AS OPERAÇÕES DURANTE A PANDEMIA

AS OPERAÇÕES DURANTE A PANDEMIA

Diante da crise atual, a grande preocupação das empresas, evidentemente, é a de manter suas operações, total ou parcialmente, de modo a atender os compromissos com os clientes e, consequentemente, manter o fluxo de pagamentos para cobertura dos custos de sua estrutura operacional, incluindo os salários de seu quadro de colaboradores. A pandemia impactou, em maior ou menor escala, todas as empresas do setor.

A Locar Guindastes e Transportes, por exemplo, teve parte de seus contratos suspensos e outros reduzidos proporcionalmente. “Para os que continuaram em vigor e os novos, continuamos atendendo normalmente, de acordo com as exigências da OMS e governos de cada estado”, explica Amilcar Spinetti Filho, Diretor Técnico Corporativo da empresa.

Empresas como a Elba Equipamentos e Serviços, a Cunzolo Guindastes e Plataformas e a Ferezin Montagens Industriais e Locações de Equipamentos tiveram parte da operação paralisada. No caso da última, diz Tiago Daniel Ferezin, engenheiro mecânico e de Segurança do Trabalho, a retração das atividades foi motivada “pelo risco de contaminação das pessoas, pelas incertezas políticas e econômicas e também pela necessidade de atendimento das medidas de saúde determinadas pelos órgãos públicos.”

Redução da atividade econômica

“Em função da pandemia”, acrescenta Júlio Apolinário, Diretor de Operações da Primax Transportes Pesados, “o ritmo econômico dos nossos clientes reduziu-se a níveis sem precedentes. Nos meses de abril e maio, estivemos com uma utilização do nosso efetivo na casa de 30%”. No caso da Hansa Meyer, diz Ricardo Teixeira, diretor da Divisão de Transportes e Rigging, “parte dos contratos foram suspensos após o início da pandemia e alguns estão sendo executados de acordo com prazos estipulados”.

A Guindastes Tatuapé também está trabalhando de forma parcial. Segundo o diretor Denys Garzon Rodrigues, a locadora está atendendo alguns novos contratos e outros assinados antes da pandemia, “porém alguns clientes tiveram suas atividades paralisadas pela Covid-19”. Nilson Balmaceda Mangueira Rocha, diretor técnico da Guindastec diz que a empresa está trabalhando normalmente, mas com a demanda reprimida devido à pandemia. “Alguns contratos pararam, e entendo que os novos contratos estão aguardando uma luz no fim do túnel para dar continuidade”.

Retomada gradual de atividades

Adauri O. Silva, CEO da Darcy Pacheco, diz que, no início da pandemia, o grupo sentiu um impacto maior nos serviços spot e algumas medidas foram tomadas, como a concessão de férias, alteração de trabalho para Home Office e implantação de banco de horas. “Aos poucos, estamos retomando com trabalhos presenciais, de forma controlada, para as pessoas que não estão no grupo de risco. Os projetos, em sua grande maioria, tiveram continuidade”.

A Nextrans Latinoamerica mantém o ritmo de operações dentro da normalidade, segundo o diretor financeiro Antonio Silveira. O principal motivo são contratos e projetos assinados ainda em 2019, que geraram um incremento de 70% nas receitas do primeiro trimestre de 2020. Apesar de registrar uma queda de, respectivamente, 50% e 30 %, em abril e maio, ele acredita que, a partir de julho, a empresa retome um ritmo de atividades bem próximo do primeiro trimestre.

No Bolbi, a normalidade se justifica, segundo o diretor Operacional Alexander Biskupski, pelo perfil de seus principais clientes. “Algumas empresas do setor de mineração e siderurgia estão aproveitando janelas de oportunidades para intervenções de manutenções ou mesmo para execução de “up-grades” e investimentos diversos em suas plantas.

Protocolo de saúde nas operações

As empresas que estão conseguindo manter atividades durante a pandemia aderiram ao protocolo básico das autoridades da área de saúde. Em sua grande maioria, disseminaram o uso de máscaras e a cultura da higienização pessoal, de instalações e equipamentos. Também orientaram seus funcionários a manter distanciamento nos refeitórios e locais de trabalho e passaram. Em alguns casos, passaram a fazer um revezamento nos quadros de pessoal e afastaram temporariamente pessoas associadas a grupos de risco.

