UM BALANÇO DE 2020 E AS PERSPECTIVAS PARA 2021

Por Redação Crane Brasil

O ano de 2020 “foi um ano de extremos. Começou estável e, a partir de março, em função da pandemia, foi marcado por uma retração muito forte, que só iria reverter, em uma retomada, a partir de julho e, mais acentuadamente, em agosto. A partir daí, caracterizou-se por um crescimento acentuado nas atividades, em particular no último trimestre do ano”. A leitura precisa do ocorrido em 2020 é de Eduardo Almeida, gestor de custos e orçamentos da Elba Equipamentos e Serviços, de Minas Gerais. E coincide com a opinião da maioria dos executivos e empresários do segmento de elevação de cargas, trabalho em altura e transporte pesado ouvidos na enquete realizada pela Crane Brasil, no mês de novembro.

Há, claro, algumas vozes divergentes. Em Minas Gerais mesmo, Leandro Cesar Batista, gerente de projetos da Bolbi Movimentação de Cargas, afirma que, nos primeiros quatro meses do ano, houve até um aumento de serviços, mas isso decorreu dos processos de manutenção das plantas industriais. “A redução nos processos de produção são grandes janelas de oportunidade para algum tipo de upgrade, ou grandes paradas de manutenção”, lembra ele.

Marcelo Mari
Marcelo Mari

Na mesma linha, Marcello Mari, diretor da Locar Guindastes e Transportes confirma que, diante da pandemia, “muitas empresas aproveitaram para fazer programas de manutenções nas plantas industriais, “o que realmente acabou equilibrando um pouco a nossa receita, comprometida pela paralisação de algumas obras, principalmente no primeiro semestre”. Os serviços de manutenção, segundo ele, foram providenciais, até que a empresa chegasse ao último trimestre, “com carga total”.

 

Nilson-Guindastec
Nilson Rocha

Evidentemente que há percepções diferentes, dependendo do impacto da pandemia nos diferentes contratos que estavam sendo atendidos. Para Nilson Rocha, diretor da Guindastec—Guindastes e Serviços Técnicos, o ano de 2020 foi surpreendentemente bom e o melhor dos últimos cinco anos, apesar da pandemia. “Só no primeiro mês de pandemia, março, em que algumas obras não sabiam direito se iriam parar ou não, é que houve uma diminuição na demanda, mais logo após o governo ter considerado o setor de transporte e de construção civil como prioridade, tudo recomeçou”.

Não foi o que ocorreu, por exemplo, com outra grande locadora sediada em São Paulo, a Guindastes Tatuapé. Na segunda quinzena de março, diz Marcelo Monteiro, gerente comercial da empresa, uma das referências de planejamento do segmento – o de ter de 70 a 80% da frota alugada e de 20 a 30% em disponibilidade ou trânsito entre obras – se reverteu.

Marcelo Monteiro
Marcelo Monteiro

“Ocorreu uma devolução generalizada de todos os clientes, para aqueles recursos que estavam alugados. E a nossa equação permaneceu, até meados de agosto de 2020, completamente invertida”. Pelo fato de terem ficado, como diz, “praticamente hibernados nos meses de abril, maio, junho, e julho”, em termos de locação, faturamento e rentabilidade, o ano de 2020 será infinitamente inferior ao dos anos anteriores. “Esses meses de recuperação agora, setembro, outubro, novembro e, provavelmente, dezembro, não serão, com certeza, suficientes para compensar a perda que todos tivemos’.

 

 

“Stop- and- Go”

O clima de incerteza e o desquilíbrio acentuado de atividades durante o ano também gerou outros problemas. A Montcalm Montagens Industriais iniciou o ano com serviços contratados que apontavam para um aumento da ordem de 20%, tanto no fornecimento de mão de obra quanto na taxa de ocupação de seus guindastes, basicamente utilizados em sua demanda interna. Com a retomada mais significativa em junho, os clientes definiram metas e prazos, bem como novos procedimentos operacionais que não foram fáceis de serem alcançados.

