Por: Duda Bechelli, Enzo Dias e Bruno Lima (Fotos: Gildo Mendes)
“2023 foi um ano muito bom para o setor. Chegaram muitas máquinas. E mesmo com tanto equipamento, ainda conseguimos ter bastante ocupação e utilização desse maquinário. Foi um ano muito promissor, e a gente acredita muito que no ano que vem isso deve ter uma continuidade”. A avaliação é de Julio Simões, Diretor da Locar Guindastes e Transportes e presidente do SINDIPESA (Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais), principal entidade representativa do setor em nível nacional.
“Temos uma perspectiva boa”, explica Simões. “Todas as empresas planejam continuar investindo. A gente entende que com esses planos do governo vai haver um desenvolvimento na área de infraestrutura, em novas obras, manutenções e reformas. Tudo isso é importante. Mas são as grandes obras que movem o setor. Em especial, o setor de óleo e gás, que também está prometendo muito”. A sua abordagem otimista da conjuntura atual e a perspectiva para 2024 traduz em grande parte a visão de executivos e empresários do setor de movimentação de cargas. Claro que há ressalvas e preocupações, mas nada que a contrarie totalmente.
Adriano Depentor, presidente do Conselho Superior e de Administração do SETCESP (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo e Região), lembra que 2023 foi marcado por oscilações no preço dos combustíveis, mudanças no cenário político e pela questão da pauta tributária, em particular a desoneração da folha – além de duas guerras – instabilidades com reflexos no setor. “Mas apesar desses desafios, foi um ano que teve um balanço final bem positivo”, confirma Depentor.Ele acredita que o crescimento na economia continue e até seja impulsionado em 2024. “Nós temos um governo novo, e esse é um processo que passa por um longo período de ajustes. Mas já existe um movimento de investimentos, e isso terá um impacto bem positivo no crescimento do ambiente de negócios”.
“O ano de 2023 foi um ano bastante duro e trabalhoso, mas que vai dar bom resultado”, diz Antônio Luiz Leite, presidente da Primax Transportes Pesados e vice-presidente do SETCESP. “O ano de 2024 vem carregado de grandes investimentos e esperanças. Os resultados vêm nos mostrando um crescimento sustentável nos últimos anos e nós devemos ter um investimento bastante grande em 2024”.
Para Dennys Garzon Rodrigues, diretor comercial da Guindastes Tatuapé, as perspectivas também são boas. Com uma ressalva importante: “Talvez seja um momento de mais atenção e reflexão no mercado, por estarmos vivendo uma modificação política que pode ter impacto no setor”. Ele destaca, entre os segmentos de mercado mais promissores, o eólico, que tem gerado uma demanda muito importante, principalmente de máquinas de maior complexidade, e o de óleo e gás.
“O ano de 2023 foi extremamente positivo para nós do setor, com alta utilização de equipamentos, e mesmo a remuneração, ainda não estando em seu ideal, já passa a atingir patamares adequados”, diz Marcello Mari, diretor da Locar Guindastes e Transportes. “Esperamos um ano de 2024 mais voltado à consolidação, para suportar todo o investimento que fizemos em equipamentos, abertura de filais, processos e governança”. “O mercado está aquecido, o governo vem abrindo novas frentes e a Petrobrás tem bastante atividade, então vemos muito crescimento pela frente, complementa Ronaldo Sant’ Ana, gerente de negócios da Locar.
“O ano de 2023 foi muito bom para o Grupo Darcy Pacheco. Estamos fechando este ciclo e projetando um 2024 com algumas adequações”, diz Guilherme Silva, diretor-adjunto comercial e de operações. “Nós entendemos que o mercado vai apresentar uma pequena queda, por isso vamos voltar os nossos olhos para otimizarmos os nossos processos e planejar os investimentos para os próximos anos, no intuito de estarmos preparados para os desafios que o mercado terá pela frente”.
“A gente vê o mercado ainda demandante”, diz David Rodrigues, CEO da Makro Engenharia. “A maioria das empresas está com uma taxa de ocupação muito positiva em 2023. A gente sentiu uma leve queda nos últimos meses, mas acreditamos que 2024 vai ser um ano bom. Temos um pipeline de projetos em negociação. Atuamos em diversos setores, mas devemos manter o mesmo ritmo de atividades nos projetos de mineração e energia em vários estados do país”.
