O BRASIL QUE DÁ CERTO: NOS BASTIDORES E ALÉM DA CRISE

Com a escassez dos investimentos públicos, são os recursos privados de algumas cadeias produtivas que continuam a movimentar a economia brasileira para manter ou ampliar suas posições de mercado. Com o apoio de governos estaduais, através de isenções ou incentivos tributários e/ou fiscais e suporte logístico, uma multiplicidade de plantas industriais está em construção, em montagem do canteiro de obras ou com protocolos de intenções já publicamente firmados.

Nesse conjunto, uma nova fábrica de contêineres em Santa Catarina (SC) rouba a cena pelo volume de recursos anunciado: R$ 3 bilhões. Despontam também as fábricas de painéis solares em cinco estados, somando investimentos de R$ 440 milhões, e o projeto de uma usina solar, que está orçada em R$ 1,6 bilhão. A instalação de duas fábricas de cimento foi confirmada no Nordeste, a custos de R$ 700 milhões e cerca de R$ 1 bilhão, respectivamente.

Novas indústrias de alimentos totalizam recursos da ordem de R$ 1,5 bilhão e as de bebidas, de R$ 695 milhões, apenas entre as empresas que divulgaram esses valores. Também em alta, novas fábricas de embalagens para produtos farmacêuticos serão erguidas por R$ 656 milhões e uma de embalagens PET por R$ 100 milhões. Duas fábricas de componentes e sistemas automotivos acrescentam R$ 25,1 milhões a essa conta e uma de automóveis reduziu seu aporte para R$ 200 milhões, mas confirmou o empreendimento. E, como o mar não está para peixe, justifica-se plenamente uma planta de motores náuticos, que custará R$ 18 milhões. Sem falar no boom do setor eólico. Mas isso é assunto de outra matéria nesta edição.

Entre os estados, Goiás foi o que, em 2015, atraiu a maior soma do país em novos investimentos privados: R$ 1,7 bilhão, através de 23 protocolos de intenção alcançando 13 municípios.

Há também alguma luz no fim do túnel de obras de infraestrutura. Destacam-se, nesse rol, a modernização de portos na Paraíba e no Maranhão; a ampliação dos sistemas metroviários do Piauí, Bahia e São Paulo; o novo aeroporto de Macapá (AM); a recuperação da Ponte Hercílio Luz, em Santa Catarina e as hercúleas tratativas para colocar nos trilhos a Ferrovia Transoceânica, por parte de estados das regiões Norte e Centro-Oeste.

Máquinas e Veículos

Na Região Sul, o grupo italiano Cobo conclui a construção de seu primeiro Centro de Distribuição no Brasil, que deve começar a operar até março próximo, em Joinville (SC). A empresa quer partir da venda de máquinas agrícolas e para construção civil e de veículos industriais que fabrica, passando à produção nacional de assentos e colunas de direção para essas linhas de equipamentos.

Em Goiás, Luziânia, no entorno do Distrito Federal (DF), ganha duas fábricas de peças automotivas – CFS e Jamp -, com investimento total de R$ 25,1 milhões. Em Itumbiara, na região Sul do estado, a Verdy, fabricante de motores náuticos vai destinar R$ 18 milhões em sua nova planta industrial,

Já o grupo brasileiro SHC, reduziu os investimentos na fábrica da JAC Motors em Camaçari (BA) de R$ 1 bilhão para R$ 200 milhões, após a saída dos parceiros chineses, mas garantiu a retomada do projeto, anunciado em 2012, para a produção do veículo crossover T5 já a partir de 2017.

Nutrição e Bebidas

Em Pernambuco, a Unilever assinou, neste ano, um protocolo de intenções com o governo do estado para instalar seu novo complexo industrial de alimentos na cidade de Escada, investindo cerca de R$ 600 milhões. A fábrica deve entrar em operação entre o final de 2017 e o início de 2018.