O maior desafio, diz Paulo Simonsen, diretor executivo da empresa, foi aumentar o efetivo humano e os insumos necessários. “Dada à urgência em por em marcha os serviços que estavam em andamento, houve necessidade de aumentar em aproximadamente 30% o pessoal nas montagens, comparando com as projeções feitas no início do ano”. Isso, em plena pandemia. O mesmo problema foi vivenciado pela Elba Equipamentos e Serviços. Além da dificuldade com contratação de mão de obra, diz Eduardo Almeida, a própria aquisição de equipamentos também foi prejudicada.

paulo simonsen
Paulo Simonsen

“O ano começou com dólar a quatro reais e, depois chegou a R$ 5,50. E, como muitos de nossos equipamentos são importados, os preços aumentaram e a gente não consegue repassar essas margens para o cliente final”. Até mesmo com os caminhões, fabricados no Brasil, houve problema. “Eles também aumentaram os preços e postergaram a entrega para 2021, porque a produção foi comprometida pela pandemia”. De qualquer modo, diz ele, “é um ano que está terminando com uma expectativa boa em relação a 2021”.

 

Os grandes projetos

“Nós iniciamos o ano com quatro grandes projetos e outros em fase de estudo”, diz Rodrigo Cruz, gerente de operações Brasil Lau Rent. A pandemia, segundo ele, gerou “uma leve turbulência nos projetos em execução, mas nada que comprometesse a operação no total, e somente postergou o início dos demais. “Entendemos que a crise acabou desencadeando a oportunidade de reinvenção de revisão de processos internos com foco na gestão enxuta”.

“2020 foi um ano de muito trabalho, nossas atividades foram contínuas, apesar do problema da pandemia mundial, essa questão de isolamento e dificuldade de deslocamento, de contato com pessoas”, diz Edvaldo Peixoto, diretor da IPS Engenharia. “Pegamos esses grandes projetos que estão em andamento no Brasil, participamos efetivamente e ficamos com um saldo positivo ao término de 2020”.

A Bolbi Movimentação de Cargas, diz Leandro Batista, também teve que se reinventar e se beneficiou, no segundo semestre, do aumento na demanda em dois setores chave da economia: a mineração e a siderurgia. “Não somente os descomissionamentos das barragens de rejeitos, como grandes empreendimentos, quer dizer, o aumento das plantas de beneficiamento e filtragem, para aproveitamento do próprio rejeito em si”.

A questão dos preços

Um aspecto positivo nessa retomada, a partir de agosto, foi uma pequena recuperação dos preços dos serviços de locação. A boa e velha lei da oferta e da procura, já que a paralisação dos trabalhos nos meses anteriores gerou um acúmulo na demanda e os locadores começaram a esvaziar os seus pátios. Os valores ainda estão aquém das necessidades do segmento, mesmo porque, como lembra Marcelo Monteiro, da Guindastes Tatuapé, houve uma queda substancial com o início da pandemia e os valores já estavam muito achatados, por conta da retração dos últimos anos.

Ricardo Scher
Ricardo Scher

“Nos empenhamos em 2020 justamente em manter os nossos preços sadios financeiramente, porém sempre competitivos, e não entramos na onda de baixar preços”, diz Ricardo Scher, gerente comercial da Vertical Equipamentos, da Bahia.”Nós temos uma estrutura muito grande e, para mantê-la, nós conservamos a nossa política de não assumirmos custos operacionais que não são de nossa responsabilidade e sim de responsabilidade dos clientes”. Desse modo, diz Scher, mesmo com os serviços reduzidos devido ao problema da pandemia e à falta de projetos na Bahia, a empresa conseguiu atingir a meta planejada para o ano.

Nilson Rocha, da Guindastec, confirma a reação de preços de locação no mercado. O que foi importante não somente para remunerar os custos adicionais que as empresas tiveram com as medidas preventivas, mas também como uma sinalização importante.É o que nosso setor precisa. Então, demos o primeiro passo, sim, para conseguir comprar máquinas novas, equipamento novo”. Mais do que dos contratantes, no entanto, os preços praticados dependem dos próprios locadores.

Nós precisamos nos apoderar do valor que têm os serviços de alto nível prestados pelo segmento”, diz Celso Masson, diretor da Cetramaq e da Diretoria de Transporte de Máquinas do SETCESP. Ele lembra que a planilha referencial do segmento já consta do sistema oficial da NTC & Logística. “É um trabalho de longa data, baseado em custos reais fornecidos pelos próprios locadores e referendado pelo departamento de economia do sindicato, mas é preciso que haja maior adesão dos empresários do setor”.

Talvez, como diz Fábio Gaeta, diretor da Transdata e vice-presidente do SINDIPESA, a “paralisia das atividades em parte do ano, a desvalorização do real e o cenário de medo e muito custoso para as empresas, decorrente da pandemia, possam fazer de 2020 um ano de aprendizado para o setor”.