Nilson Rocha, diretor da Guindastec, revela que o setor de mobilidade urbana teve um destaque muito importante para a empresa em 2023. “Estamos com uma perspectiva muito boa. Já temos contratos em andamento e a expectativa é que a mobilidade urbana continue sendo uma prioridade dos próximos governos”.
Mario Lincoln Costa, diretor de operações da Transpes, entende que o mercado “deu uma segurada” em 2023, mas a empresa está otimista e já tem uma estratégia definida, com foco nos seus setores tradicionais de atuação: mineração, siderurgia, infraestrutura, energia, óleo e gás e papel e celulose.” Projetamos, inclusive, voltar ao nosso patamar anual histórico de investimento, em equipamentos, tecnologias e processos, para atender a demanda nos próximos dois anos”.
Marcos Cunzolo, diretor executivo da Cunzolo, empresa com operações no setor eólico, óleo e gás, siderúrgico e celulose, diz que 2023 está sendo muito bom com resultados muito positivos. “Estamos muito confiantes para o ano que vem, apesar do cenário macroeconômico às vezes não dar este otimismo. Iremos como sempre investir, renovar e buscar atender também clientes de outros segmentos”.
A Saraiva Equipamentos também teve condições de se preparar em 2023 e chegar fortalecida para superar novos desafios em 2024. “A empresa investiu massivamente em capacitação de colaboradores, retomamos o aporte em novos equipamentos e principalmente tecnologias para melhorar nossa gestão operacional e a comunicação o campo e administrativo”, diz Guilherme Filho, Gerente de SGI da Saraiva Equipamentos.
“Existe uma perspectiva muito boa no mercado”, diz Aldelfredo Mendes, diretor comercial do Grupo Cordeiro. “São grandes oportunidades em projetos que o Brasil vem desenvolvendo, não só no mercado eólico, como em mineração e siderurgia. Então, o grupo está bastante otimista para os próximos desafios que estão chegando. Existem grandes projetos que se iniciam no próximo ano, fazendo com que o Grupo Cordeiro esteja bastante otimista em pegar uma grande fatia do mercado”.
Napoleão Luna, diretor comercial de operações da Transnacional, confirma a potencialidade desses dois setores. “Atuamos há mais de 25 anos, tanto em operações de içamento, quanto na logística de transporte. Temos renovado bons contratos. 2024 vai ser um ano de investimento de capital intensivo e nossas perspectivas são bastante otimistas”.
“Em relação ao ano de 2024 estamos otimistas e com planos de novos investimentos em nosso segmento”, confirma Pedro Gaia, diretor-presidente da Transremoção
Na mesma linha, Alexander Biskupski, diretor operacional da Bolbi Movimentação de Cargas, lembra que grandes empreendimentos estão sendo instalados e que não faltarão oportunidades e projetos de infraestrutura em um país grande, ainda em fase de modernização. As perspectivas são excelentes. E, para quem quer trabalhar e, para quem já fez, o que já fez no passado, hoje até que está muito fácil”.
“Nossas perspectivas para o ano de 2024 são as melhores”, diz Jefferson de Paula, gerente de engenharia da Transdata. “Esperamos manter o crescimento consistente que tivemos em 2023 e ir além. Nossos esforços estão principalmente focados na área de manutenção de óleo e gás e nas energias renováveis. Foram mercados estratégicos para nós em 2023 e projetamos uma expansão de atividades nesses setores”.
Renovação e ampliação da frota
É claro que não se compra um guindaste de uma hora para outra. Muitas vezes essa decisão está atrelada a contratos e, com exceção das negociações entre os próprios usuários, esse tipo de equipamento não está disponível em prateleira e, em regra, nem mesmo em áreas alfandegadas. Descontados alguns tipos de guindautos fabricados no país, todo e qualquer guindaste, mesmo os seminovos, tem que ser importado e isso pressupõe um prazo de entrega. O que significa dizer que a decisão de compra é bem anterior à sua chegada ao país.
Em todo caso, uma das características marcantes do mercado brasileiro de movimentação de cargas em 2023 foi o número provavelmente recorde de entregas técnicas de guindastes, de variada capacidade – de 70 a 1.200 t. Algumas encomendas ainda estão para chegar até o final do ano e muitas outras já estão agendadas para 2024. As razões são várias para esse boom no mercado nacional: renovação e ampliação de frota ou atendimento a contratos que demandam equipamentos diferenciados.
