DESAFIOS E SOLUÇÕES NO SEGMENTO EÓLICO

O crescimento sem precedentes da matriz eólica e o aumento gradativo de instalações e componentes, exigem resposta rápidas – do ponto de vista de projeto, tecnológico e operacional. Um evento com duração de apenas um dia foi suficiente para demonstrar a preocupação atual do segmento de energia eólica com a segurança nas operações de transporte e içamento de turbinas e demais componentes.

Realizado em Hamburgo, na Alemanha, dia 6 de março e, por acaso, em uma escola de direito, a Bucerius Law School, o seminário “Segurança e padrões na implantação de parques eólicos on-shore” reuniu representantes convidados da associação européia de transportes especiais (ESTA) e da federação européia de manuseio de materiais (FEM) – incluindo todos os participantes dessa indústria: contratantes de serviço, transportadores e locadores de equipamentos. Também deu suporte ao evento a VDMA Power System, divisão da associação de indústrias da Alemanha que tem entre seus membros muitos fabricantes de componentes eólicos e de equipamentos utilizados nesse setor.

Os aspectos relativos à segurança foram compartilhados por todos eles – sem exceção. Primeiro porque, a matriz eólica cresce sem precedentes em todo mundo – no Brasil, inclusive (confira os números atuais na seção Telescópio desta edição). De acordo com o Conselho Mundial de Energia Eólica (GWEC), em 2017, mais de 50 gigawatts de capacidade de energia eólica foram adicionados em todo o mundo. Segundo, pelas particularidades que caracterizam a implantação de parques eólicos em larga escala, que exigem novos padrões e metodologias de trabalho.

A competitividade da geração eólica é dada pelo seu inegável apelo ecológico –  por gerar energia a partir de fonte renovável – mas também porque sua implantação não é inviável do ponto de vista econômico. Para tanto, seu projeto, desde o início, deve priorizar a máxima eficiência – não é a toa que as concessões são obtidas em todo o mundo, via de regra por meio de leilões reversos, saindo-se vencedoras as propostas com menor custo. Do ponto de vista dos consumidores, isso é ótimo, mas a indústria de fabricantes de turbinas e componentes tem que dar o seu jeito. E tem dado.

À parte as inovações e o desenvolvimento contínuo, um aspecto bastante visível dessa evolução é fato de que as turbinas e as nacelles  estão ficando cada vez maiores, as torres mais altas e as pás mais compridas. E, ao contrário do que se imagina, não há nenhum limite para o aumento dessas dimensões à vista. Pelo contrário, a pergunta no segmento é: onde isso vai parar?. “Há poucos atrás, usar guindastes de grande porte no máximo de suas capacidades era uma exceção e não a regra do dia a dia, como ocorre hoje no segmento eólico”, lembrou  Søren Jansen, diretor da ESTA. Especialistas do setor reservadamente estimam que estejam ocorrendo, em média, dois acidentes por mês. “É uma situação que tende a piorar”, alertou Jansen. “Os fabricantes já estão falando em torres com 200 m de altura e até maiores”.

Outro complicador, segundo David Collet, transportador e presidente da ESTA, é que as condições de solo, a qualidade das estradas de acesso e as especificações técnicas dos componentes eólicos variam bastante de projeto a projeto. “Estamos convencidos de que devemos estabelecer padrões comuns que não irão somente aumentar a segurança, mas resultarão em maior eficiência, o que irá beneficiar todos os envolvidos, incluindo desenvolvedores de parques eólicos e os fabricantes”.

O primeiro passo, disse Collet, é que as atividades de içamento e transportes já sejam consideradas no projeto dos parques eólicos. As estradas internas,  exemplificou ele, poderiam ser planejadas para reduzir curvas fechadas. Falta espaço do mesmo modo para montagem e desdobramento dos guindastes. Os componentes também deveriam oferecer condições de melhor amarração para garantir um trânsito seguro em trechos com declives. Ele alertou que, embora existam normas ISO para a construção de estradas, não há atualmente nenhum padrão para estradas adequadas para o transporte de turbinas. E aqui cabe um comentário: se não existem na Europa, imagine no Brasil e América Latina….

David Collet também fez referência aos equipamentos de transporte e içamento. No primeiro caso, ele  chamou atenção para o fato de que vários desenvolvimentos foram feitos nos semirreboques quando o tamanho das pás eólicas atingiram 55 m – e que agora, quando se fala em 80 m, novas soluções serão necessárias.

