Esta é a história de dois irmãos: Rodolfo e Tomás, dois anos mais novo. Em 1965, o pai, Pedro Cunzolo (lê-se Cúnzolo) deu aos dois uma pá carregadeira CAT 933 F. Era hora de trabalhar por conta própria. Algo que ele, imigrante italiano, tinha conseguido com muito trabalho e dedicação. Pedro, que chegara ao Brasil aos 17 anos, tinha em sociedade uma empresa de terraplanagem, na região de Pinheiros e Butantã, capital paulista.

O começo tinha sido meio heroico como tudo que se relacionava a obras naquela época. O transporte de terra era feito por pequenas carroças tracionadas por animais. E mesmo em São Paulo era preciso provisionar alojamento e instalar armazéns para refeições aos funcionários nos locais mais distantes.

Em meados dos 60, no entanto, Pedro até contratava carreteiros para dar conta do serviço. Os meninos o ajudavam, não estavam à toa, embora tivessem outros planos. Rodolfo, com 20 anos, estudava economia, e Tomás, que chegara à maioridade, direito.

Ambos se formaram depois, mas o destino estava selado. Com a máquina em mãos, saíram à procura de serviços de terraplanagem, da maneira como se fazia na época: percorrendo a cidade, perguntando aqui e ali. E conseguiram, a ponto de começarem a comprar seus próprios caminhões. Daí, o pai falou: “Está na hora de vocês constituírem uma firma”. Já era o ano de 1967 e, no dia 23 de junho, nascia a Cunzolo. Essa data e a longa trajetória de 55 anos é o que se comemora neste ano de 2022, tanto em São José dos Campos quanto em Campinas, as duas matrizes, com grande sinergia entre si, respectivamente, da família de Rodolfo e de Tomás.

Deixemos para explicar a seu tempo essa história de “duas cunzolos”. Voltemos ao final dos anos 60, quando os dois irmãos lançavam as bases da empresa que viria a ser uma das principais locadoras do país – e, certamente, uma das mais inovadoras, no que diz respeito à introdução de novos equipamentos para movimentação de cargas e trabalho em altura.

Os serviços de terraplanagem continuavam a ser o carro-chefe dos negócios da nova empresa, sediada ainda no fundo da casa dos pais, em Pinheiros. Era uma época, como agora, de um grande boom de construções prediais. Com um agravante: os projetos já aprovados tiveram que ser acelerados por conta de uma mudança no código de edificações da cidade. Foi uma correria. A avenida Angélica, que liga a região da Paulista ao centro, por exemplo, passou por um intenso processo de verticalização. E a Cunzolo e Irmãos Cunzolo participou ativamente nos trabalhos de escavação e remoção de terra nas fundações de muitos daqueles prédios.

A frota foi sendo ampliada e, em 1969, os irmãos Cunzolo compraram o primeiro caminhão basculante. Mas, ao contrário, do que se pode imaginar hoje, não era somente para remoção de terra. E, sim, para entregar pás carregadeiras nas obras. Naquele tempo, em regra, a movimentação e retirada de materiais das obras era feita com carretas. Não demorou muito para a vizinhança começar a reclamar da sujeira nas ruas. Ali, em particular, uma área nobre, as “peruas” da fiscalização passaram a fazer rondas e um plantão permanente.

As restrições aumentaram, até que a prefeitura proibiu de vez que equipamentos utilizados em construções sujassem as ruas. Para não ter que arcar com pesadas multas, como outros empreiteiros, os irmãos Cunzolo buscaram alternativas, intensificando o uso não somente de escavadeiras, mas também de retroescavadeiras no canteiro de obras. Chegaram a ter, inclusive, mais de 20 unidades, uma novidade naquele tipo de serviço.

Dois anos se passaram, outros serviços surgiram, mas a terraplanagem passou a ser uma atividade de risco na cidade de São Paulo. Tornou-se uma obsessão para os irmãos Cunzolo encontrar nas obras alguma outra atividade que “não sujasse as ruas”. Eles já tinham visto muitos guindastes nas obras do “minhocão”, a via elevada de ligação entre o centro e as zonas leste e oeste da capital, inaugurado em janeiro de 1971. Chegaram mesmo a conversar com alguns operadores, especular enfim sobre aquele tipo de serviço, preços de locação, etc. Naquele mesmo ano, em um belo dia, como se diz, ao cair da tarde, Tomás parou para ver o canteiro de obras do metrô no Vale do Anhangabaú. E lá estavam eles: os guindastes.

