De muito ruim a um pouco melhor, a avaliação do ano de 2017, em comparação ao de 2016, varia entre os agentes do setor de elevação e transporte de cargas pesadas e especiais. Também não há grandes expectativas para 2018, um ano de mudanças nos atuais governos do país e estados e – espera-se – de grande renovação no Congresso Nacional e assembleias estaduais. Ainda assim, há uma projeção positiva para o período, de forma geral, amparada na concretização de concessões de obras e serviços públicos, de parcerias público-privadas e novos – ainda que reduzidos – programas de investimentos estatais.
Não é uma projeção inconsistente. Em três áreas que interessam diretamente ao setor – energia eólica e petróleo e gás -, as empresas que venceram leilões e licitações em 2017 devem começar a mobilizar os canteiros de obras de seus projetos (veja box) neste ano ainda. Já o Programa Avançar Parcerias, criado em 2016, tem ainda 75 projetos para leilão neste ano, 55 deles no segmento de logística – aeroportos, portos, rodovias e ferrovias.
Balanço do ano de 2017
Para a Locar Guindastes e Transportes Intermodais, o ano de 2017 ficou bastante aquém das expectativas, que já não eram grandes, diz Amilcar Spinetti Filho, diretor técnico corporativo da empresa. “Esperávamos que, em virtude da mudança de presidente que tivemos, haveria alguma melhora. Mas, as coisas não andaram e o país não saiu da inércia em que se encontrava. No nosso caso e em todo o mercado também, muitos equipamentos ficaram ociosos em função da crise econômica. Com isso, houve uma grande saída de máquinas do Brasil, o que pode ser positivo. Quando o crescimento for retomado, já não haverá uma oferta tão grande de frota, trazendo um equilíbrio ao setor “, explica.
Na Guindastes Tatuapé, 2017 foi um ano semelhante a 2016 em termos comerciais. Ainda assim, a empresa continuou buscando melhorias em resultados financeiros. Denys Garzon Rodrigues, diretor comercial da locadora, conta que foi possível equalizar os custos operacionais e revisar algumas práticas para otimizá-las.
Fernando Rodrigues, vice presidente da Makro Engenharia, avalia que 2017 não foi melhor que o ano anterior, mas tampouco foi pior. “A situação deixou de piorar ao longo do ano. De nossa parte, fizemos a lição de casa, otimizando a empresa para atuar nas condições atuais de mercado, e estamos colhendo os frutos desse trabalho. Temos uma estrutura mais leve, rentável e eficiente e ela está mais saudável para operar num cenário de retomada da economia”, assegura.
No Grupo Darcy Pacheco, o ano passado foi melhor que 2016, em especial no segundo semestre quando o mercado voltou a se aquecer com oportunidades de novos investimentos interessantes para a iniciativa privada, diz o coordenador de projetos Emmanuel Demidover.
Antônio Luiz Leite, diretor da Primax Transportes Pesados, diz que “2017 foi um pouquinhho melhor, mas ainda distante de recompor tudo o que perdemos em 2015 e 2016. Ainda assim, tivemos um ano bastante produtivo”.
Diretor da Enesa Engenharia, André Luís Marques não vê diferenças entre os dois últimos anos. “A empresa manteve o mesmo ritmo de trabalho. As obras que tínhamos em 2016 continuaram em 2017”, explica.
Para Luiz Natal Laurenti, diretor de negócios da Transdata Movimentação de Cargas Complexas, 2016 foi um ano melhor que 2017 em termos de faturamento. embora sua queda não tenha sido muito significativa no ano passado. “Foi uma queda lenta porque tínhamos muitos contratos de longo prazo que estavam em execução”, avalia.
Análises perspectivas no novo ano
Spinetti também não espera grandes avanços para 2018, inclusive por ser um ano eleitoral, o que fez a Locar repensar seus investimentos e também a forma de executar suas operações. “Tivemos que nos readequar a uma nova realidade, mudando a forma de pensar e de trabalhar. Esperamos que 2018 seja, ao menos, ano igual ou um pouco melhor que 2017. Ainda assim, no nosso segmento de negócio, que são os guindastes de maior porte e o transporte pesado, não acredito que tenhamos tanta demanda como gostaríamos”, conclui o executivo.