No Norte, o polo industrial de Barcarena (PA) ganha uma unidade da Timac Agro Brasil, multinacional francesa produtora de nutrição vegetal, animal e humana, que investirá R$ 150 milhões no projeto, já com licença prévia de instalação e conclusão prevista para 2017.

Em Seropédica, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a BRF Carnes investirá R$ 180 milhões em uma nova fábrica, para produzir 53 mil t/ano de produtos embutidos e defumados das marcas Sadia e Perdigão.

Outra gigante do setor realiza sua expansão no Centro-Oeste. As cidades de Dourados, Itaporã, Sidrolândia e Caarapó (MS) receberão da JBS Foods investimentos de mais de R$ 1,2 bilhão. A maior parte deles – R$ 500 milhões – para ampliar a unidade de processamento de suínos, em Dourados. Em Sidrolândia e Caarapó serão instaladas novas linhas de produção de frango e, em Itaporã, o antigo frigorífico Pedra Bonita, adquirido pelo grupo, será transformado na maior planta industrial de perus da América Latina, por R$ 450 milhões.

O Oeste de Goiás ganhará uma planta da Icegol (sorvetes e gelados) e uma de sucos de frutas da Citrusa. Jataí contará com uma fábrica da Refrigerantes Arco Íris (R$ 45 milhões) e com uma de rações, armazenagem de grãos e industrialização de ovos da Granja Jataí (R$ 40 milhões). Em Rialma vai se instalar a FVO Brasília, fabricante de farinha de milho e derivados para a linha animal, com investimentos de R$ 20 milhões. Em Itumbiara, a Quality Alimentos já destinou R$ 32 milhões para uma fábrica de ração animal e incubadora de aves. Na cidade ficará, ainda, a nova fábrica da Heineken Brasil, estimada em R$ 650 milhões. Trata-se do maior investimento no estado e do maior do grupo alemão no país.

Também a Ambev anunciou uma nova fábrica, só que na Bahia, possivelmente em Alagoinhas ou Ondina.

Em Uberaba (MG), a Ubyfol, fabricante de fertilizantes especiais, planeja investir R$ 150 milhões em uma nova planta industrial de sulfatos e cloretos, matérias primas utilizadas na produção de fertilizantes e hoje importadas. O projeto está em fase de regularização de posse do terreno que sediará a unidade e deve ser iniciado no final de 2017.

Energia Solar

Já em Jataí, no sudoeste de Goiás, a Solis Solutions monta uma unidade para produção de painéis solares e componentes para o setor de energias renováveis. O aporte inicial de R$ 250 milhões pode chegar a R$ 1 bilhão nos próximos 5 anos.

Em Campinas (SP), a fábrica de painéis solares fotovoltaicos do grupo chinês BYD, a primeira do Brasil, custará R$ 150 milhões para produzir 400 MW/ano. Em 2015, o grupo já investiu R$ 100 milhões para a instalação de uma fábrica de ônibus elétricos na cidade. Até 2017, os planos da empresa são de aplicar R$ 1 bilhão no Brasil. Os recursos incluem um centro de pesquisa e desenvolvimento de estudos e tecnologias para veículos elétricos, baterias, smart grid, energia solar e iluminação.

Outro projeto, também de painéis solares fotovoltaicos, é da húngara Ecosolifer, orçado em R$ 40 milhões para uma primeira etapa visando a produção de 100 MW/ano em painéis solares. As células fotovoltaicas serão importadas da matriz da empresa, que negocia com o governo de Santa Catarina as condições para viabilizar o empreendimento. 

O maior investimento em geração de energia solar no Brasil é o da espanhola Solatio Energia, de cerca de R$ 1,6 bilhão para uma produção inicial de 150 MW em agosto de 2017 e, a partir de novembro desse ano, de 240 MW. Trata-se da maior usina de geração fotovoltaica da América Latina, cuja construção será iniciada em junho próximo e deve estar concluída em agosto de 2017, na cidade de Pirapora, norte de Minas Gerais. Os painéis solares serão fornecidos pela Canadian Solar.

