O EFEITO DO VENTO NAS OPERAÇÕES DE IÇAMENTO

O EFEITO DO VENTO NAS OPERAÇÕES DE IÇAMENTO

Por Camilo Filho (*)

Ao olhar as causas reais ou potenciais de acidentes nos içamentos, o fator vento é frequentemente subestimado ou negligenciado. A experiência da maioria das pessoas é que o vento é um incômodo, movendo folhas e lixo, mas nunca causando uma situação de risco, exceto em condições de tempestade.A razão é que nós, seres humanos, somos muito densos, pois temos um peso elevado com relação à nossa área de superfície.

Entretanto, com guindastes e operações de levantamento, existe um potencial significativo para acidentes devido às cargas de vento. Os efeitos do vento em guindastes podem ser diretos ou indiretos. Os efeitos diretos são os que têm potencial capaz de afetar a estabilidade e/ou a integridade estrutural do guindaste, enquanto os efeitos indiretos são as forças do vento que fazem com que a carga no gancho se mova de repente. Isto por sua vez pode ocasionar a queda de material sobre pessoas, estruturas ou do próprio guindaste.

Embora não pareça, o ar pesa! 1 m³ de ar pode ser considerado para efeito de cálculo como pesando 1,25 kg. Quando o vento sopra, as moléculas dos gases que compõem o ar são movidas a uma certa velocidade e ganham energia cinética. Quando o vento encontra um obstáculo, aquela energia é transformada em pressão do vento ou força por unidade de área.

Em termos gerais a relação entre pressão do vento (P) e a velocidade do vento (Vv) é a seguinte:

P=Kx(Vv)², onde K é um fator relacionado com a densidade do ar, o qual para efeito de projeto é considerado constante. A pressão do vento (P) é dada em N/m² e a velocidade (Vv) em m/s. Como é uma relação ao quadrado, é óbvio que se a velocidade do vento dobra, a pressão aumenta quatro vezes!

Daí concluímos que um pequeno aumento na velocidade do vento, pode ter um efeito significativo na sua força e na estabilidade da carga e da máquina.

Uma vez que a pressão do vento é conhecida para uma dada velocidade, a força do vento agindo sobre um guindaste especifico pode ser calculada pela multiplicação da pressão pela área dos componentes do guindaste expostos ao vento.

Na verdade, o cálculo é um pouco mais complexo, porque temos que levar em consideração além da área, o coeficiente de forma (Cw) da estrutura que estamos analisando.

Um instrumento chamado anemômetro é utilizado para se medir a velocidade do vento. Normalmente, nas tabelas de carga dos vários fabricantes constam as velocidades admissíveis de vento para aquela determinada configuração. Porém, estas velocidades foram estabelecidas segundo um padrão e, quando nossa carga está acima deste padrão, temos que calcular a velocidade máxima permitida ou admissível para esta operação especifica.

É usual como procedimento em içamentos em terra (Onshore) que ventos entre 32 km/h e 47,9 km/h obriguem-nos a reduzir a velocidade de todos os movimentos para o mínimo e aplicarmos uma redução nas cargas tabeladas.

Por sua vez, ventos de 48 km/h ou acima, fazem com que a operação seja interrompida e preferencialmente que abaixemos as lanças.

Alguns dos problemas a considerar quando nos depararmos numa condição de vento durante a operação:

A geometria e formato da carga.
Há uma grande área da carga exposta ao vento?
Que dificuldade teremos em controlar a carga se uma rajada de vento ocorrer?

Qual é a altura de içamento da carga?
A velocidade do vento normalmente aumenta com a altura.

Estabilidade traseira.
Estabilidade traseira pode ser um problema quando o vento é frontal à maquina e temos uma lança muito comprida.

Vento por detrás da maquina.
Vento vindo da traseira da máquina, pode fazer com que a carga mova-se para frente, aumentando o raio e automaticamente diminuindo a capacidade do guindaste.

ilustracao-vento detras do guindaste

Vento lateral ao guindaste.
Vento vindo de lado, pode fazer com que a maquina sofra carga lateral, o que é extremamente perigoso para o guindaste.

vento-acidenteguindaste

Operando o guindaste entre estruturas.
Operar um guindaste entre edifícios ou estruturas sob condições de ventos fortes pode ser muito perigoso devido ao efeito “túnel de vento”.

Conforme o vento sopra em torno das obstruções, podem haver áreas localizadas de aumento de velocidade, que podem exceder o limite de segurança pré estabelecido pelo estudo de rigging, mesmo embora a velocidade do vento no geral não seja um problema.

Não assuma que velocidades do vento inferiores a 32 km/h são uma garantia de segurança. Quanto mais alto você estiver, mais vulnerável você estará!

Que bons ventos os guiem!

(*) Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com 38 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é consultor da IPS – Engenharia de Rigging, é também membro da ACRP (Association of Crane & Rigging Professionals-USA).

Leia mais Dicas do Camilo sobre içamentos de cargas

 

2 comentários em “O EFEITO DO VENTO NAS OPERAÇÕES DE IÇAMENTO

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