FAZENDO A COISA CERTA (3): OLHAIS ROSCADOS

FAZENDO A COISA CERTA (3): OLHAIS ROSCADOS

Por Camilo Filho*

Um olhal roscado é basicamente um parafuso com um anel na sua extremidade. Não importando o tipo (fixo ou giratório), são usados para, de maneira firme e segura, fornecer um ponto de amarração à carga ou a uma estrutura, de modo que cabos, correntes ou outro tipo de eslinga possam ser conectados neste ponto, estabelecendo assim uma conexão positiva.

Os olhais roscados são provavelmente um dos acessórios de içamento mais simples e frequentemente, na maioria das vezes, mal utilizados. Existem vários fatores que devem ser considerados quando selecionamos e utilizamos os olhais roscados. Quando usados de maneira incorreta, podem ser danificados ou quebrados, facilitando assim a ocorrência de acidentes e lesões graves, mesmo quando utilizados em içamentos leves.

 

O USUÁRIO DEVE ASSEGURAR-SE SEMPRE DE USAR O TIPO E TAMANHO CORRETO!

  1. COM ENCOSTO X SEM ENCOSTO

A primeira coisa a considerar é se a aplicação pede o olhal com ou sem encosto.

Os olhais roscados sem encosto são projetados somente para içamentos 100% verticais.Se a sua amarração possuir eslingas em ângulo ou com qualquer espécie de carregamento angular, então você deverá usar um olhal com encosto (ombro). Mesmo usando o olhal correto (com encosto), devemos assegurar-nos de que foi instalado corretamente, antes de aplicarmos qualquer carregamento angular nele. Se o encosto não está totalmente apoiado na carga, de modo a que o ombro cumpra sua função corretamente, então só poderemos aplicar cargas verticais a este conjunto.

ÂNGULO DA LINGADA

Conforme o ângulo horizontal diminui, a tensão aplicada no olhal aumenta, enquanto que a capacidade do olhal roscado diminui drasticamente. É muito importante que os riggers entendam bem esse fenômeno de modo a selecionar o acessório correto,trazendo assim segurança para seus içamentos.

Por exemplo, quando usamos um par de olhais roscados da Crosby com um ângulo horizontal de 30°, a tensão aplicada em cada olhal durante o içamento será exatamente igual ao peso da carga que está sendo içada. Ao mesmo tempo, a capacidade do próprio olhal foi reduzida a 25% da sua capacidade original.

Esta é a razão de “n” acidentes envolvendo acessórios de içamento!

Fabricantes de segunda linha, por exemplo, não recomendam a utilização de seus olhais com ângulos inferiores a 45°.

Se o exposto acima não for levado em consideração, o rigger sobrecarregará o acessório e teremos o risco de danificar o equipamento ou ocasionar a própria queda da carga, podendo gerar prejuízos ou lesões graves nos colaboradores.

 

  1. CONEXÕES

O terceiro fator que deve ser considerado ao selecionarmos o olhal correto para um içamento, é atentar para as dimensões do próprio olhal. Devemos nos certificar que os acessórios que serão colocados no olhal terão a folga suficiente para cumprir com a performance desejada.

Por exemplo, se forem usados ganchos nos olhais, deve-se verificar se o gancho trabalha livremente no olhal. A carga deve ser apoiada no seio do gancho e este deve ser capaz de alinhar-se com a perna da eslinga e não ficar torcido quando a tensão for aplicada.

 

  1. ROTAÇÃO

É importante destacar que os olhais roscados fixos não são projetados para girar sob tensão, de modo que a tensão deve ser aplicada através do plano do olhal.

O olhal roscado deve ser alinhado e apertado no momento da instalação, de modo a impedir que gire durante o içamento. Isso é o mesmo que dizer que o rigger deve instalar o plano do olhal alinhado com a perna da eslinga. Para isso devemos usar arruelas lisas (shims) de várias espessuras fornecidas pelo próprio fabricante e assim garantir o alinhamento seguro do olhal com a eslinga.

 

5.RESISTÊNCIA DO MATERIAL E PROFUNDIDADE DA ROSCA

O aspecto final a ser considerado na aplicação de olhais é a resistência e a espessura do material no qual será instalado o olhal. Mesmo que o olhal que você tenha dimensionado seja do tipo correto e a capacidade adequada, a peça na qual você estará instalando o olhal deverá obviamente ser capaz de suportar a carga imposta pelo olhal durante o içamento. Devemos certificar-nos de que a carga possa ser içada de forma segura com o número de pontos de içamento e sua localização em relação ao C.G.

  • Em um furo passante sem rosca, a porca deve estar totalmente roscada. Para içamentos verticais onde o ombro não encosta na carga, é recomendado que se use outra porca na parte superior da carga, junto ao ombro do olhal.
  • Em um furo roscado cego, o comprimento de rosca efetivo deve ser ao menos 1,5 vezes o diâmetro do parafuso, se a instalação for em aço. O recomendado é 2 vezes o diâmetro do parafuso.
  • Em um furo roscado passante com espessura menor do que um diâmetro do parafuso, uma porca deve ser instalada na parte inferior da carga, com todo seu comprimento roscado e firmemente apertada.
  • Para olhais de maquinário, a profundidade mínima do furo deve ser igual ao comprimento básico da rosca do parafuso mais metade do diâmetro nominal da rosca.

 

ALTERNATIVA AOS OLHAIS ROSCADOS FIXOS

Se o olhal roscado fixo não é a melhor solução para seu içamento, existem duas opções alternativas.

Crosby Slide-Loc Lifting Points – Este olhal tem um mecanismo que permite que sua base gire e seja travada durante a instalação, sendo que o olhal propriamente dito gira livre 360°. Principais características:

  • O olhal gira 360° para se manter alinhado com a eslinga
  • Não perde capacidade em nenhum ângulo da eslinga
  • Tem um olhal maior do que o padrão para facilitar a conexão com outros acessórios e eslingas

 

Olhais giratórios para içamento – Quando instalados e torqueados corretamente, os olhais giratórios são o meio mais eficiente e ideal de se usar como pontos de içamento.

  • Seus olhais podem pivotar 180° e girar 360°
  • Instalados corretamente os olhais giratórios não perdem capacidade independentemente do ângulo da eslinga
  • Existem vários tipos de olhais giratórios, com certeza algum deve se adequar a sua necessidade.

camilofilho(*) Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com mais de 38 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é consultor da IPS Engenharia e membro da ACRP (Association of Crane & Rigging Professionals-USA). Sugestões e comentários enviar para camilofilho@hotmail.com.

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1 comentário em“FAZENDO A COISA CERTA (3): OLHAIS ROSCADOS

  1. excelente texto, uma explicação muito útil no que tange a orientar a correta movimentação /elevação de cargas, qdo temos situações de angulos durante as operações.

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