Outro projeto em fase bastante adiantada de avaliação é o da fábrica de painéis solares da alemã Meyer Burger, no município de Paulistana, Piauí. Uma aplicação possível dos painéis solares será gerar energia para a irrigação diurna dos projetos Tabuleiros Litorâneos e Platôs de Guadalupe, de produção agrícola irrigada, realizados no estado, reduzindo o custo da energia elétrica, atualmente utilizada e barateando o preço dos produtos.

Construção e Mineração

Em Caaporã, na Paraíba, prossegue a implantação da fábrica da Votorantim Cimentos, iniciada em 2015 e com operação prevista para 2017. O investimento na nova planta, que será capaz de produzir 2 milhões de t/ano foi de R$ 700 milhões.

A Companhia Industrial de Cimento Apodi também anunciou, para este ano, o início da construção de sua terceira fábrica no país, em Santo Amaro das Brotas, no Sergipe. O projeto está orçado em cerca de R$ 1 bilhão para uma produção diária de 4 mil t de cimento.

No município de Água Clara, no Mato Grosso do Sul, o grupo Asperbras irá investir R$ 304 milhões em uma fábrica de painéis de madeira (MDF), para produção de 200 mil m³ de placas/ano. O projeto deve estar concluído em 2017.

A região Oeste de Goiás contará com uma metalúrgica com fundição da FM e uma fábrica de tintas e vernizes da NovaLux. Com os projetos da Icegol e da Citrusa (gelados e suco de frutas, respectivamente), os investimentos somam R$ 484 milhões. Já na região Noroeste do estado, em Faina, a mineradora australiana Orinoco Gold injetou recursos da ordem de R$ 39,3 milhões na implantação de uma mina e de uma planta para beneficiamento e fundição de ouro. A operação será iniciada ainda em 2016.

Embalagens

Em Anápolis, também em Goiás, a belga Gerresheimaer aportará R$ 50 milhões em obras de sua nova fábrica de embalagens para a indústria farmacêutica e de cosméticos e na aquisição de maquinários e equipamentos.

Em Sete Lagoas (MG), o grupo italiano Stevanato inicia a construção de uma planta para produção de cartuchos e ampolas de vidro para a indústria farmacêutica, com investimentos da ordem de R$ 136 milhões. O projeto estará concluído em 2017.

Na cidade de Simões Filho (BA), a Engepack, fabricante de embalagens PET, vai ampliar sua fábrica com investimentos de R$ 100 milhões. No mesmo segmento de mercado, a gigante Tetra Pak anunciou uma nova unidade fabril em Ponta Grossa (PR).

Logística

A DTA Engenharia venceu, por R$ 520,6 milhões, a primeira fase da concorrência pública para o derrocamento do Pedral do Lourenço, na Hidrovia do Tocantins (PA). A obra prevê a abertura de um canal navegável de cerca de 140 m de largura no trecho. A contratação inclui a elaboração, pela empresa, dos projetos básicos e executivo e a execução das obras em até 58 meses.

Na Paraíba, o projeto é a modernização do Porto de Cabedelo, com o aumento da dragagem para 11 m e a reestruturação do berço 101, onde atracam os petroleiros, entre outras medidas.

Também o governo do Maranhão anunciou investimentos de R$ 1,35 bilhão no Porto de Itaqui até 2017. Os recursos serão empregados na construção de novos berços e na ampliação do terminal de cargas de soja e celulose.

Em Santa Catarina (SC), a multinacional norueguesa Proso Management estuda a instalação de uma fábrica de contâineres no Porto de Imbituba, por cerca de U$ 3 bilhões. Os executivos da empresa realizaram uma visita técnica ao local, em dezembro passado, para avaliar sua adequação ao projeto.

No Amapá, a continuidade das obras do novo aeroporto de Macapá, capital do estado, conta com cerca de R$ 100 milhões já reservados no orçamento da União. As obras estão a cargo do consórcio EPC-WVG e devem ser concluídas até 2017. O empreendimento terá capacidade para receber cerca de 5 milhões de passageiros por ano.

