O Brasil novamente vive a iminência de um apagão no final do ano. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), em boa hora, autorizou a operação, em regime de teste, de 16,15 MW de capacidade eólica no Nordeste, a partir de 10 de junho. Com isso, entraram em fase de comissionamento os parques eólicos Campo Largo XII e parte de Campo Largo XIII, em Sento Sé (BA), além do Parque Figueira Branca, em Touros (RN). Em Santa Luzia (PB), a Neoenergia, do mesmo modo, dia 29 de julho, iniciou o funcionamento dos primeiros dez aerogeradores do Complexo Chafariz.
Esse reforço no sistema elétrico não irá resolver o problema, mas poderá minimizar o impacto na economia, se não ocorrer a tempo uma reposição de água no nível dos reservatórios das hidrelétricas – o que é pouco provável.
A geração eólica é, portanto, estratégica para o desenvolvimento do país – com a vantagem de ser uma energia limpa e de baixo impacto ambiental, em comparação com grandes barragens. Projetos existem, como mostra o levantamento exclusivo feito pela equipe da revista Crane Brasil, com base nos registros oficiais da ANEEL, atualizados dia 1º de julho.
O “Mapa Eólico”, publicado na edição nº 78 da Revista Crane Brasil, aponta nada menos do que 164 parques em diferentes estágios de construção, em 28 municípios brasileiros, concentrados na Região Nordeste, em particular nos estados do Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba e Piauí. E que acrescentarão 4 GW ao patamar atual de 19 GW nos 726 parques eólicos instalados. O levantamento não inclui os empreendimentos já outorgados, mas com construção não iniciada (187 no total), segundo os critérios da Agência Nacional de Energia Elétrica.
Também consta no Mapa Eólico da Crane Brasil, sempre que foi possível identificar, o nome dos empreendedores – em sua maioria grupos empresariais europeus – o que é importante para mostrar o interesse em desenvolver o parque eólico, gerar energia para o país e ganhar dinheiro com isso e não somente mantê-lo como ativo, já que o período das outorgas para os titulares é bastante prolongado.
O mercado livre de energia e a disponibilidade de recursos, no exterior e também no Brasil – onde o BNDES tem sido determinante como agente de fomento da atividade – são fatores que contribuem para que esses parques sejam efetivamente finalizados e colocados em operação.
Maior prova é que, a despeito do grande número de parques em construção e com construção não iniciada, a ANEEL e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) realizaram, no dia 8 de julho último, um novo leilão (o primeiro desde o início da pandemia), que confirmou interesse da iniciativa privada em investir, nos próximos três anos, R$ 4 bilhões, dos quais R$ 1,75 bilhão, em 33 projetos eólicos na Bahia e Rio Grande do Norte.
O que não inclui o financiamento de R$ 1,62 bilhão, anunciado, uma semana depois, pelo BNDES para as novas usinas dos Complexos Eólicos Ventos do Piauí II e III, nos municípios de Betânia do Piauí, Curral Novo do Piauí, Paulistana, no Piauí, e Araripina e Ouricuri, em Pernambuco. Empreendimentos sob controle de um novo e importante player do segmento eólico: VTRM Energia Participações, joint venture entre a Votorantim Energia e o fundo canadense CPP Investments.
Um grande e dinâmico mercado, sem dúvida, se considerados ainda os serviços de manutenção, durante e após o ciclo de vida útil de 20 anos estimado para os parques eólicos. E esse último momento já chegou para muitos deles, os primeiros a serem implantados, ainda na década de 90. Estudo da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, “Empreendimentos eólicos em fim de vida útil”, publicado em fevereiro deste ano, mostra que, até 2030, mais de 50 parques (600 aerogeradores e 940 MW de potência) alcançarão esse limite. E, para os quais, três ações são possíveis: manutenção, modernização ou descomissionamento.