A TORÇÃO DOS CABOS DO MOITÃO COM LANÇAS LONGAS

A TORÇÃO DOS CABOS DO MOITÃO COM LANÇAS LONGAS

Por Camilo Filho (*)

Carlos, um amigo operador de guindastes, estava na obra operando a máquina e, ao abrir todo o comprimento de lança, notou que o moitão começou a girar, fazendo com que os cabos de carga se enrolassem entre si. Ele entrou em contato comigo para perguntar porque aconteceu isso e, o mais importante: o que fazer para reverter a situação. Em face disso, resolvi fazer este artigo, uma vez que esse fenômeno não é tão incomum.

O FENÔMENO

A torção do cabo de carga do guindaste, e a consequente rotação do moitão, é um dos problemas mais frequentes relacionados ao cabo de carga que encontramos nas obras; ocorre quando temos várias pernas montadas e em uma determinada altura os cabos se enrolam entre si, ou seja, torcem entre o moitão e a cabeça da lança. Isso pode acontecer sem aviso prévio e torna impossível içar ou baixar uma carga suspensa, devido ao dano a que estará submetido o cabo de aço.

Normalmente o cabo de aço é culpado pelo problema, mas outros fatores importantes diretamente relacionados, podem ter sido negligenciados.

Esse fenômeno, faz com que a operação do guindaste seja suspensa até que se restabeleça a condição normal de operação. Obviamente, isso irá afetar o cronograma da obra, resultando em tempo de inatividade da máquina e equipe. Porém existe solução: você pode minimizar a rotação do moitão seguindo procedimentos pertinentes de manuseio e instalação. Também podem ser tomadas medidas corretivas, caso já esteja ocorrendo a torção dos cabos.

ENTENDENDO TORQUE NO CABO

Todo cabo de aço, independentemente do tipo, classificação, grau ou fabricante desenvolverá torque quando tensionado. O torque é normal e natural, causado pela forma como os cabos de aço são fabricados. Os arames são primeiro colocados juntos em uma espiral para formar as pernas e em seguida, várias pernas são colocadas juntas em uma espiral para formar o cabo.

Quando tensionados, os fios e as pernas tentam se endireitar ou melhor dizendo, reverter a torção a que foram submetidos no ato da fabricação do cabo, criando assim torque, o que num sistema com várias passadas de cabo, submetidas a um carregamento alternante (iça a carga = tensionado, apoia a carga = aliviado), resultará na rotação do moitão e possivelmente na distorção do próprio cabo.

Outra fonte de torque é qualquer mudança no comprimento do passo do cabo. Isso normalmente é causado por rotação no final do cabo. O torque em um cabo afeta a tendência do moitão em manter-se balanceado e faz com que este gire em torno do seu eixo vertical. Assim, é importante minimizar qualquer torque.

O QUE PODE SER FEITO PARA MINIMIZAR ESTE FENÔMENO?

Existem algumas ações que podem ser tomadas, de forma a minimizar este efeito, na sequência seguem algumas delas:

  • Primeiro o mais simples e fácil de fazer: Soltar o soquete do ponto fixo e gira-lo na direção oposta à torção do moitão. Quando o moitão está girado com 1/2 volta, gire a cunha 180°. Se o moitão estiver torcido com 3 voltas completas, gire o soquete 3 vezes em torno de si mesmo contra a direção da rotação. Recoloque o soquete e sem carga, apenas com o peso do moitão, que deve ser mantido próximo do solo, vá abrindo a lança até que o máximo de cabo esteja pendurado na cabeça da lança. As torções estarão agora, distribuídas por todo o comprimento do cabo e significativamente reduzidas. Se o moitão ainda gira, este processo deve ser repetido.
  • Quando tensionado, o cabo terá uma tendencia natural a se desenrolar, a menos que ambas as extremidades do cabo estejam protegidas contra rotação (travadas).
  • Evite finalizar o cabo de carga no moitão, pelo contrário faça número de pernas pares e terminando o cabo na cabeça da lança.
  • Use um moitão com polias maiores para aumentar o espaçamento entre os cabos. À medida que o diâmetro das polias do moitão aumentam, as chances de rotação do bloco são reduzidas.
  • Use as polias mais afastadas do centro do moitão (as da extremidade) e da cabeça da lança.
  • O comprimento das pernas ou a distância do moitão até a cabeça da lança, é crítico. Comprimentos de pernas muito longas são menos estáveis e mais propensos a fazer com que o moitão gire.
  • Evite números impares de pernas.
  • Use um cabo guia para ajudar a restringir o moitão e evitar que a carga gire.
  • Use uma construção de cabo diferente. Os cabos padrão de 6 pernas não fornecem nenhuma resistência à rotação. Existem diferentes níveis de resistência à rotação que podem ser obtidos a partir de cabos especiais.
dicas84
A foto acima foi tirada pelo Carlos de dentro da cabine e é a que originou este artigo!

Para evitar este contratempo, parada da máquina e perda de tempo  na obra, nos meus treinamentos para operadores, eu ensino além do prático, o método matemático que avalia se o moitão terá ou não tendencia a girar de acordo com a geometria das passadas escolhidas.

camilofilho* Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com mais de 39 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é autônomo e consultor da IPS Engenharia de Rigging. Sugestões e comentários enviar para camilofilho@hotmail.com.

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