“Em 2023, a Darcy Pacheco investiu em máquinas de médio e grande porte, como equipamentos de 250 a 800 t. Enxergamos esses investimentos como estratégicos, visto que conseguimos entregar soluções diferenciadas para nossos clientes e aumentar a nossa taxa de disponibilidade para atender demandas que não são programadas com antecedência”, diz Guilherme Silva. “Temos um planejamento de renovação de frota para o próximo biênio, prevendo uma pequena ampliação em nichos específicos que ainda estamos estruturando”.
A Guindastec, locadora que atendeu principalmente a diferentes projetos de mobilidade urbana (obras de metrô, rodovias, viadutos) durante 2023, fez investimentos pontuais em sua frota para atender essa demanda. “Em 2023 nós trouxemos guindastes Sany, na casa de 90 t e telescópicos Grove de 300 t, além de caminhões Volvo com CMT de até 500 t. Agora, estamos trabalhando com o intuito de trazer alguns equipamentos, de maior capacidade (entre 300 e 500 t), para o mercado”, diz Nilson Rocha.
Já a Transdata, segundo seu gerente de engenharia, Jefferson de Paula, optou por dois guindastes treliçados de 750 t e pela renovação de sua frota de cavalos mecânicos. O próximo passo, segundo ele, serão máquinas de manutenção para energia eólica. “Para 2024, está dentro do escopo de planejamento da Saraiva Equipamentos, a aquisição de novos equipamentos”, diz Guilherme Filho. “Ao longo do segundo semestre de 2023, já viemos realizando algumas análises de investimentos. E é provável que, no primeiro semestre de 2024, já tenhamos novos equipamentos em nossa frota”.
A Guindastes Tatuapé, incorporou em sua frota em 2023 unidades LG de lança treliçada sobre pneus, além do guindaste Liebherr sobre pneus com capacidade para 1.200 t. “Em 62 anos de história, nós temos um perfil de investir ‘devagar e sempre’, mas neste último ano, fizemos de uma forma um pouco mais consistente, com mais velocidade. E ainda estamos para receber novos equipamentos, comprados em 2022 e 2023, com entregas programadas ente o final deste ano e início do segundo semestre de 2024”, diz Dennys Garzon Rodrigues.
A Transnacional contabiliza em 2023 um investimento total de R$ 35 milhões em sua frota, incluindo caminhões e guindastes de 110, 130 e 250 t. Os planos para 2024 são um pouco mais ambiciosos, embora fundamentado em contratos e demandas já identificadas. “Traremos uma máquina com capacidade acima de 750 t e temos um destino para o equipamento, que é um bastante versátil, não somente para mineração, como siderurgia, óleo e gás e infraestrutura. Temos recebido bons convites para essa linha de máquina pesada”, diz Napoleão Luna.
A Makro Engenharia voltou a investir fortemente na ampliação e renovação de sua frota em 2023 e esse processo terá continuidade em 2024, segundo David Rodrigues. “Investiu em torno de R$ 87 milhões em função de alguns contratos. O foco em 2023 foram guindastes com capacidade para até 250 t, mas em 2024 partiremos para máquinas mais pesadas, com capacidades de 500 e 750 t”.
A Cunzolo Máquinas e Equipamentos que substituiu caminhões e incorporou neste ano em sua frota guindastes com capacidade entre 75 e 100 t, já tem investimentos programados para 2024. Estamos planejando equipamentos de maior capacidade para superar nosso limite atual, que é de 400 t. Queremos chegar ao patamar de 500 ou 600 t”, diz Marcos Cunzolo.
Mario Lincoln Costa, da Transpes, adianta que a empresa já tem um plano de investimento bem agressivo para o ano que vem. “O objetivo é voltar a investir pesado, com aportes da ordem de 80 a 100 milhões de reais. Há planos para equipamento na parte de içamento e guindaste. Mais da metade desse investimento é nessa área”.
Alexander Biskupski diz que a Bolbi Movimentação de Cargas também já tem investimentos programados em equipamentos novos, que ainda estão sendo negociados com fornecedores. “Teremos novidades em breve”.