Muitas empresas, como a Locar e a Makro Engenharia produziram vídeos institucionais a respeito das medidas preventivas, e a Primax elaborou um protocolo de saúde próprio, com base nas recomendações das autoridades médicas e de alguns de seus clientes. Uma providência que ainda deixa a desejar, no conjunto dessas empresas, é o investimento em testes para diagnóstico de pessoal – de resto, um problema na sociedade brasileira como um todo.

Custos com medidas preventivas

As diferentes empresas estão ainda contabilizando os custos envolvidos em todas as ações preventivas promovidas até agora para fazer face à pandemia de coronavírus. Amilcar Spinetti Filho, da Locar, diz que a dificuldade de cálculo decorre dos vários fatores envolvidos, como treinamentos, folgas, quarentena e colaboradores afastados. “Além do impacto no planejamento, por conta das constantes mudanças de condução por parte das prefeituras e governo”.

“Nós também ainda não conseguimos fechar todos os investimentos feitos, diz Adauri Silva, da Darcy Pacheco. “Não tenho como precisar o total já investido. Somente com máscaras, gastamos R$1.000,00 por semana, calcula Marcos Cunzolo. Tiago Daniel Ferezin prevê um custo mínimo aproximado de 50 a 100 mil por mês, em razão das horas ociosas de funcionários em quarentena. Na Elba, a estimativa é de um investimento de R$ 60.000,00 até o momento e, na Guindastec, de cerca de R$ 35.000,00.

O Home Office funciona no setor?

O tão propalado Home Office é viável no setor de elevação de cargas e transporte pesado?  O consenso entre empresários e executivos do setor é que essa opção é válida durante a crise atual e talvez até se consolide como uma tendência futura. Mas somente em algumas áreas específicas. Alexander Biskupski, da Bolbi, diz que as atividades administrativas e de planejamento, na medida do possível, estão sendo executadas em sistema Home Office, o que, segundo ele, “felizmente, se revelou ser bastante eficaz e produtivo”.

No decorrer da crise atual, Marcos Cunzolo acredita que o Home Office é possível, mas só para alguns departamentos ou áreas específicas. Em seu modo de entender, a áreas Financeira, de Suprimentos, Planejamento e Comercial (apoio). No Grupo Darcy, as possibilidades de trabalhar em casa limitam-se aos departamentos Administrativo, Contábil, TI, DHO e Compras. Com pequenas diferenças, o mesmo ocorre na Elba: cargos de RH, Administrativo, TI e alguns de gestão. No caso do “core” do negócio, as atividades operacionais, a opinião unânime é que não há como abrir mão do presencial.

E então, como diz Beatriz Barbosa, gestora de qualidade da Elba, não há outra alternativa, senão adotar medidas preventivas para evitar o contágio. O que significa atender às recomendações da OMS: “medição diária de temperatura na entrada da empresa e durante o expediente, uso contínuo de máscaras, higienização constante das mãos com álcool em gel disponibilizado em todos os locais de trabalho, higienização frequente das instalações e equipamentos e distanciamento físico”.

No trabalho presencial feito de forma segura, acrescenta Amilcar Spinetti Filho, também deve ser considerada a questão do transporte. “Criamos aqui na Locar várias ações, desde a disponibilidade de carros em virtude da paralisação e redução do transporte público, até mudanças nos horários, possibilitando uma exposição menor de nossos colaboradores no transporte público em horários de pico”.

Monitoramento e gestão à distância

As atividades do setor envolvem, sobretudo, o uso de veículos e equipamentos. Mas a pandemia atual ainda não potencializou o uso de ferramentas e sistemas de monitoramento e gestão à distância. Por enquanto, as empresas estão utilizando os recursos que já utilizavam anteriormente. “Temos esse tipo de ferramenta nas frotas da Darcy Pacheco, não foi necessário nenhum novo tipo de sistema”, diz Adauri Silva. “Em nossos veículos, utilizamos todas as tecnologias disponíveis nesse sentido. O que ocorreu foi um aumento na utilização do Skype e do Zoom nas reuniões”, resume Antonio Silveira,da Nextrans.

