VIDA ÚTIL DE UM GUINDASTE OFFSHORE

VIDA ÚTIL DE UM GUINDASTE OFFSHORE

Por Ronaldo Cruz (*)

Com certeza profissionais que atuam em movimentação de cargas no segmento E&P, tanto na operação quanto na engenharia de projeto de instalações offshore, levantaram alguma vez a questão: qual a vida útil de um guindaste destinado a esta condição de serviço? Afinal, o adequado seria que este equipamento estivesse disponível ao longo de toda a campanha da instalação, pois a sua substituição não seria um trabalho simples de se realizar.

Apenas lembrando, dissertamos antes sobre os processos de aquisição destas máquinas, adicionemos aos alertas então efetuados naquela ocasião outros aspectos relacionados a evolução tecnológica a que tais equipamentos foram submetidos, tema também já objeto de leitura anterior, como o emprego de contra pesos. Projetos atuais não os utilizam, o que demanda atenção maior para os pedestais de fixação dos guindastes de reposição, representando maior custo de obra e mais tempo de indisponibilidade deste recurso de movimentação de cargas.

As figuras 01 e 02 mostram um equipamento dotado de contrapeso e outro, de concepção mais atual, que não utiliza deste recurso para contribuir com a capacidade de içamento da máquina.

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Figura 01 – Uso de contrapeso
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Figura 02 – Guindaste sem contrapeso

 

A viabilidade de se adequar o peso deste componente é interessante para um equipamento onshore, combinando com o comprimento de lança visando a obtenção de mais relações raios de operação x capacidade de içamento, nada prático para operação no mar pela indisponibilidade de mover tais contrapesos, assim como para mantê-los sobre o convés enquanto não são utilizados.

Nesta exposição não consideraremos a seleção inadequada, seja por especificação ou qualidade deficiente do bem adquirido como fatores que também poderiam determinar a substituição do guindaste, mas a decretação da sua substituição em uma instalação offshore pela sua obsolescência. Então a que fatores este aspecto pode estar correlacionado? A busca de máquinas mais seguras e melhor operacionalidade frutos da própria evolução tecnológica pode ser um agente motivador, por outro lado está o cenário que mais pode incomodar: manutenção deficiente e seus desdobramentos. Aqueles mesmos profissionais do início deste texto já ouviram e alguns até consideram como base 20 (vinte) anos como período de campanha de um guindaste, o que soa como razoável, mas que na prática vemos, ao menos no Brasil, equipamentos com o dobro deste tempo ainda em serviço. Isto implica em riscos?

A continuidade operacional de um guindaste offshore é especificamente abordada em norma regulamentadora, no caso NR-37 Segurança e saúde em plataformas de petróleo, tendo a mesma estabelecido ações e responsabilidades com foco em segurança. Mas os apontamentos do documento não são suficientes, cabendo aos responsáveis por tais equipamentos conduzir um trabalho de avaliação de performance específicos da máquina, acompanhamento das normativas de projeto e segurança vigentes, monitoração da condução dos serviços de manutenção e, claro, apreciação de riscos de seu emprego.

A situação se complica ainda mais quando o fabricante do equipamento não está mais ativo, uma vez que demandas para serviços de manutenção para os quais a tecnologia é dominada apenas por quem detinha seu projeto podem resultar em riscos por intervenções indevidas e/ou aplicação de partes fora de especificação. Sustentar tal condição demanda um corpo técnico de engenharia de manutenção especializado próprio ou terceirizado, fornecedores aptos à confecção de partes com qualidade e, claro, um acompanhamento muito rígido dos serviços de manutenção preventiva. De qualquer forma, está evidente que a operadora de E&P responde pela vida útil do seu bem e segurança das operações.

Diante do exposto, podem ser identificadas iniciativas de se prolongar a operação de máquinas através da implementação de upgrades nos projetos originais, quando se introduzem recursos de segurança que por vezes passam a integrar uma geração mais atual de guindastes, a partir do atendimento de novos requisitos normativos de projeto, ou mesmo por overhaul de grande monta, abrangendo sistemas de acionamento e/ou de elevação de carga. Isto pode ser conduzido junto ao fabricante, quando este se encontra disponível, ou mesmo pela operadora via sua equipe de engenharia de manutenção e/ou empresas especialistas terceirizadas para intervenções.

Apenas como exemplo, a Petrobras nos anos 90 conduziu trabalhos de atualização de projetos de pelo menos 12 guindastes que já operavam há pelo menos 15 anos naquela ocasião, os desembarcando e enviando para as instalações do fabricante onde foram revisados e modificados sob acompanhamento de sua área técnica. Nas Figuras 03 vemos um equipamento American 5750 objeto de tal trabalho, antes da modernização, e na Figura 04, pós intervenção, onde as mudanças estruturais são perceptíveis no projeto do guindaste, mas não se limitaram a isto, abrangendo também características funcionais.

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Figura 03 – Guindaste AM 5750 original
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Figura 04 – Guindaste AM 5750 modernizado Nota: Figuras 03 e 04 são de autoria de Prado, H.P.

Algumas poucas destas máquinas ainda continuam em serviço pela empresa hoje, outras seguem também em instalações vendidas para outras operadoras mais de 20 anos depois da grande modernização. Portanto, uma reavaliação da continuidade operacional destes guindastes é recomendada, considerando suas condições atuais e o que se prevê de futuro para as instalações offshore onde se encontram.

Chegamos então a uma questão efetuada após a conclusão de que não é adequado que um guindaste continue em serviço nas condições em que se encontra e a sua instalação offshore ainda deverá operar por mais tempo: atualizar o projeto ou substituir o equipamento? Responder esta pergunta demanda mais atenção do que a anterior, pois apenas o cálculo da razão: custo da máquina modernizada pelo custo da máquina nova é insuficiente,  mas considerar, por exemplo, por um lado a competência necessária de quem conceberia e conduziria um projeto de atualização e a viabilidade de implementação de recursos de segurança e/ou de acionamento almejados, enquanto que por outro, eventuais desdobramentos de obras de reforços estruturais para instalação e a da própria logística demandada para retirada da unidade antiga e recebimento da nova máquina.

Por fim, podemos ver que definir a vida útil de um guindaste offshore depende fundamentalmente da gestão dos processos de manutenção, da tecnologia disponível no mercado e da estratégia de operação adotada pela empresa no E&P. A baixa tolerância a exposição a riscos à segurança das pessoas envolvidos e das instalações também deve ter peso na análise de continuidade operacional de um guindaste offshore.

Bom trabalho!

ronaldo cruz(*) Ronaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: ronaldo.cruz@cargopro.com.br 

 

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