Com o PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), a partir de 2004, e os leilões realizados pela ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica -, desde o final de 2009, a capacidade instalada de geração de energia eólica no Brasil, cresceu de 601 MW (Megawatts) em 2009 para 7,1 mil MW em setembro passado. As projeções são de que o volume ultrapasse 9 mil MW até dezembro de 2015.
Considerado um investimento promissor, esse mercado tem atraído geradoras tradicionais de energia como a Eletrosul e o Grupo Serveng e, principalmente, novos players como a Atlantic Energias Renováveis. Somente esses três empreendedores já possuem parques eólicos com 992,7 MW de capacidade instalada e outros 453,4 MW sendo acrescentados até 2018, resultado de novos projetos ou expansão de operações existentes.
Nesses 6 anos, várias arestas que comprometiam a alavancagem do setor foram sendo aparadas. Outras, nem tanto. Uma delas é o licenciamento ambiental, demorado e oneroso, na visão do diretor de engenharia da Eletrosul, Ronaldo Custódio, afetando diretamente a competitividade dos projetos no mercado brasileiro.
Mesmo assim a área evoluiu muito, avalia José Roberto de Moraes, presidente da Atlantic: “Os órgãos ambientais já conhecem bem o segmento eólico e tem melhorado sua relação com os investidores e a definição das condicionantes ambientais”, argumenta. Já o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), ainda há complicadores relacionados aos sítios arqueológicos.
A questão regulatória acaba inibindo o mercado, também para Mário Augusto Lima e Silva, diretor da Serveng Energia. “Existe certo descompasso entre o fluxo de investimentos em novos projetos no setor eólico e os órgãos oficiais em âmbito municipal, estadual e federal”, afirma.
O principal desafio, no entanto, apontado por todos, é a carência de sistemas de transmissão. Só a Eletrosul deve investir R$ 3,2 bilhões na instalação e ampliação de linhas e subestações até 2018. “A velocidade de crescimento da rede é incompatível com o apetite dos investidores e a demanda por essa nova energia”, concorda Moraes.
Transmissão
Criada em 1968, a Eletrosul, sediada em Florianópolis (SC), é uma empresa pública controlada pela Eletrobras, ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME). A busca por fontes alternativas visando diversificar a matriz energética nacional, resultado de um trabalho intenso de pesquisa e desenvolvimento, fez com que a empresa se consolidasse como a maior empreendedora em energia eólica no Sul do País.
Atualmente, através de parcerias estratégicas, ela finaliza a implantação do maior complexo eólico da América Latina (veja tabela III), com capacidade instalada de 583 MW (Megawatts), o Campos Neutrais, no Rio Grande do Sul (RS). Segundo Ronaldo Custódio, a próxima meta, antes de pensar em novos projetos, é ampliar os sistemas de transmissão do estado. Para isso, a Eletrosul vai investir mais de R$ 3,2 bilhões, até 2018, em concessões obtidas no Leilão 04/2014 da ANEEL.
Os projetos, que incluem também o Estado do Mato Grosso do Sul, totalizam 2,1 km de linhas, 8 novas subestações e a ampliação de outras 16 existentes. “Não há como planejar novos projetos eólicos de grande porte sem esse sistema de transmissão. Após essas obras, poderemos retomar os investimentos no segmento eólico”, explica Custódio.
Expansão
Embora críticas da falta de uma infraestrutura adequada de transmissão, outras duas empresas continuam a expandir seu portfólio eólico: a Atlantic e a Serveng Energia.
Holding composta pela britânica Actis (60%), pela brasileira Pattac (24%) e pela espanhola Servinoga S.L. (16%), a Atlantic foi fundada em 2009, em Curitiba (PR). Hoje, já possui empreendimentos eólicos e hidrelétricos no Piauí (PI), Bahia (BA), Rio Grande do Sul (RS) e em Santa Catarina (SC).
Na geração eólica, quatro projetos estão cadastrados para participar dos leilões da ANEEL. Dois são complexos em implantação na Bahia: Licínio de Almeida, com 180 MW de capacidade instalada, e Tanque Novo (166 MW). Os dois restantes são obras de expansão: do complexo Santa Vitória do Palmar (RS), em 150 MW, e do complexo Lagoa do Barro (PI), em 27 MW.
Em operação desde 2015 estão o Eurus II e o Renascença V, no Rio Grande do Norte, e Morrinhos, na Bahia (veja tabela I). Segundo Moraes, os parques Eurus II e Renascença V, em conjunto, alcançaram fator de capacidade de 79,2% em agosto passado, conforme relatório do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). O índice foi o maior entre os parques eólicos em operação no Brasil no período avaliado.
Moraes diz que o plano é chegar a 652 MW de capacidade instalada até o final de 2018. Em 2016, os acionistas da holding devem discutir o segundo business plan para atingir o pipeline de 1 GW (Gigawatt) em projetos eólicos.
Já a Serveng Energia integra o Grupo Serveng, que atua na área de infraestrutura desde 1954 e agrega empresas de mineração, transportes e desenvolvimento imobiliário. No setor de geração de energia elétrica, o único empreendimento era, até pouco tempo, a UHE Corumba IV, em Goiás. Desde 2014, a divisão passou a investir em geração eólica, através do projeto Ventos Potiguares.
“Por enquanto, nosso interesse permanece no Rio Grande do Norte (RN). A decisão de diversificar para outros estados é estratégica e será avaliada antes de cada leilão da ANEEL”, explica Lima e Silva. No estado, a empresa possui 10 parques eólicos em operação e outros cinco em implantação ou expansão.
Em sua opinião, o crescimento do mercado brasileiro de energia eólica será constante nos próximos 20 anos, a uma taxa de 1 GW, no mínimo, ao ano. “Nossa estratégia é continuar crescendo neste mercado, aos poucos, mas de forma contínua”, complementa o executivo.