NOVOS TEMPLOS NO CAMBOJA

O Camboja é um país asiático tipicamente budista e possui uma das histórias mais lamentáveis do último século. Com uma população estimada em 15 milhões de pessoas, mais de 90% praticam o budismo. Socialmente e economicamente, o País sofreu com o Pós-Guerra do Vietnã, a partir de abril de 1975, país com quem faz fronteira. Cerca de um mês após o fim da guerra, que culminou na reunificação do Vietnã do Norte ao Sul, globalmente reconhecida como uma derrota para os Estados Unidos, os vietnamitas invadiram o Camboja.

O resultado se deu em conflitos por duradouros 14 anos. As batalhas abalaram, de certo modo, políticas socialistas em todo o mundo, com a divisão do apoio da antiga União Soviética ao Vietnã e da China ao Camboja. Muito pior foi o regime de Pol Pot, líder do regime totalitarista do país, responsável pelo genocídio cambojano, entre os anos de 1975 e 1979. Estima-se que dois milhões de pessoas tenham sido executadas, de membros do antigo governo a professores e líderes cristãos – ou seja, 25% da população na época.

Passados tantos anos, os cambojanos ainda procuram reconstruir o país. Economicamente, essa reconstrução tem dado resultados bastante positivos, com a ida de muitos turistas ao País, atraídos principalmente pelos templos criados no Império Khmer, entre os séculos IX e XV. São locais sagrados tanto para os hindus quanto para os budistas. O templo que mais chama a atenção é o Angkor Wat, considerado o maior monumento religioso do mundo. A 1,5 km dali, fica o templo-montanha Phnom Bakheng, o mais antigo complexo, construído aproximadamente entre os anos de 889 e 910 d.C.

Dedicado a Shiva, o paradoxal deus das transformações, tanto da criação quanto da destruição, o templo começou a demonstrar seus graves problemas estruturais, com paredes e santuários danificados pelo deslocamento das pedras, resultando em infiltração de água, que erodiu a estrutura. Desde 2004, vem sendo feita a restauração do Phnom Bakheng, graças às doações feitas ao Fundo Mundial de Monumentos (WMF).

Para fazer o içamento e posicionamento dos materiais, o WMF optou por um guindaste de torre automontável. Após pesquisas de mercado, foi contratado um guindaste Terex CBR 24 Plus, com capacidade para até 2 t e lança com comprimento máximo de 24 m. Com dimensões compactas, pode ser transportado por uma única carreta, sem depender de licenças rodoviárias especiais. O guindaste pode também operar com lança estendida ou recolhida.

Num geral, esses motivos foram fundamentais para a escolha do equipamento, mas questões geográficas também influenciaram. “Devido à localização remota de Phnom Bakheng e ao clima quente e úmido, dispor de componentes de qualidade e uma estrutura totalmente galvanizada foi uma grande vantagem”, conta Ben Haley, gerente de comunicações do WMF.

Na obra, devido ao solo irregular, foi construída uma base substancial de concreto armado para assentar a máquina, e uma ponte por cima do santuário. A plataforma foi escorada por vigas de aço, capazes de suportar o peso total do guindaste, de 17,76 t, além dos nove blocos de concreto, cada um com 940 kg, que formaram o contrapeso. Depois de pronta a plataforma, o CBR 24 Plus foi levado até o templo, no alto da colina, por um caminho estreito e íngreme, alargado com uma máquina de terraplenagem, alugada na região.

Assim, pôde ser movido até a plataforma, graças a uma rampa temporária feita com sacos de areia. Foi puxado por dois guinchos montados na frente da estrutura de sustentação. Lá, o guindaste foi montado com o auxílio de um técnico da Terex, seguido pela automontagem dos blocos de lastro.

Com uma rápida cerimônia realizada pelos operários, que abençoaram a obra e rezaram pela segurança durante toda a execução do projeto, as operações tiveram início. Todos os blocos do vértice nordeste do templo-montanha Phnom Bakheng foram removidos. Blocos de pedra danificados começaram a ser recuperados e enumerados. Os materiais foram limpos e reposicionados em seus lugares originais. O projeto ainda se encontra em fase de execução, sem ter uma data de conclusão prevista.

A reconstrução é realmente o caminho para o futuro econômico do País, totalmente ligado aos turistas. E ao contrário do que diz a música “Holiday in Cambodia” (“Feriado no Camboja”, em português), da banda norte-americana de punk Dead Kennedys, os cambojanos não precisam mais “trabalhar duro com uma arma nas costas por uma simples tigela de arroz por dia”.

A economia atual gira em torno dos monumentos religiosos, das belas praias, dos museus que homenageiam ao período sangrento do século XX e de uma culinária aromática, com mistura de alimentos provindos de toda a Ásia. Para se ter uma ideia dessa mudança: em 2011, 40% do PIB, que teve um crescimento de 7% comparado ao ano anterior, veio do setor de serviços, sobretudo do turismo. São realmente novos tempos para os cambojanos.

Você sabia que…
O WMF, principal organização independente dedicada a “salvar” patrimônios arquitetônicos e culturais, tem projetos de restauração no mundo inteiro? Ao todo, o órgão trabalha em mais de 90 países, graças às parcerias com comunidades locais, governos e financiadores. Para se ter uma ideia, o WMF trabalha no reparo do Taj Mahal, na Índia, da Rota 66, nos Estados Unidos, e do Castelo de Nagoya, no Japão. Apenas dando três exemplos no Brasil, a restauração se dá no Centro Histórico de Salvador (BA), no distrito de Paranapiacaba, em Santo André (SP) e no Convento de São Francisco, em Olinda (PE).

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