É RAZOÁVEL TESTAR OS GUINDASTES COM SOBRECARGA?

É RAZOÁVEL TESTAR OS GUINDASTES COM SOBRECARGA?

Por Camilo Filho (*)

No começo deste mês, tive uma conversa com um amigo, também da área de guindastes, que ficou bastante tempo fora do Brasil; e ele me contou que, trabalhando na África com um engenheiro inglês, este solicitou que fossem feitos dois testes com o guindaste antes do içamento e locomoção de uma turbina. O primeiro teste requeria que a máquina de esteiras, uma Liebherr no caso, andasse com um bloco de concreto para verificar o quão lentamente conseguiria transportar a turbina. Penso que a preocupação era com a carga dinâmica a qual a turbina seria submetida.

Um segundo teste previa uma sobrecarga no guindaste para, segundo ele, garantir qualquer imprevisto durante o içamento. Esse procedimento foi muito usado no passado, porém, hoje só é utilizado caso o guindaste tenha sido submetido a um grande reparo ou reforma.

Critérios dos fabricantes para testes de guindastes

Cada guindaste é testado pelo fabricante antes da entrega em um procedimento de aceitação final. Estes testes são realizados com cargas de teste aferidas em várias configurações correspondentes a situações com menores margens de segurança em relação à resistência mecânica e estabilidade do guindaste; incluem sobrecarga intencional em condições definidas e de acordo com as normas pertinentes.

Como dito anteriormente, outros testes de aceitação com sobrecarga durante a vida útil do guindaste só devem ser realizados em caso de modificação ou reparo de peças ou subconjuntos relacionados diretamente com a segurança (um exemplo seria o recondicionamento do guincho) ou em caso de reforma geral. A legislação de alguns países pode exigir testes periódicos com sobrecarga e/ou testes de sobrecarga, antes da execução de trabalhos de içamento, toda vez que a configuração do guindaste é alterada. Vale ressaltar que essa prática é abominada pelos fabricantes.

O cálculo da estrutura de carga dos guindastes móveis está em conformidade com todas as normas internacionais relevantes (EN, ISO, FEM, etc.) e não prevê a operação em ciclo repetitivo de serviço. O guindaste, trabalhando como guindaste, não é uma máquina de produção – seus movimentos devem ser lentos e suaves. Portanto, os guindastes têm uma vida útil definida, com base em uma série de ciclos de trabalho com cargas permitidas (definidas pela tabela de carga).

Dar sobrecarga nos guindastes é proibido por lei

Qualquer sobrecarga do guindaste pode ter um efeito acelerador na deterioração do equipamento e, consequentemente, reduzir sua vida útil. Isso pode se tornar um aspecto preocupante se o guindaste for testado com sobrecarga antes de cada trabalho de içamento (por exemplo, construir parques eólicos com 80-100 torres em um site dentro de algumas semanas …).

Dar sobrecarga nos guindastes é proibido por lei; dispositivos de segurança, tais como o LMI ou RCL, evitam sobrecarga e a chave do “by-pass” deve ser usada exclusivamente em situações de emergência ou montagem do jib por exemplo. Esse procedimento é claramente especificado no manual do equipamento e nas normas internacionais.

A FEM (Fédération Européenne de la Manutention) como associação europeia de fabricantes de guindastes móveis, não promove o uso regular da chave do “by-pass” para realizar testes de sobrecarga, e não recomenda testes regulares de sobrecarga, incluindo testes em que a carga de teste é aplicada por meios externos, sem o uso da dita chave.

Os fabricantes de guindastes móveis representados pela FEM claramente querem evitar testes de sobrecarga, porque isso reduz a expectativa de vida dos guindastes.

Os seguintes aspectos também devem ser considerados do ponto de vista do usuário/contratante:

  • Planejamento do trabalho: aumento da pressão no solo em relação ao plano de rigging; dificuldades no manuseio de carga de teste adicional; proibição por algumas indústrias (por exemplo, plantas petroquímicas) de se realizar qualquer teste de sobrecarga em seu site.
  • Segurança do trabalho: isolamento adicional da área; os trabalhadores no entorno do guindaste devem ser avisados sobre o procedimento e evacuados da área durante o teste.

Falhas estruturais podem ser resultado de trincas resultantes da sobrecarga e/ou fadiga e tais defeitos não serão identificados por um teste de sobrecarga. Assim, o teste de sobrecarga pode dar uma falsa sensação de segurança aos proprietários e contratantes.

Para garantir a integridade estrutural do guindaste, recomendam-se exames minuciosos após cada situação de sobrecarga e antes da execução de trabalhos de içamento. Tal exame é uma inspeção visual combinada com testes funcionais (incluindo os dispositivos de segurança) e pode exigir testes não destrutivos, como partícula magnética ou testes ultrassônicos. Qualquer defeito ou observação durante a inspeção precisa ser avaliado por uma pessoa competente para decidir se o içamento pode ser executado com segurança ou se um reparo ou modificação imediata são necessários.

(*) Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com 38 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é consultor da IPS – Engenharia de Rigging, é também membro da ACRP (Association of Crane & Rigging Professionals-USA). Contato: camilofilho@ips.com.br

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* Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com mais de 39 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é autônomo e consultor da IPS Engenharia de Rigging. Sugestões e comentários enviar para camilofilho@hotmail.com.

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