Por Ronaldo Gonçalves Cruz (*)

Como podemos reforçar a segurança das pessoas e incorporar aprendizados, buscando ser uma organização de alta confiabilidade?

A resposta para esta pergunta seguirá neste texto quando descreveremos não apenas uma iniciativa, mas também a contribuição neste sentido para o Brasil por parte de uma das maiores empresas deste país.

O processo movimentação de cargas demanda um conhecimento complexo e está presente em todas as unidades da Petrobras, pois faz parte de sua cadeia logística. As atividades que o compõe requerem muita atuação e interação humana, utilizam grande diversidade de equipamentos e procedimentos operacionais, o que consequentemente as tornam atividades intrinsecamente de risco.

Ciente do exposto, a Petrobras trabalha ativamente na implantação de normas e padrões relacionadas ao tema, os mantendo atualizados, assim como observando atentamente a capacitação de seus profissionais nestas referências.

A norma Petrobras N-2869 intitulada Segurança em Movimentação de cargas é de extrema importância neste contexto. Estruturada originalmente para “guiar” operações desta natureza nas áreas offshore e terrestre sentiu o peso do crescimento da empresa e da expansão das suas áreas de atuação, tanto através de recursos próprios como terceirizados, ambos sob sua total responsabilidade.

Ao perceber tal cenário, reforçar a segurança das pessoas e das instalações; transmitir e disseminar o conhecimento através de lições aprendidas e melhores práticas operacionais; preencher as lacunas e definir requisitos de segurança em ambientes industriais, onshore e offshore passaram a ser objetivos para a grande revisão da N-2869 iniciada em 2022.

Até o final do ano de 2023, portanto quase 2 anos de trabalhos, a norma sofreu uma profunda revisão tendo como metodologia para revisão a pesquisa bibliográfica em normas regulamentadoras, portarias, regulamentos, normas nacionais e estrangeiras, guias e manuais de fabricantes, conduzida por especialistas e profissionais da empresa e convidados externos. Esta atuação conjunta foi possibilitada pelo caráter público que a norma passou a ter, o que explica a citação do início deste texto quanto a contribuição da Petrobras para segurança de processos de movimentação de cargas não limitados a aqueles sob sua responsabilidade.

A abordagem norteadora do trabalho de revisão foi a franca ampliação, tanto em quantidade como em profundidade dos assuntos abordados. A norma apresenta uma taxonomia inédita e inovadora para organizar os equipamentos e tipos de atividades do processo movimentação de cargas, além de uma forma de compendio. Sua estrutura, cuidadosamente organizada em seções e capítulos, foi desenvolvida para servir como um guia facilitando o entendimento e a consulta.

Mas para que seja possível ter uma ideia da grandeza dos esforços e dos trabalhos desenvolvidos, a Figura 1 mostra um quadro comparativo resumido entre a versão até o momento vigente da norma, identificada como Revisão A, e a versão em elaboração, Revisão B.

Figura 1 – Comparativo entre as Revisões A e B da N-2869

O texto da Revisão B da N-2869, apresentado internamente em 2023, passou nos meses seguintes por uma análise crítica conduzida por especialistas externos à Petrobras que não participaram dos trabalhos anteriores. Isto foi feito com o objetivo de estabelecer e disponibilizar um parecer conclusivo voltado para o aprimoramento de uma nova forma de disseminar orientações de segurança relacionadas ao processo de movimentação de cargas.  A análise foi concluída em março de 2025, os apontamentos consequentes se encontram em avaliação pela Petrobras.

Destaque na revisão, o foco em capacitação demanda atenção, a eficácia da norma depende diretamente da capacitação dos profissionais envolvidos, uma vez que apenas estabelecer requisitos não é suficiente para se operar de forma segura. A Petrobras deverá investir continuamente nos programas de treinamento definidos, viabilizando acesso a todos os colaboradores e contratados com foco na compreensão e aplicação correta dos apontamentos estabelecidos nesta nova norma.

Com a sua futura publicação e implementação espera-se avançar no processo de gestão, redução de acidentes e disseminação do conhecimento para os usuários de movimentação de cargas na Petrobras, bem como para a indústria nacional, por ser tratar de uma norma pública.

Este texto teve como coautor o Consultor pelo segmento E&P no tema movimentação de cargas, Antônio Martins Carrion Neto, também coordenador pela Petrobras dos trabalhos de revisão da N-2869.

 (*) Ronaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: ronaldo.cruz@cargopro.com.br