Rodrigues acredita na retomada da economia nacional. “A Guindastes Tatuapé tem recebido um volume maior de consultas e esperamos que muitas propostas se concretizem em novos contratos”, justifica.
Também Fernando Rodrigues prevê uma leve melhora em 2018, mas espera que a “grande virada” mesmo aconteça em 2019. “Temos mais um ano de mercado ainda meio parado, mas no próximo ano haverá uma retomada forte”, diz.
Os planos da Transdata são de crescer em 2018, diz Laurenti, agregando novos mercados fora do Brasil, na América do Sul e América Central. A estratégia de internacionalização da empresa foi iniciada no final de 2016, estruturada em 2017 e já deve gerar negócios neste ano, segundo o diretor.
Na Darcy Pacheco, as boas perspectivas para 2018 estão relacionadas aos leilões de energia do governo federal, principalmente no que se refere aos projetos de geração eólica. “Esses leilões apontam para um horizonte de investimentos em novas usinas, não apenas no curto prazo – entre os próximos 4 a 6 anos – como no longo prazo, já que as energias renováveis, entre elas a eólica, serão cada vez mais incentivadas. Como nos especializamos na montagem de parques eólicos e contamos com nossa frota de guindastes e transporte pesado para apoio dessas operações, esse segmento é muito promissor para a Darcy Pacheco”, explica Demidover.
O gerente comercial do grupo, Cristiano Inocente, acrescenta que também o leilões também interessam pelos projetos de termelétricas e energia solar, que demandam soluções de engenharia para a montagem das usinas e o transporte de seus componentes. Além disso, ele destaca a recapitalização da Petrobras, que deve gerar novas obras no segmento de petróleo e gás.
Leite espera que, em 2018, o Brasil retome o rumo do crescimento econômico, mesmo com todas as dificuldades políticas que deve enfrentar.
Confiante em uma melhora da economia em 2018, Marques diz que a Enesa aguarda a contratação em três grandes projetos, em especial no Pará, com a retomada das obras da UHE (Usina Hidrelétrica) de Belo Monte, e no Sergipe, a implantação da UTE (Usina Termelétrica) Porto Sergipe pela GE.
Fabricantes preparados para a retomada
Mesmo em um ano bastante complicado em termos de vendas como foi 2017, a área de guindastes móveis da Liebherr conseguiu cumprir seu budget. Muito por conta da realização de estudos técnicos e viabilização do içamento de cargas especiais, principalmente para projetos do setor eólico. A empresa voltou ao mercado de Rough Terrains (RTs) com equipamentos para 90 e 100 t e lançou novos modelos de guindastes e de sistemas de lanças para as máquinas de esteiras de 600 t e para a LG 1750, para içamento de peças de 100 a 120 t a alturas de 140 a 160 m.
Quanto a 2018, diz o gerente da Divisão de Guindastes Móveis, César Schmidt, a maior expectativa é a eleição de um dirigente capaz de trazer investimentos e boas perspectivas para o país. “Em 2017, os investimentos em infraestrutura não chegaram a 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, quando deveriam ser de 4,5 a 5%. Ou seja, o crescimento econômico que já parece surgir em outros setores, como o de automóveis e eletroeletrônicos, ainda não chegou para o nosso setor. Dependemos diretamente de obras em infraestrutura e em óleo e gás, setores que continuam paralisados”, considera o gerente.
Preocupadas com o cenário econômico do país, as empresas brasileiras buscam reduzir custos operacionais e preços. Algumas apenas receberam máquinas que já pagaram e não pretendem fazer investimentos no curto prazo.Buscam sobreviver até surgirem novos projetos de infraestrutura e, com eles, novos contratos, que possibilitarão o retorno dos investimentos. Por outro lado, os preços dos equipamentos estão mais elevados, o que também dificulta sua aquisição.
