TAXA DE UTILIZAÇÃO x FATOR DE CONSTRUÇÃO DO GUINDASTE

TAXA DE UTILIZAÇÃO x FATOR DE CONSTRUÇÃO DO GUINDASTE

Por: Leonardo Scalabrini (*)

CONCEITOS – No último ano, estive direta ou indiretamente (por consultas realizadas por colegas), em pelo menos quatro diferentes ocasiões, diante de situações em que profissionais ou empresas que fiscalizam e aprovam Planos de Rigging questionaram sobre a limitação da Taxa de Utilização do Guindaste e o Percentual indicado na Tabela de Cargas do equipamento.

O argumento central seria de que a Taxa de Utilização do Guindaste não poderia ultrapassar o percentual da Tabela de Cargas. Num dos casos, foi dito que uma operação de içamento com uma Taxa de Utilização de 82% não poderia ser realizada por um Guindaste, que tinha em sua tabela de cargas um percentual de 75%.

Atrelar o Percentual da Tabela de Cargas à Taxa de Utilização do Guindastes não é correto.

São elementos diferentes. Um refere-se ao processo normativo e de construção do guindaste. O outro é relativo à operação de içamento em si.

Para um melhor entendimento, é preciso esclarecer o que é este percentual indicado na tabela de cargas e o que é a Taxa de Utilização do Guindaste.

Figura 1
Figura 1 – Recorte da Tabela de Cargas do Guindaste TEREX-DEMAG AC 80-2, indicando o percentual aplicado

FATOR DE CONSTRUÇÃO

Qualquer guindaste ao ser construído – em função da legislação e normas vigentes locais – deverá ter aplicada uma redução nos valores de suas tabelas de carga. Tal ação tem por objetivo não permitir que por motivos de erros operacionais ou pelo desgaste natural dos componentes do equipamento, o guindaste apresente rupturas estruturais ou tombe por perda de estabilidade naquelas operações em que a carga bruta içada equivale exatamente ao limite de capacidade calculado para a tabela de cargas.

Academicamente, esta redução de valores é denominada Fator de Segurança de Construção, ou simplesmente, Fator de Construção. Para cada tipo de equipamento estes fatores têm um valor (ou valores) de referência, determinado por Normas Técnicas e Legislação do país onde a máquina é produzida.

Atualmente os principais fabricantes de guindaste no mundo são, por ordem alfabética, a Alemanha, a China, os Estados Unidos e o Japão. Conforme as normas aplicadas, o Fator de Construção aplicado nas Tabela de Cargas dos guindastes telescópicos sobre pneus, fabricados na Alemanha, na China e no Japão é 75%. Já nos Estados Unidos, este Fator equivale a 85%.

Figura 2
Figura 2 – Fatores de Construção aplicados aos Guindastes Telescópicos Hidráulicos

Para outros tipos de equipamentos de guindar, como guindastes sobre esteiras ou guindastes articulados as normas aplicadas são diferentes e os fatores de construção podem ter outros valores.

De maneira bem simplificada (e somente como exemplo didático), um guindaste telescópico sobre pneus de capacidade nominal de 100 toneladas, que foi calculado para içar a carga bruta de 100 toneladas com 3 metros de raio e 12 metros de lança, se manufaturado na Alemanha teria como capacidade máxima 75 toneladas; no caso de ser construído nos Estados Unidos, 85 toneladas seria sua capacidade máxima.

E no Brasil? Qual é Fator de Construção a ser aplicado?

Se seguíssemos a Norma Técnica da ABNT, a NBR 7557 (Guindastes de Pneus), este fator seria de 85%. Contudo, este documento foi cancelado em 2014, sem substituição. Assim, no Brasil, o percentual aplicado na Tabela de Cargas dos Guindastes depende da aquisição realizada do equipamento no seu país de origem. Encontramos máquinas com tabelas em 75% e em 85%.

Aqui, vale a pena abrir um parêntese: um equipamento fabricado na Alemanha ao ser vendido para os Estados Unidos, em sua Tabela será aplicado o Fator de Construção deste último, isto é, de acordo com as normas vigentes nos Estados Unidos. Assim, um guindaste telescópico sobre pneus da LIEBHERR, por exemplo, ao ser adquirido por uma empresa brasileira, ela poderá solicitar que seja entregue com a Tabela em 85%.

