A terceira geração comanda a Tatuapé: os irmãos Denys e Daniel Garzon Rodrigues. Ambos são unânimes ao destacar o momento positivo por que passa o setor, mas também manifestam uma prudência que acompanha o mercado, fator que a Crane Brasil vem notando com mais constância. A tradução do momento de aquecimento pode ser conferida pelo crescimento de 54,2% no faturamento de 2007 em relação a 2006. Para Denys, os resultados de 2008 devem ficar próximos aos do ano passado.
Além de familiar, a Tatuapé faz parte do clube dos pioneiros. De acordo com Daniel, ao contrário de outros players do setor, que entraram no mercado de guindastes há pouco tempo, a empresa tem quase cinco décadas. “Poucas que nasceram na mesma época estão ativas”, informa. De acordo com ele, em razão da entrada tardia, muitos dos novos concorrentes não vivenciaram as fortes crises do setor.
“O País continua sem infra-estrutura adequada na área portuária, em aeroportos, rodovias e outros. E isso nos indica que há muito o que fazer e as obras vão demandar os serviços de movimentação e transporte pesado”, argumenta Denys, justificando porque acredita no aquecimento do mercado. Apesar de apostarem na demanda por mais serviços, os dois executivos lembram que a área de guindastes não têm a vantagem de outros setores, caso dos equipamentos de movimentação de terra.
“As grandes construtoras geralmente adquirem escavadeiras, caminhões fora-de-estrada e outras máquinas a partir do fechamento de um contrato. A compra está atrelada a um negócio firme”, lembra Denys. O mesmo não acontece com os guindastes, de acordo com ele. “No nosso segmento, os riscos são muito maiores, mesmo porque o investimento de capital é alto”, complementa. E trata-se de um capital investido antecipadamente.
Apesar do risco, a Tatuapé considera-se uma sobrevivente. Passou por várias crises ao longo dos 48 anos e prepara-se para outra mudança: vai oferecer a locação de guindastes treliçados sobre esteiras. Denys argumenta que esse tipo de equipamento já foi associado, no passado, à imagem de tecnologia defasada. Para ele, as coisas mudaram e há dois anos a empresa estuda a aplicabilidade das máquinas treliçadas.
“Os projetos de construção e expansão industrial passaram a ser executados com peças cada vez maiores e mais pesadas, embora o espaço das plantas em si não tenha mudado e continue restrito. E há muitas obras em fábricas em operação”, resume o diretor. Segundo ele, os guindastes telescópicos têm uma capacidade de carga reduzida quando comparados aos treliçados, o que abre espaço para uma volta às origens. Mas e a fila de compra?
Os dois executivos explicam que, embora exista uma fila real para aquisição, o bom relacionamento e o planejamento ajudam a empresa a casar a compra de guindastes com o que o mercado precisa. Eles destacam que a procura por locação tem se concentrado, principalmente, nos equipamentos telescópicos entre 30 t e 130 t, com bom mercado para os de 250 t. Os monstros acima de 500 t tem sido direcionados para intervenções específicas. A Tatuapé, de acordo com eles, vem acompanhando a evolução dos guindastes de maior capacidade. “Fomos pioneiros na compra de máquinas de 250 t e também de 500 t, da mesma forma que também estamos entre os primeiros a fazer aquisições de produtos chineses”, lembra Daniel. Ele recorda ainda que seu tio, Edson, foi taxado de louco quando comprou o primeiro guindaste japonês, em 1974. “Equipamento, até então, tinha que ser americano”, brinca.
Aliás, em relação a parceiros, os dois diretores não fazem nenhum destaque especial, embora argumentem que o desempenho dos gráficos de carga da Liebherr mereçam elogios. O que não merece menção positiva são os preços das peças de reposição. Daniel avalia que o mercado tem pago valores salgados porque manter as máquinas paradas representaria um prejuízo maior. Um dos segredos reside na manutenção atenta. A oficina da Tatuapé, por exemplo, possui até estufa para pintura de seus guindastes. O avanço dos equipamentos também ajuda. É o caso da computadorização que evita erros operacionais básicos.
Daniel acredita que o investimento em mão-de-obra qualificada nas oficinas igualmente permite que as 67 máquinas da Tatuapé permaneçam operacionais a maior parte do tempo. Fora delas, a empresa também não se descuida.
(Maio/junho/julho de 2008)