É interessante notar que, além dos fabricantes de equipamentos de elevação transporte, os próprios contratantes de serviço e fornecedores de componentes eólicos estão atentos a esse desafio. Hans Henrik Gron, diretor de logística de energia renovável da Siemens Gamesa, por exemplo, apresentou no evento alguns novos recursos que deveriam ser incorporados às carretas de transporte – com base em uma projeção de que os tamanhos dos componentes deverão aumentar, a médio prazo, para 170 m (diâmetro total das turbinas) e 75 m (comprimento das pás). Ele propõe um kit para fixar e proteger a pá na ponta da composição e mesmo um envelopamento parcial da pá.

Dentre os fabricantes de implementos transportadores, os desenvolvimentos atuais procuram dar conta principalmente do comprimento das pás. O trailer Telemax, da Faymonville pode ser estendido quatro vezes para o transporte de pás de até 65 m e os novos transportadores da Scheuerle já chegam aos 70 m – com recursos que permite incliná-los diante de obstáculos ou curvas acentuadas.

Adams Group adquiriu primeiras unidades do Bladex

Uma das inovações mais recentes no setor veio da Goldhofer. Após o sucesso da entrada no mercado do FTV 300 e FTV 500, implementos específicos para o transporte de pás eólicas, a Goldhofer projetou um novo sistema de transporte de pás eólicas, o BLADEX. Enquanto a série  FTV é projetada principalmente para rotas com significativos declives e inclinações, o novo BLADEX Goldhofer, com dispositivo de elevação de ponta da pá, responde a outros requisitos operacionais, combinando fatores como flexibilidade, redução de custos e prazos em uma única solução de transporte.

O »BLADEX« pode ser instalado em qualquer semirreboque de plataforma plana com eixos pendulares. Graças a uma barra incorporada, o sistema pode ser movido livremente quando o comprimento é ajustado sob carga. Ele usa uma plataforma pantográfica para levantar a ponta das pás. Pode ser utilizado com todas as pás com comprimento de até 80 m, tendo capacidade de carga de até 10 t e uma altura de elevação de até 10 m. Nessa posição, a ponta da pá pode girar e superar obstáculos e mesmo passagens mais estreitas. A combinação de veículo reduzido, com  comprimento e altura de elevação flexíveis é a chave para um progresso rápido em seções com curvas críticas. O operador, inclusive, pode usar o controle remoto para verificar a velocidade do vento e inclinar.

O BLADEX é projetado como um sistema autônomo, com uma unidade de energia integrada para torná-lo independente dos sistemas hidráulicos e elétricos do veículo. As três primeiras unidades foram vendidas para a empresa belga Adams Group, juntamente com uma nova versão do transportador FTV 500. “O Bladex nos dá uma solução de transporte que nos coloca um passo à frente da concorrência e nos permite oferecer serviços de transporte com tempos de transporte muito mais curtos em um custo altamente efetivo”, diz Peter Adams, fundador e gerente geral do Grupo Adams. Da parte dos locadores e transportadores, a preocupação é justamente essa: a de atualizar e capacitar sua frota, sob pena de ficar fora desse grande mercado.

MOBILIZAÇÃO DE GUINDASTES E GRUAS

O ponto de partida e o padrão atual nos içamentos eólicos é o guindaste telescópico sobre esteiras, com capacidades de 600 a 750 t e, mais recentemente, modelos com capacidade de 1000 t – e novos sistemas de lança. A telescopagem é um recurso importante para alcançar grandes alturas, sem a contrapartida de um comprimento equivalente no solo – e também para abaixar rapidamente a carga se houver incidência de ventos fortes. Com o aumento das dimensões da torre e componentes, no entanto, o uso de gruas passou a ser cogitado, com uma nova geração de equipamentos específicos para essa aplicação. É o caso, por exemplo, do modelo flat-top 1000 EC-B 125 da Liebherr, com sistema de montagem rápida, sendo autoportante até 100 m –  podendo ser aumentado até 195 m com apenas uma conexão. É um guindaste torre, resistente ao efeito dos ventos (até 18 m/s) e que pode ser montado próximo à torre e sobre base reutilizável, para futuros trabalhos de manutenção na turbina. Prestadores de serviço com linha própria de equipamentos – caso da ALE e a Mammoet – também tem desenvolvido opções customizadas para o segmento eólico. No primeiro caso, com o uso de guindastes de pedestal (mais comuns em aplicações offshore). E, no segundo (Mammoet), com o recurso de pontes rolantes que montam a turbina subindo a torre à medida que avançam

 

 

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