Figura 3
Figura 3 – Recorte da Tabela de Cargas do Guindaste GROVE GMK6220-L, fabricado na Alemanha, com aplicação do Fator de Construção de 75% (DIN/ISO)
Figura 4
Figura 4 – Recorte da Tabela de Cargas do Guindaste GROVE GMK6220-L, fabricado na Alemanha, com aplicação do Fator de Construção de 85%

 

simbolo esclamação Em nenhuma hipótese, as capacidades indicadas nas tabelas de cargas do guindaste podem ser ultrapassadas durante o içamento. Independente de qual seja o Fator de Construção foi aplicado.

 

TAXA DE UTILIZAÇÃO

A Taxa de Utilização de um Guindaste é a razão entre a carga bruta a ser içada e a capacidade indicada na tabela de carga do equipamento na configuração em uso: raio de trabalho, comprimento de lança, quantidade de contrapesos etc.

Figura 5
Figura 5 – Composição da Carga Bruta

Para obtenção da Taxa de Utilização, basta realizar um cálculo simples, conforme demonstrado a seguir:

Capacidade na Tabela do Guindaste à       12,0 t.

Carga Bruta à                                              10,0 t.

Taxa de Utilização à                                    10,0 t. / 12,0 t. = 0,8333 ou 83,33%

Um guindaste pode içar uma carga bruta com peso equivalente a capacidade indicada na tabela de carga, entretanto, não é prudente realizar a operação assim.

Todo içamento de cargas está sujeito à ocorrência de cargas dinâmicas durante a operação. A amplificação dinâmica da carga pode ser resultante da ação vento no guindaste e na peça; ou por movimentações em velocidades não previstas; ou pela oscilação do equipamento devido a posição e localização de sua base. Também podem acontecer erros operacionais. Por isso, limitamos a Taxa de Utilização nas operações com guindastes.

Todavia, destaca-se que o valor máximo de cada Taxa de Utilização deve ser estabelecido em função das propriedades de cada içamento. É preciso ter muita atenção ao se estabelecer um valor padrão, pois a referência é percentual.

Se uma determinada empresa estabelece que nenhuma operação poderá ter taxas de utilização do guindaste superior a 80%, este valor poderá atender bem, no quesito segurança, para uma carga de 16 toneladas, pois neste caso a capacidade do guindaste deverá ser de pelo menos 20 toneladas. Porém, para uma carga de 1,6 toneladas, basta que o equipamento tenha uma capacidade igual a 2,0 toneladas. São apenas 400 quilogramas de “folga”. Ainda, uma carga de 1,6 toneladas é muito mais suscetível às ocorrências de cargas dinâmicas durante a operação.

Para cada içamento, de acordo com as suas características específicas, é dever do Operador do guindaste, do Rigger e do Responsável pelo Plano de Rigging, a identificação dos riscos e a adoção de uma Taxa de Utilização que resulte em segurança para toda a operação, mas também que otimize o equipamento e recursos utilizados.

Uma operação de desmontagem de estruturas, onde o guindaste deverá sustentar a carga em posição elevada enquanto ela é cortada, por exemplo, a Taxa de Utilização do Guindaste deve ser a menor possível, preferencialmente perto dos 50%.

Já no caso de uma atividade de descarregamento dos componentes de uma máquina de pátio de mineração, com pesos que variam entre 80 e 100 toneladas, que é devidamente planejada e executada, ela poderá ter Taxas de Utilização nas cercanias de 90%.

O estabelecimento de regras e padrões para os içamentos é imprescindível. No entanto, as definições devem ter embasamento técnico e não ser genéricas. O contexto abordado nesse artigo, pode (e deve) levantar um ponto de discussão entre todos os profissionais de nosso segmento. Principalmente neste momento propício em que estamos, enfim, regulamentando e normatizando nossas atividades pelas revisões das Normas Regulamentadoras do MTE e pela criação de Normas Técnicas da ABNT.

Foto LeonardoLeonardo Scalabrini, estuda e desenvolve projetos de tecnologia para o segmento de içamentos e guindastes, área na qual atua desde 2000. Contatos: leoscalabrini@gmail.com

 

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