Por Camilo Filho*

Uma pergunta comum que me fazem nos treinamentos é como atender aos requisitos da tabela de carga do fabricante, de modo a obter o nivelamento correto do guindaste. A OSHA e a ASME afirmam que um guindaste deve ser nivelado com ±1%±.  Mas, o que isso significa e como conseguimos fazer isso?

Antes de qualquer coisa vamos entender o que significa este ±1%.

Considere uma estrada reta, nela marque uma linha para ser o marco 0 (zero) depois meça a distância de 100 m e coloque uma estaca com um 1,0 m de altura.Imagine agora a rampa do zero até o alto da estaca.Isso é 1%.

Pergunto: quantos locais em que trabalhamos (ou você já trabalhou), lançando vigas, batendo estacas ou até mesmo dentro de refinarias que tinham esse nivelamento? Na maioria dos casos, a área terá que ser preparada para atender o que pede a tabela de carga do fabricante do guindaste.

E os guindastes que trabalham sobre patolas e que podem nivelar-se?

Como deve ser o solo onde serão posicionadas as patolas? Qual a inclinação máxima?

Por exemplo, aplicando a regra de ±1%, uma patola que tenha 600 mm de diâmetro deve estar também nivelada com ± 6,0 mm de ponta a ponta. O mais importante é que as patolas devem obrigatoriamente estar perpendiculares aos cilindros verticais e niveladas com ± 1 %.

A regra de ±1% se aplica principalmente aos guindastes de esteiras, os quais não têm meios de fazer a correção do desnível do piso, tais como os sobre patolas. É normal nas obras, que máquinas de terraplenagem façam o nivelamento onde os guindastes de esteiras serão posicionados, para que os mats ou chapas possam ter suporte e nivelamento adequados.

Por que é importante um grau de nivelamento em ±1%?

Existem algumas razões, mas uma das mais importantes é que, dependendo da condição do desnível, podemos incidir uma carga lateral na lança (o que é um tremendo risco) ou uma sobrecarga através do aumento do raio. E, quando se trata disso, todos os fabricantes de guindastes informam nas notas das tabelas de carga que todas as cargas ali tabeladas são baseadas no guindaste nivelado em 1%. Em outras palavras, a quantidade de carga que um guindaste pode içar com segurança, se ele não está nivelado dentro desta tolerância, é completamente desconhecida.

Tipos de níveis que são usados para nivelar os guindastes

Faz-se então importante conhecer os tipos de níveis que são usados para nivelar os guindastes. Os níveis redondos de bolha ou mesmo os níveis de pedreiro não são muito confiáveis e tampouco capazes de obter ±1%. Não sei se já notaram, mas num dia de muito calor como no Nordeste do Brasil, o líquido do nível se expande e a bolha fica consideravelmente maior. Já no sul do país, no inverno, esse mesmo nível apresenta uma bolha bem menor, assim a qualidade desse tipo de nível é questionável, sem contar que depende da sensibilidade de quem o lê.

Muitos níveis usam álcool, por exemplo, etanol ao invés de água. O álcool tem uma baixa superfície de tensão e viscosidade, o que faz com que a bolha se mova rápido e com precisão; eles também têm uma faixa de temperatura de líquido maior, o que estabiliza o tamanho da bolha.

Nos guindastes mais novos o nivelamento é eletrônico e de grande precisão, lembre-se; a tabela de carga só é válida com o guindaste nivelado a ±1% e apoiado em piso firme!

Bem, mas e se meu guindaste é antigo ou o nível de minha máquina está com problema?. Aí temos o jeitinho brasileiro ou o velho ditado: quem não tem cão caça com gato! Coloque um nível de bolha desses que se usa em montagem de equipamentos na superestrutura do guindaste ou na mesa de giro sob os pinos do pé da lança em uma área que não seja influenciada por distorções do chassi.

Verifique o nível do guindaste em pelo menos duas direções diferentes, para ter certeza de que o guindaste está nivelado nos dois eixos (longitudinal e transversal). Mantenha seu nível à mão, porque você precisará verificar novamente o nível após o primeiro ou segundo içamento, porque um guindaste em operação irá comprimir o terreno e alterar a configuração do nível original.

Uma boa prática que eu gosto e recomendo é:

1. Com a lança apoiada no cavalete, faço o patolamento e nivelamento da máquina.
2. Levanto a lança toda fechada e giro posicionando o contrapeso sobre cada patola, deixando-o aí descansar por cerca de 2 a 3 minutos.
3. Abaixo a lança e coloco-a de volta no cavalete.
4. Refaço o nivelamento
5. Começo a operar
6. Após algumas operações, confirmamos o estado do nivelamento e atuamos se for o caso

Eu já vi muitos pratos de patolas danificados, devido ao fato do terem sido apoiados fora de esquadro em relação ao cilindro vertical do estabilizador. Também sabemos que muitos dos acidentes com guindastes são o resultado da montagem e posicionamento inadequado do equipamento. Basta ver o colar do prato ou o próprio prato da patola quebrado para saber que foi ocasionado por carga excêntrica ali aplicada e entender que isto representa um sério risco para a segurança da operação.

Não corra o risco de danificar seu equipamento e comprometer a segurança. Caso haja problema, comunique ao seu supervisor ou a segurança. Mantenha sempre ±1% e garanta a segurança de seu pessoal e dos equipamentos e içamentos.

(*) Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com 38 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é consultor da IPS Engenharia de Rigging e membro da ACRP (Association of Crane & Rigging Professionals-USA). Sugestões e comentários enviar para camilofilho@hotmail.com.