelo programa de treinamento interno da empresa, mas também fez um ótimo trabalho nos testes e provas práticas, quando da certificação por uma terceira parte, acreditada nacionalmente. Será que o que acabamos de imaginar pode acorrer de fato?

A resposta é sim! Este é o caso de alguém que passou em todos os exames escritos e práticos e agora é um operador de guindaste certificado, mas a empresa para a qual estava prestando serviço, o seu cliente, acredita que ele não é qualificado para o trabalho.

A questão é: a certificação também é qualificação? Neste caso, certamente não foi. Eu mesmo acredito que poderia ser um risco e teria dúvidas em colocar este operador de volta na operação do equipamento, sem antes submetê-lo a horas de treinamento e posterior avaliação.

Uma empresa de treinamento só pode transmitir conhecimento, ensinar habilidades aos alunos e fornecer resultados de testes para ajudar os clientes a tomar uma decisão mais confiante. Porém você, empregador, empresário, é quem toma a decisão final sobre se o colaborador pode executar uma determinada tarefa, ou não. A responsabilidade é sua, independentemente de qualquer certificação, ele estará usando o seu uniforme e seu crachá.

Mas o que é Qualificação?

Segundo a OSHA, “Uma pessoa que, por possuir um diploma, certificado ou posição profissional reconhecida, ou que, por extenso conhecimento, treinamento e experiência, demonstrou com sucesso a capacidade de resolver problemas relacionados ao assunto, ao trabalho ou ao projeto”. Na minha interpretação, a OSHA simplesmente diz, você, o empregador, é a melhor pessoa para entender a qualificação para seus cargos e você é o único que poderia considerar alguém como qualificado para trabalhar em seu quadro de colaboradores. A utilização desse operador, apenas porque ele é certificado, não é uma garantia de que ele está qualificado para executar o trabalho a ele designado.

O que é Certificação?

A certificação requer testes e determina um nível mínimo de conhecimento e habilidade, algo semelhante a como quando tiramos nossa carteira de motorista. Mostra que os participantes entendem o básico e podem realizar tarefas fundamentais. Os exames de certificação são elaborados após um longo processo de análise de tarefas de trabalho. Durante esse processo, os profissionais do setor são entrevistados para determinar o que a pessoa que executa o trabalho precisa saber.

A certificação é emitida por um período definido e requer um novo teste para garantir que o indivíduo permaneça atualizado com os padrões, regulamentos e avanços tecnológicos do setor.

Fato Inegável!

Citando dados da Califórnia, exigências dramáticas devem produzir resultados drásticos. Antes da certificação, entre 2002 e 2005, somente na Califórnia foram contabilizadas 10 mortes e 30 casos de ferimentos devido a acidentes com guindastes. Após a certificação, de 2005 a 2008, ocorreram dois acidentes fatais e 13 feridos. Não há como argumentar esses fatos obtidos do estudo da Califórnia. A certificação prestou um serviço valioso para os empresários que nela investiram, mas nunca retirou a responsabilidade deles, de nomear pessoal qualificado.

Penso que, num futuro não muito distante, teremos a obrigatoriedade de operadores certificados também aqui no Brasil. É importante que você empresário, ao contratar esse operador, confirme que ele seja certificado nas máquinas que efetivamente irá operar. Eu ainda aconselho a colocá-lo por um período sob a orientação de um operador confiável e qualificado para garantir que o novo colaborador entenda todos os recursos e detalhes do equipamento. Não assuma apenas que os conhecimentos e habilidades demonstrados para a certificação se traduzam em ações positivas no trabalho. A certificação é, sem dúvida, excelente, mas ser qualificado para o trabalho deve continuar a ser um princípio crítico de suas operações para salvaguardar a segurança de todos e de tudo!

camilofilho(*) Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com mais de 39 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é autônomo e consultor da IPS Engenharia de Rigging. Sugestões e comentários enviar para camilofilho@hotmail.com.

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