No mesmo sentido, Alexander Biskupski  afirma que a Bolbi utiliza um sistema de gerenciamento de manutenção. A diferença é que, com a pandemia, foram inseridos mais protocolos de inspeção nos check-list’s dos equipamentos. Tais como: higienização completa em todas as trocas de turno e limitação de ocupantes nos veículos.

Uma  boa notícia para os diversos fornecedores é que locadores e transportadores estão satisfeitos com o atendimento pós-venda na crise atual. “A resposta está sendo adequada, porém com maior tempo para respostas, tanto em cotações como manutenções” pondera Marcos Cunzolo.

Beatriz Barbosa acredita que a maioria das empresas têm se mostrado engajada nas medidas de adaptação à crise e estão superando as dificuldades iniciais que geraram morosidade nos atendimentos, atingindo aos poucos um ritmo satisfatório de modo geral. Tiago Ferezin lembra também que a demanda caiu bastante. E, assim, as atividades de manutenção estão sendo realizadas com critério, cuidado e segurança.

Para Amilcar Spinelli, a resposta foi muito positiva, pois a maioria dos fornecedores também estava provendo suporte e atendimento à distância. “Desse modo, ferramentas e formas de trabalho acabam sendo criadas automaticamente para que o processo flua normalmente. Impacto maior, diz Alexander Biskupski , somente quando há dependência de fornecedores que estão fechados ou que tenham baixo estoque de peças e componentes”.

Mudanças que vieram para ficar

Algumas providências tomadas durante a crise atual – como a realização de reuniões online – se revelaram positivas sob o ponto de vista econômico (redução de custos) e poderão ser mantidas no “pós-pandemia”. Nilson Rocha acredita que reuniões online se tornarão padrão no segmento, em contraponto às viagens, que  devem diminuir bastante.

As vantagens são evidentes, como a redução de custos e tempos com deslocamento, participação de diversos setores em diferentes locais e a geração de uma ata eletrônica de protocolo (evidências).  “As reuniões via teleconferência se tornaram um hábito diário e impactaram em uma economia significativa de HH e valor de passagem durante estes três meses de pandemia”, confirma Adauri Silva.

Julio Apolinario diz que a Primax está avaliando se irá manter as reuniões online no “pós-pandemia”. “Tivemos bons resultados na área administrativa, porém, como os nossos serviços dependem muito de customização, as atividades principais ainda precisam ser presenciais. Denys Garzon Rodrigues, explica: “Em reuniões técnicas e operacionais, a presença física continua sendo fundamental”.

Perspectivas diante da crise atual

Para Antonio Silveira, da Nextrans, as perspectivas são positivas para quando os projetos retornarem à sua normalidade. “Nossa estratégia de endividamento tem sido muito conservadora nos últimos anos, portanto temos condições de manter as atividades dentro da normalidade por um longo período de tempo”. Alexander Biskupski, da Bolbi, é dos que acreditam que as crises geram oportunidades de aprendizado. “Quem sabe esta não é a oportunidade que estava faltando para desburocratizar um pouco a vida de quem produz e o Estado reduzir um pouco o atrito na economia?”.

Para Marcos Cunzolo, o mais difícil é adequar os custos a uma demanda muito instável. “Acredito que, nos próximos seis meses, ainda será necessário manter a equipe reduzida, mantendo-se a empresa no ponto de equilíbrio. Sem comprometer as atividades essenciais que garantem a segurança das operações (manutenção dos equipamentos, acessórios, treinamentos)”.

Adauri Silva, da Darcy Pacheco, mantém sua confiança no  potencial do Brasil. “Estamos bem posicionados para seguir as nossas atividades, mesmo com a continuidade da pandemia por um longo período”. Para Beatriz Barbosa, da Elba, a normalidade só se restabelecerá com resultados de saúde satisfatórios, “com a redução significativa da disseminação do vírus, a partir das restrições sociais e demais medidas a serem seguidas pela população para retorno gradativo das atividades”.

Tiago Ferezin espera que, diante das crises que o Brasil vem enfrentando, sanitária, econômica e política, haja uma retomada a partir de julho de 2020, “evitando ainda mais um causa social e podendo até fechar mais empresas e postos de trabalhos”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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