Para renovar a frota, a opção tem sido por máquinas seminovas, com dois ou três anos de idade. Essa é a avaliação do mercado brasileiro de elevação de cargas pesadas por Yasuaki Kishimoto, presidente da Tadano Brasil. Apesar dessas condições desfavoráveis, a fabricante trouxe três novos modelos de guindastes sobre caminhão para o Brasil em 2017, de 30, 60 e 75 t. “Também investimos na área de suporte ao cliente, principalmente no treinamento contínuo de nossas equipes e no aumento do estoque de peças de reposição”, acrescenta o executivo. Para 2018, ele não acredita em grandes avanços em relação ao ano passado. “Há algumas possibilidades para nossos clientes na Petrobras. Mas não há, ainda, nenhuma razão para que eles voltem a realizar grandes investimentos em frota”, conclui.
Num ano meio “tímido” de mercado, a XCMG lançou seu guindaste de 90 t, com quatro eixos direcionáveis e plataforma de caminhão e um acessório – um semirreboque para carregar o contrapeso. Para 2018, diz o gerente de vendas da marca, Deivid Garcia, outras novidades virão para buscar um crescimento de vendas entre 25 a 30%. 2017 foi ano de se preparar para essa retomada: foram realizados investimentos no centro de desenvolvimento e tecnologia da XCMG no país, que conta com engenheiros chineses e brasileiros; a equipe de pós-venda foi reforçada e o atendimento foi segmentado entre máquinas maiores e menores.
Para a Manitowoc, o ano de 2017 foi pior que o de 2016 no Brasil, mas foi melhor nos outros países da América do Sul, segundo o diretor comercial da fabricante para o país, Rene Porto. Os equipamentos de destaque no ano forma os Rough Terrains (RTs) GRT 655/655L e 880; a linha All Terrain de 5 eixos – GMK 5150L/5180/5200/5250L e os modelos sobre esteiras MLC 300/650. Na área de suporte ao produto, o estoque de peças de reposição foi transferido para São Paulo e ganhou uma nova estrutura logística para reduzir o prazo de entrega em todo o país e a equipe de pós-vendas foi ampliada. Para Porto, o ano de 2018, apesar da incerteza quanto ao resultado das eleições, tende a ser melhor em razão de possíveis concessões, parcerias público privadas e investimentos em obras públicas de infraestrutura como as incluídas no Programa Avançar, do governo federal, com recursos da ordem de R$ 50 bilhões.
Na Hyva, a previsão é de crescimento do mercado brasileiro e também do mercado externo. “Nós estamos trabalhando com um cenário de crescimento significativo do mercado de guindastes no Brasil para 2018 bem como para os próximos anos. Também acreditamos em crescimento das exportações, alavancadas pela desvalorização do real e por ganhos de produtividade na nossa operação”, diz o diretor da unidade de guindastes, Paulo Nonemacher.
Confiante nessas duas premissas, a empresa voltou a investir em novos produtos para o mercado brasileiro e para a América Latina. “Nossa meta é lançar seis novos guindastes neste ano, visando aumentar a oferta de produtos a nossos clientes e também participar de nichos específicos de mercado onde até então não atuávamos”, revela o executivo.
Num ano de negociações difíceis, a maior aproximação com os clientes foi fundamental para apresentar os diferenciais – em termos de qualidade e desempenho – dos produtos da Verope do Brasil, fabricante de cabos de aço, em comparação a soluções mais baratas, mas de menor valor agregado e durabilidade. Relativamente nova no país – onde chegou em 2015 – a empresa já teve um crescimento significativo e constatou que há espaço para atuar em seu segmento de mercado. Tanto que 2017 foi um ano melhor que 2016 para ela. Para 2018, a gerente de marketing, Melissa Rodrigues, espera ampliar a abrangência da marca atendendo a um maior portfólio de clientes a partir da criação de novas oportunidades de negócios.
Fotos: Gildo Mendes