Metrô e Ferrovia

O Piauí estuda desenvolver uma PPP (Parceria Público-Privada) nos mesmos moldes da realizada em Salvador (BA), para ampliar o metrô da capital Teresina. A obra terá custo aproximado de R$ 445,45 milhões, dos quais R$ 217 milhões já assegurados pela União e R$ 217 milhões obtidos através de operação junto à Caixa Econômica Federal (CEF). Os R$ 11,45 milhões restantes estão previstos no Plano Plurianual 2016/2019 do Piauí. Estão incluídos no projeto a revitalização do sistema, com a modernização e duplicação da linha existente, a reforma e construção de estações, a construção de pontes e viadutos e aquisição de veículos, entre outras medidas.

Na Bahia, a PPP para a ampliação do sistema metroviário de Salvador e Lauro de Freitas abrange o período de 2013 a 2043. Os investimentos são da concessionária CCR Metrô Bahia e dos governos Estadual e Federal. Atualmente, está sendo implantada a Linha 2, com 12 estações e 4 terminais de integração, além da reforma de outros dois, e construção de 10 novas passarelas ao longo da via, que deve ser concluída em 2017. Outras 2 estações serão incorporadas à Linha 1, através do novo tramo 3, com 5,5 km de extensão. O projeto está em fase final de estudo para o lançamento da licitação.

Em São Paulo, a continuidade das obras de expansão do sistema metroviário continua a ser o maior projeto do estado. Neste ano foram abertas mais três concorrências públicas para obras civis na linha 5 – Lilás, com prazo até o final de março para o recebimento das propostas. Uma é a do Pátio de Manutenção e do estacionamento Guido Caloi. A outra é a da Estação AACD-Servidor, na VSE Magalhães, na Estação Hospital São Paulo e no túnel de estacionamento de trens. A terceira abrange a Estação Campo Belo e o poço VSE Jesuíno Maciel, além do Viaduto Santo Amaro. No caso do viaduto, a intervenção terá que aguardar a recuperação de sua estrutura, danificada por um incêndio em fevereiro passado, que será realizada pela Prefeitura de São Paulo.

Também avançam as discussões sobre a Ferrovia Transoceânica, que ligará o litoral do Rio de Janeiro ao Peru. Em fevereiro, reuniram-se, em Brasília (DF), um grupo de investidores chineses, o ministro da China no Brasil, o governador em exercício do Mato Grosso, Carlos Fávaro e os vice-governadores do Acre e de Rondônia. Fávaro propôs que as obras da ferrovia fossem iniciadas em seu estado, maior produtor de grãos do Brasil e que tem a China como destino de 63% de suas exportações de soja. Duas alternativas foram apresentadas: partindo de Sapezal, passando por Comodoro e seguindo até Porto Velho, no Rio Madeira, e partindo de Lucas do Rio Verde até Campinorte (GO), no entroncamento com a ferrovia Norte Sul. Os recursos obtidos com o transporte de grãos por esse trecho inicial garantiriam a execução dos trechos restantes da obra. Em maio próximo, será concluído o estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental do projeto, para entrega ao governo federal.

Obras de Arte

Em Santa Catarina, está sendo realizada pelo grupo Teixeira Durarte, através de sua subsidiária Empa, a restauração da ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. A obra, com custo estimado em R$ 261 milhões, financiados pelo BNDES e Banco do Brasil, consiste das seguintes etapas: reforço das fundações (continental, insular e embaixo d’água); transferência de carga (suspensão do vão central); troca das barras de olhais e pendurais; recuperação das vigas treliçadas do vão central e dos viadutos; recuperação das duas torres centrais; troca das selas e rótulas; execução do tabuleiro (pista de rolagem) e desmontagem da estrutura provisória – transferência de carga para a estrutura da ponte. A conclusão dos trabalhos, prevista para 2018, vai liberar novamente a passagem do tráfego pelo local, suspensa desde 1991.

 

 

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