Não demorou muito e lhe caiu em mãos um exemplar da revista “O Empreiteiro”, que eles recebiam, empreiteiros que eram. Ao folhear, se deparou com um anúncio. Não era de um Bucyrus, treliçado, como os que vira na obra, mas um outro tipo: um Bantan S628 telescópico, com capacidade para 18 toneladas. Chamou Rodolfo e repetiu o que lhe ocorrera na obra do metrô: “nós gostamos de equipamentos e este trabalha parado, não faz sujeira…”.

Havia um revendedor no país, a Geovia, mas a primeira unidade, feitas as contas, os irmãos Cunzolo resolveram importar, dos Estados Unidos. Um detalhe importante é que não havia ainda um serviço definido para o Bantan S628 (um contrato, como se diria hoje). Quando chegou, o guindaste ficou 40 dias parado. Como no caso da velha pá carregadeira 933 F, os irmãos tiveram que bater à porta dos clientes. Literalmente. Chegaram a ir até Cubatão, para oferecer serviços nas obras de ampliação da COSIPA (Companhia Siderúrgica Paulista), um dos grandes projetos em execução naquela época.

Ali e em outros lugares, quando recebidos, havia quase sempre duas razões de espanto: primeiro, o fato de serem muito jovens (“mas vocês têm mesmo essa máquina?”); segundo, por ser uma máquina moderna para a época, quando não existiam tantos guindastes telescópicos assim – para alugar, muito menos.

O primeiro cliente enfim apareceu. Não lá, na Baixada Santista, mas em outra cidade, Embu, em um porto de areia para a montagem de caixas de decantação. Um serviço digno como qualquer outro, mas parecia pouco para o Bantan S628. A oportunidade surgiu ainda em 1972, na refinaria de Paulínia (Replan), a maior da Petrobras, já em sua fase final de implantação. O contratante era a Techint, nessa obra e, depois, no trecho paulista do gasoduto Brasil Bolívia, o principal cliente nessa fase de alavancagem da Cunzolo – e um dos maiores, senão o maior, em toda a história da empresa.

Dentre às empreiteiras, o cliente inesquecível foi a Lix da Cunha, que tinha sua sede em Campinas. A Cunzolo alugava principalmente escavadeiras para eles, já que os guindastes estavam direcionados para a… COSIPA. Sim, aquela visita em Cubatão afinal rendera frutos. Na Lix da Cunha, os irmãos Cunzolo foram surpreendidos por uma proposta: “Por que vocês não vêm para Campinas? Tem serviço e muitas vezes a gente não pode atender (eles também tinham um guindaste Bantan) e aí passamos para vocês”.

Lembrando que Paulínia é próxima e que a Cunzolo já tinha outro cliente na cidade – a Nativa, que fazia linhas de transmissão – Rodolfo e Tomás saíram dali da sede da Lix da Cunha procurando um imóvel, beira de estrada, na Anhanguera. Estamos falando do biênio 1977-1978 que foi um divisor de águas na história da Cunzolo.

Foco no içamento

Nesse tempo, claro, a empresa já tinha deixado o terreno da família e estava instalada em área de 1.200 m2 na Vila Sonia. Mas teve que se mudar por problemas com a vizinhança que havia se formado no entorno. Os dois irmãos seguiram um pouco mais adiante e instalaram a Cunzolo em Taboão da Serra, em uma área com 4.600 m2. Um local maior e mais adequado ao novo perfil majoritário da frota: guindastes. A terraplanagem havia ficado para trás e dera lugar a novos Bantan e outras marcas, em particular naquela fase à Grove. Coroando o período de mudanças: a abertura da filial, algo inédito até então no segmento de elevação de cargas.

E foi em Campinas que a Cunzolo encontrou terreno fértil para uma de suas especialidades, que se mantém até hoje: o atendimento ao setor industrial e, para tanto, a formação de uma frota de equipamentos diferenciados. O trabalho regional tinha se mostrado tão promissor que os irmãos Cunzolo começaram a procurar outras cidades, distantes de 80 a 100 Km da capital paulista. Depois de muitas buscas, se decidiram por São José dos Campos e assim surgia, em 1982, a segunda filial da Cunzolo.

