Por Ronaldo Cruz (*)
Na edição 90 da Revista Crane Brasil falamos sobre a evolução Tecnológica dos guindastes offshore percebida ao longo de mais de 40 anos de E&P no Brasil, quando abordamos mais um passo dado pela anunciada chegada de uma nova geração de guindastes de acionamento totalmente elétrico.
O que torna esta concepção tão diferente? Guindaste de acionamento totalmente elétrico não é novidade, máquinas já eram produzidas nos anos de 1980 e até antes, mas a sua atualização sim. Na Figura 1 (acima) temos um guindaste Le Torneau ( www.keppelletourneau.com/cranes/ ), comumente encontrado em serviço em plataformas auto elevatórias, e seu sistema de acionamento na Figura 2 (abaixo). 
Figura 2 – Sistema de acionamento A compactação de painéis, a automação, novos motores elétricos, em alguns projetos o tipo de corrente elétrica de alimentação e a inclusão dos recursos de segurança viabilizados com a tecnologia atual são exemplos de características diferenciadas.
Estes equipamentos despertaram o interesse da PETROBRAS em 2014 quando da apresentação por um de seus principais fornecedores destes equipamentos em sua fábrica na Noruega. Após alguns anos, com a preocupação crescente com continuidade operacional e questões ambientais, a empresa optou por avaliar em 2020 a viabilidade de utilizar estes equipamentos em suas novas instalações offshore.
A avaliação então realizada mostrou que haveria vantagens importantes na adoção desta forma de acionamento, algumas relacionadas na Figura 3 a seguir.
Mas também foi observado que algumas diretrizes internas de engenharia deveriam ser revistas para viabilizar a aceitação desse tipo de acionamento, estas relacionadas a garantia de disponibilidade dos equipamentos que passariam a ser dependentes da geração de energia das instalações e ainda quanto ao atendimento de requisitos operacionais diante de condições de emergência. Um estudo detalhado demonstrou a viabilidade e os ajustes necessários para tal, o que foi implementado em seguida, abrindo caminho para uma especificação de aquisição. A PETROBRAS definiu a base para os processos de aquisição que seriam conduzidos por empresas à cargo de integrar os guindastes às suas novas instalações.
Então, com a aquisição em 2022-2023 de 10 guindastes destinados às suas novas unidades de produção e ainda com outros novos projetos em desenvolvimento, segue o foco nessa solução e uma expectativa muito grande sobre a qualidade e resposta funcional dos equipamentos. Tal consideração tornou os testes de aceitação de fábrica (Final acceptance tests – FAT) do 1º guindaste a ser recebido um momento de muito interesse.
Nota: A empresa adquiriu 02 guindastes da Palfinger Marine (www.palfingermarine.com/en/segments/offshore), caracterizando os seus primeiros fornecimentos de guindastes offshore a PETROBRAS e 08 guindastes da National Oiwell Varco (www.nov.com/products/offshore-cranes), tradicional fabricante presente nas instalações Petrobras desde os anos 1990.
Já conversamos anteriormente sobre as fases relacionadas a um processo de aquisição de guindastes offshore na edição 88 da Revista Crane Brasil, no artigo denominado “Desafios na aquisição de guindastes offshore”. Na ocasião chamamos atenção para a importância do acompanhamento do FAT, com foco na identificação de desvios à especificação de aquisição e às normativas de referência, principalmente pelo possível afastamento da área de operação do acompanhamento de desenvolvimento de projeto dos guindastes.
Ciente do cenário descrito anteriormente, são enviados profissionais experientes da área de suporte técnico operacional para o testemunho dos referidos testes finais, não apenas como observadores, mas preparados para esclarecer dúvidas sobre aspectos estruturais e/ou funcionais dos equipamentos, documentação técnica e tarefas previstas no FAT, após análise prévia dos manuais e documentos relacionados aos testes, todos disponibilizados anteriormente pelo fabricante.
Não foi diferente para os testes do então 1º guindaste de acionamento totalmente elétrico de última geração que foi realizado em fevereiro de 2024 na Coréia, nas instalações de seu fabricante, a National Oiwell Varco (NOV). A máquina objeto dos testes foi projetada para capacidade dinâmica de 40 t @ 25m (2,0 m de altura de onda) para o sistema de elevação de caga principal em atendimento a especificação de aquisição.
As Figuras 4 e 5 mostram os 02 guindastes NOV destinados à P-79 nos preparativos para os FAT.
Informalmente soubemos que o equipamento correspondeu às expectativas do seu processo de aquisição, tendo sido reconhecidos aspectos ergonômicos positivos importantes para operador, inovações nos acessos a partes críticas do equipamento como lança e cavalete, além de demonstrar performances muito adequadas nos movimentos dos sistemas acionados.
Não há dúvidas que estamos diante de um marco para o E&P no Brasil, tanto pela busca de uma operação mais limpa no ambiente offshore, como pelo encaminhamento para uma manutenção mais enxuta, com redução de materiais empregados e de h.h. dedicado à manutenção preventiva e corretiva.
Excelente notícia para o mercado oil & gás offshore,principalmente para nós operadores e instrutores que estamos sempre buscando conhecimento nas áreas tanto operacional como também na didática para nossos conhecimento de aprendizagem e repassando para povo alvo do mercado de operadores!!!