Em sua apresentação no webinar Rigging Experts, há dois anos atrás, o engenheiro Camilo Filho, consultor da IPS Engenharia, deu, sem exagero, uma verdadeira aula sobre o uso de cabos de aço e suas terminações nas operações de içamento de cargas. São lições que, disponibilizadas no canal do Youtube da Crane Brasil, certamente se tornarão uma fonte de consulta permanente a todos os profissionais da área.
Como toda aula, a apresentação não dispensa as preliminares conceituais, a exposição didática de cada produto e, no caso de Camilo Filho, especialista com quase quatro décadas de experiência em operações de içamento no Brasil e no exterior, uma abordagem prática, com exemplos de situações reais, vivenciadas no dia a dia pelos profissionais da área.
A questão dos cabos de aço, que tem sido objeto dos mais recentes artigos publicados por Camilo Filho na revista Crane Brasil, tem ocupado sua atenção por sua importância central na eficiência e segurança nas operações de içamento. Fazendo coro a alguns autores norte-americanos, o especialista considera o cabo de aço como um ‘equipamento’. “Isso porque, quando você tensiona, ele se movimenta; quando você alivia a carga, ele retorna. Ou seja, há movimento entre os arames. Tanto que também temos que lubrificar o cabo de aço, para evitar o desgaste e, obviamente, por conta da corrosão”.
Só que, como lembra Camilo Filho, o cabo de aço, por si só, não é tão útil. Porque não existe uma aplicação somente para o cabo de aço. “Ele precisa ter algum tipo de terminação ou acessório. Nem que seja uma ponta chanfrada na cunha para entrar, por exemplo, na cunha do guincho”. Tomando por base a linha da Crosby, que ele considera referencial e, inclusive usa em seus programas de treinamento, Camilo apresentou os tipos de terminações mais usuais dos cabos de aço e suas diferentes aplicações: ponta morta do cabo, sapatilho, soquetes, grampos para cabos de aço, anilhas de aço para prensagem, soquetes para prensagem, gancho para prensagem, soquetes chumbados/resinados, e cabos terminados com acessórios diversos para içamento de cargas.
Antes, porém, ele explicou como o catálogo dos fabricantes costuma trazer, além das especificações técnicas, informações adicionais que garantem ao usuário o compromisso do fabricante, com aquelas mesmas especificações, normalmente gravadas em alto relevo em cada produto. São os símbolos ou selos que aparecem no catálogo, tais como, no caso da Crosby: Quic-Check (marcadores que mostram se o produto está dentro da tolerância de uso); Load Rated, que indica que a capacidade, o WLL (carga limite de trabalho), marcada de forma permanente no produto; Fatigue Rated (fadiga melhorada, comprovada em testes em condições reais); QT (Quenched Tempered), um indicador de que o acessório foi submetido a um tratamento térmico. E, finalmente, TA (Type Aprroved), uma chancela de aprovação de várias organizações internacionais, como ABS e API, por exemplo.
Na apresentação, Camilo Filho detalha, uma a uma, as principais terminações e acessórios, bem como os critérios que devem ser levados em conta, segundo a aplicação e a tarefa em que serão usadas. Sempre referenciado por sua experiência de campo, pode-se destacar aqui algumas lembranças e recomendações fundamentais:
- Sempre que uma conexão obrigue uma mudança de direção do cabo, há perda de eficiência;
- A única conexão que atinge 100% de eficiência é a terminação do tipo soquete, aquela travada com resina ou chumbada, como era chamada antigamente;
- Uma terminação com 80% de eficiência significa que somente esse percentual da carga de ruptura do cabo vai estar disponível para aplicação de acordo com a montagem que foi executada;
- O limite de carga (WLL) é uma função do elemento que possuir a menor capacidade;.
- Cada tipo de terminação pode afetar a resistência do cabo, para mais ou menos, dependendo da terminação;.
- Apenas cabos de aço resistentes à rotação devem ter terminações soldadas, porque esse processo restringe o movimento dos arames.