As duas cunzolos

Tudo corria bem, até 1995, quando os sócios se desentenderam em relação ao direcionamento do negócio, às prioridades da empresa. Rodolfo e Tomás dividiram tudo ao meio e resolveram se separar: cada um que fizesse o que bem entendesse com sua parte. Mas havia um problema: a filial Campinas já estava mais consolidada e era bem promissora à época. O que fazer? Decidiram-se por um sorteio? Como? Pelo mais antigo método desde que inventaram o papel e depois o amigo secreto: papeizinhos. A família de Tomás ficou com Campinas, a de Rodolfo com São José dos Campos, e o resultado foi respeitado por ambas as partes.

Surgia então a Cunzolo Guindastes e Plataformas, em Campinas, e a Cunzolo Máquinas e Equipamentos, em São José dos Campos – que se revelaria igualmente promissora nos anos seguintes. Se houve ressentimentos de parte a parte no início, o que é normal em qualquer separação, o fato é que as duas empresas com o tempo se tornaram complementares, atuando em conjunto, fortalecendo a presença em cada região e compartilhando os equipamentos em ambos os locais.

“Um aspecto positivo também é que as duas novas empresas abriram espaço para a próxima geração atuar”, avalia hoje Marcos Cunzolo, filho de Rodolfo e diretor executivo da Cunzolo em São José dos Campos. Fábio Cunzolo, filho de Tomás e vice-presidente da Cunzolo em Campinas, vai na mesma linha.

“Nós ganhamos um espaço que não teríamos na Cunzolo e Irmão Ltda”. Junto com as irmãs de um e de outro, Renata e Valéria, eles estavam querendo trabalhar e colocar em prática suas próprias ideias. Principalmente os dois meninos que desde pequenos tinham demonstrado interesse em continuar, de seguir carreira dentro da movimentação de cargas.

De um certo modo, a história dos dois irmãos se repetia agora com os dois primos (e primas). “Foi uma decisão sábia de cada um seguir o seu caminho, dentro da filosofia Cunzolo. Ninguém perdeu a essência e isso foi o mais importante e faz com que a gente faça a parceria até hoje, com base no que o seu Rodolfo e o seu Tomás deixaram para nós. Acho que o principal é cada um de nós sabe que não somos maiores do que a Cunzolo, do nome que a gente leva”, diz Fábio. E que valores são esses? O melhor da história é que Rodolfo, aos 77 anos, e Tomás, aos 75, ainda bastante atuantes e com voz ativa em ambas as empresas, estão aí para contar.

A melhor tradução talvez seja a de Rodolfo, para conseguir superar todas as dificuldades, cair e se levantar, e chegar aos 55 anos, em um país em que a maioria das empresas fecha depois de 5 anos, como lembra Tomás. “Nosso pai sempre dizia que, em qualquer profissão, é preciso se aperfeiçoar e, com honestidade e dedicação, procurar ser um dos melhores naquilo que se quer fazer”, diz Rodolfo. Outro aspecto importante desse legado e que chega à terceira geração (a contar de Pedro) é o grande apreço às relações de longo prazo, com todos: funcionários, clientes, fornecedores e todos de um modo geral. E isso só se consegue, lembra Fábio Cunzolo, “com respeito, transparência e ética nas decisões que temos que tomar no dia a dia. E isso aprendemos com o ‘seo’ Rodolfo e Tomás”.

Dois anos após a separação, os quatro – Rodolfo, Marcos, Tomás e Fábio –estavam juntos em Las Vegas (EUA), percorrendo os estantes da Conexpo, feira internacional de equipamentos. Lá encontraram André Freire, então representante da Genie no Brasil e a Cunzolo (Campinas) assinou a ordem de compra da primeira plataforma de trabalho aéreo da marca francesa para o Brasil. Era o início, em 1999, da entrada de ambas as empresas no trabalho em altura. “Depois, nos anos 2000 vieram as plataformas aéreas sobre caminhão (hoje chamado de cesto aéreo acoplado), onde fomos os primeiros a importar PTAs com alturas acima de 20 m, na sequência o transporte rodoviário de peças excedentes, e os guindastes articulados de grande capacidade”, diz Marcos Cunzolo.

