Em artigo instigante publicado no website do Fórum Econômico Mundial (WEF), dia 11 de janeiro, (https://bit.ly/3lidAlI), Jochen Eickholt, CEO da Siemens Gamesa Renewable Energy, aponta um descompasso entre as políticas públicas e a indústria de fornecedores que pode comprometer as previsões da Agência Internacional de Energia (IEA) que apontam a duplicação da geração de energia eólica nos próximos cinco anos. É preciso uma atualização rápida do ambiente regulatório, que justifique e viabilize os investimentos da indústria, em particular a de turbinas eólicas, alerta Eickholt.
Segundo ele, nada indica que o quadro de crises combinadas nos últimos anos não se repita em 2023. E a saída pode estar justamente no avanço das energias renováveis, criando um caminho que se afasta do gerenciamento de crises do dia a dia e passe a gerar, de forma sustentável, novas oportunidades e empregos. Mas, para tanto, é preciso equacionar problemas estruturais que foram criados anos atrás.
Para exemplificar, ele toma por base a Alemanha, onde o mercado de energia eólica onshore reduziu-se drasticamente desde 2017 e pouca ou nenhuma capacidade offshore foi adicionada nos últimos anos. Como consequência, os fornecedores fecharam as portas, pessoas qualificadas mudaram-se para outras indústrias e muitos milhares de empregos foram perdidos.
Jochen Eickholt lembra que em toda a Europa, 80 gigawatts (GW) cumulativos em projetos de energia eólica estão atualmente parados em diferentes estágios de licenciamento. Com 190 GWs em operação, diz ele, esses GWs adicionais poderiam ter ajudado a mitigar a atual crise energética europeia. Razão pela qual o “ímpeto sem precedentes por trás das renováveis” sugerido pela IEA deveria estar embasado em um ambiente regulatório atualizado. “Mas isso simplesmente não é o caso, e estamos apenas a alguns anos das adições de instalação projetadas e inigualáveis para as quais os fabricantes de equipamentos precisam se preparar hoje”.
Ele diz que atualmente os fabricantes não recebem os pedidos que desencadeariam o investimento maciço necessário de que toda a indústria eólica precisa. Isso inclui investimentos para os fornecedores de componentes-chave e matérias-primas, infraestrutura portuária, bem como toda a cadeia de valor. “Apesar das metas de instalação dos governos, não há certeza de planejamento no início de 2023. É preciso alinhar políticas públicas para uma cadeia de fornecimento de energia eólica eficaz”.
O CEO da Siemens Gamesa entende que as condições estruturais são definidas pelas pessoas. E que essas condições – indispensáveis para o desenvolvimento da indústria eólica – são bastante claras, incluindo:
- projetos de leilão com critérios qualitativos além do preço;
- planos concretos para expansões de rede;
- permissão simplificada e acelerada que se aplica a projetos novos e pendentes;
- volumes de mercado transparentes e estáveis a longo prazo para finalmente fechar a lacuna entre as ambições políticas e as licenças de instalação reais;
- acordos comerciais globais que garantem matérias-primas a preços justos;
- colaboração entre países e regiões;
- aumentar o financiamento para permitir novas capacidades de fabricação e desenvolvimento tecnológico.
“Se quisermos atingir as estimativas da IEA para energia eólica até 2027 e além, precisamos de turbinas eólicas, tanto onshore quanto offshore – e precisamos das condições certas para toda a cadeia de suprimentos agora, em 2023”.
Quadro: Rocky Mountain Institute (RMI)
Foto em destaque: DNV