Perspectivas para o ano de 2021

A surpreendente reação no decorrer do ano, e o ritmo de atividades no último trimestre, fez renascer o otimismo entre os executivos e empresários do segmento, como costuma ocorrer em todo final do ano – como na passagem de 2019 para 2020, por exemplo. Claro que há sempre o temos de um recrudescimento da pandemia, embora, agora, as empresas já estejam preparadas e há também uma grande esperança com a imunização que poderá ocorrer com a vacinação em massa da população.

Celso Masson
Celso Masson

O fato é que, além das obras em curso, projetos não faltam e muitos foram postergados exatamente para 2021. Uma frase de Celso Masson, diretor do SETCESP,  talvez sintetize a expectativa da maioria: “A gente logicamente sempre espera um ano melhor e que, ao contrário de 2020, consigamos trabalhar os 12 meses do ano”. “As demandas represadas por questões macroeconômicas e políticas, que foram potencializadas pela pandemia, inevitavelmente vencerão a inércia no curto prazo”, acredita Rodrigo Cruz, da Brasil Lau Rent.

“Tem muito projeto em andamento, muita cotação, e obras começando. E, depois de começarem, é difícil os investidores programarem o investimento e voltarem atrás”, diz Nilson Rocha, da Guindastec. “Nós estamos prevendo aumento na receita no ano que vem. E talvez até ampliação de frota. Estamos numa linha ascendente que eu acho que não tem volta”.

“Alguns clientes já nos sinalizaram para o advento de novos contratos e investimentos. Epercebemos crescimentos animadores, não só na indústria, mas também no comércio, construção civil”, diz Leandro Batista, da Bolbi Movimentação de Cargas. Na mesma linha, Edvaldo Peixoto, da IPS Engenharia, acredita em um novo ano promissor. Os projetos que estão em andamento continuarão a todo vapor. E outros novos estão por vir. E projetos de grande porte, o que implica em um trabalho de engenharia bastante elevado e qualificado.”

“Nós esperamos que todas essas demanda que foram represadas em 2020 continuem sendo liberadas e permanceçam sustentando as operações e aos recursos em disponibilidade no mercado”, diz Marcelo Monteiro, gerente comercial da Guindastes Tatuapé. Ele lembra que mesmo em um ano atípico como 2020 a locadora adquiriu novos guindastes. “Estamos otimistas e que possamos manter noss programação de investimentos para o ano que vem”.

Ricardo Scher, da Vertical Equipamentos, diz que a locadora já tem compromissos fechados até maio de 2021e que a perspectiva da empresa é a melhor possível. Estamos desde já implementando inovações, mantendo o foco em nosso planejamento, e tomando ações para que possamos atingir também as nossas metas em 2021

Eduardo Almeida, da Elba Equipamentos e Serviços, lembra que há uma expectativa  de crescimento do PIB de 2 a 3% e que a vacinação se inicie logo no começo do ano. A sua única preocupação diz respeito ao ambiente político, cuja estabilidade é fundamental para a atratividade de capital internacional. “O Brasil depende de investimento externo para os projetos grandes acontecerem. E são esses projetos que geram muitas concorrências de movimentação.”.

É que pensa também Paulo Simonsen, da Montcalm Montagens Industriais. “Trabalhamos em um segmento que é afetado diretamente por instabilidades nacionais e mundiais, visto que basicamente nossa prestação de serviço depende de investimento em novas fábricas ou em modernização de instalações existentes”. De qualquer modo, fiz ele, a empresa, com 50 anos de atividades, tem contratos firmados que garantem a mobilização de sua frota. “Tenho certeza que cruzaremos essa turbulência e que poderemos investir na aquisição de novos equipamentos, senão em 2021, em 2022

“Há cenários de incerteza, mas deve existir uma retomada sem dúvida.O país não investe nada há muito tempo. O segmento andou cinco anos para trás e esperamos que em 2021 isso mude”, diz Fábio Gaeta, da Transdata e SINDIPESA. Marcelo Mari, da Locar, tem a expectativa que o ritmo de atividades do último trimestre deste ano possa ter sequência em 2021. “Estamos otimistas com a retomada de alguns negócios, investimos em 2020 e já planejamos alguns investimentos no ano que vem.”

Saiba também quais são as perspectivas dos principais fornecedores do segmento

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