Nesse momento ganhava forma definitiva um dos diferenciais da Cunzolo que é o investimento em equipamentos exclusivos para atender a demanda de seus clientes. E todos a seu tempo e muitos até hoje inovadores no mercado. Dentre os quais o guindaste rodoviário Liebherr LTM 1070-4.2, o guindaste articulado Fassi F1950, o maior guindauto de sua categoria na América Latina e a plataforma sobre caminhão Barin, a única plataforma Barin existente no Brasil para inspeção de pontes e viadutos. E, mais recentemente, o guindaste Tadano ATF 400G-6, para 400 toneladas, ativo da Cunzolo, de São José dos Campos, mas compartilhado e destaque da frota atual das duas empresas – além de um cesto aéreo Socage 37DJ, com 37 metros de altura.

A partir do início dos anos 2.000, com a aquisição de maior capacidade, a Cunzolo, empresa com atuação mais restrita a São Paulo, também passou a operar em outros estados. A empresa teve participação em grandes obras infraestrutura, de modernização das refinarias, usinas hidrelétricas, implantação e ampliação de industrias e paradas de manutenção de fabricas. “Sempre foi um grande desafio operar em um país com grandes distâncias como o Brasil, onde a estrutura de apoio costuma ser precária. Desde sempre, optamos pela formação da mão de obra interna, o que nos possibilitou contar em qualquer projeto com uma equipe de alta performance”, diz Marcos Cunzolo.

A força e capacitação atual das operações da Cunzolo está bem representada no site único www.cunzolo.com.br. Onde se lê que se trata de um grupo com bases operacionais em Campinas e São José dos Campos, mas também em Taubaté, Sorocaba e Três Lagoas (MS). O escopo é bastante amplo e inclui locação de guindastes, remoções industriais, plataformas aéreas, planos de rigging, transporte pesado e inspeção de pontes.

A unidade em São José dos Campos está estruturada em duas unidades de negócios: Movimentação de Cargas e Acesso em Altura. Conta com mais de 300 equipamentos e cerca de 150 funcionários, na matriz, em Taubaté, Pindamonhangaba e em Três Lagoas. Em Campinas e na filial em Sorocaba, são três divisões: Plataformas Aéreas, Guindastes e Remoções Industriais e Transportes. São 90 funcionários e cerca de 200 equipamentos, os mais variados.

Dentre ações recentes no processo de gestão das empresas, Marcos Cunzolo destaca o investimento no desenvolvimento de aplicativos. Tanto para apontamento de horas e check list dos equipamentos on line, como para planejamento das operações, que passaram a contar também com uma torre de Controle logístico. Fábio Cunzolo cita de sua parte a criação de um departamento interno de segurança no trabalho, antes terceirizado, que gerou consciência maior de segurança entre os colaboradores

Em relação à frota, o momento atual é de continuidade a um processo de renovação, iniciado em 2021, depois da superação da crise, vivenciada por todo o mercado entre 2013 a 2019. A expectativa é pela chegada de novos guindastes até o final do ano e em 2023. De qualquer modo, uma prioridade que se mantém historicamente é com a capacitação das equipes internas de manutenção e de operação.

Perspectivas de mercado

A família Cunzolo chega aos 55 anos de atividade com as duas empresas bem posicionadas e capitalizadas, com a retomada dos projetos no setor a partir de 2019. E com bastante otimismo em relação às perspectivas de mercado. “Eu não sou diferente de outros brasileiros, e me preocupo porque sabemos que vem por aí um momento eleitoral, que é complicado, podendo gerar alguma turbulência. Mas as perspectivas são excelentes. Já estamos com muitas obras e contratos fechados, alguns para serem iniciados”, diz Fábio Cunzolo

Marcos Cunzolo garante que a empresa está preparada para atender as necessidades atuais e as futuras demandas. “Estamos muito confiantes e com negociações avançadas para participar de importantes projetos”. Não poderia faltar a palavra com a sabedoria dos dois irmãos fundadores:

Rodolfo: “Dificuldades sempre vão existir. O que nós sempre fizemos e continuamos fazendo é trabalhar. A parte política, eu peguei todas as crises. Você não pode ficar preso a isso, esperando. Nós não esperamos, vamos fazendo”. E Tomás: Eu acredito que vamos ter oito anos muito bons pela frente. A indústria de base irá crescer muito. Muitas empresas estão vindo para cá. Toda essa crise na no mundo é uma oportunidade para o Brasil, que tem energia e recursos naturais”.