Por Ricardo Gonçalves
Uma profissão majoritariamente abarrotada de homens. No termo relacionado ao sexo masculino mesmo e não “homens” no sentido de “seres humanos”. Por se tratar de um cargo que requer, aparentemente, maior força bruta, pouquíssimos operadores de guindastes e gruas do mercado atendem pelos nomes de Luciana, Marcia ou Mayane. No entanto, por meio do Facebook, entramos em contatos logo com essas três moças, que mostraram que no segmento não há mais espaço para o machismo.
Como características próprias, elas dizem que mulheres podem ser mais cautelosas, sensíveis no toque dos comandos e dar uma atenção geral ao ambiente mais detalhada. De acordo com as operadoras, as mulheres pensam mais antes de agir, enquanto os homens tomam certas medidas mais por impulso. A paixão pelos equipamentos e pela profissão, no entanto, é exatamente a mesma, independente do sexo. Veja abaixo um depoimento das mulheres que operam ou já operaram guindastes e/ou gruas.
“Bati o pé e operei a grua”
Mercado de geração eólica ganha impulso no Brasil e reúne novos empreendedores e empresas tradicionais do setor elétrico público e privado atua há oito anos nesse segmento. “Em todas as obras em que eu atuei, os encarregados da obra, mestres e engenheiros sempre me olharam de uma forma ‘diferente’. Por ser baixinha – 1,60 m – e meiga, eles sempre acharam que teriam dor de cabeça comigo”, comenta Luciana. Essa opinião era alterada quando a “moça meiga” operava uma grua – fruto de vários cursos em movimentação de cargas e treinamentos por operadores no Rio de Janeiro, ministrados pela Pingon, Confix Rental, ABS, entre outros. “Quando você junta o comprometimento à prática, fica fácil quebrar qualquer tipo de preconceito”, diz.
Há um caso específico que Luciana gosta de relembrar, em Belo Horizonte (MG), em 2010. “Não pude operar uma grua Pingon, pois o mestre me barrou, dizendo que mulher não operava máquina bem. Dois meses depois, o operador ficou doente e eu era a única com capacidade de dar prosseguimento à operação. Apareci na obra, mesmo sabendo que o mestre não iria gostar e subi na grua”, diz Luciana.
“Naquele dia, pediram cinco caminhões de concreto para encher uma caixa armada. Era para ir um caminhão por vez, mas a concreteira mandou todos de uma só vez. O mestre ficou doido e pediu para quatro caminhões voltarem, senão o concreto ia vencer o prazo. Eu bati o pé, fui lá, operei a grua e ‘puxei’ – termo que significa descarregar concreto – os cinco caminhões em apenas 1h58min.
O mestre não acreditou e gostou tanto da operação, que ligou para o meu encarregado na época e pediu para eu tocar o restante da obra”. Os caminhões tinham 8 m³ de concreto cada um e foram “puxados” a uma distância de 48 m. Foram necessários entre 22 e 24 caçambas por caminhão.
Hoje em dia, Luciana Nassi é encarregada operacional da empresa portuguesa Franmac e trabalha no Rio de Janeiro (RJ). Ela talvez seja a única mulher responsável por vários operadores de grua no Brasil. Se um operador por acaso falta, ela assume a operação do equipamento. E Luciana já tem inclusive uma outra pessoa do sexo feminino sob seu comando, Shirley, a quem ela define como “uma excelente operadora”.
“Conquistei meu espaço”
Marcia Lubatsch começou, há cerca de cinco anos, a trabalhar numa transportadora com um munck, o primeiro contato com esse segmento. “Por gostar de caminhão, uma coisa puxou a outra”. Operou o equipamento na White Martins, quando trabalhava com gases especiais, por exemplo. Depois disso, ela começou a trabalhar em uma empresa de guindastes. “Foi lá que aprendi a elevar peças de vários formas e cargas com várias toneladas”, relembra Marcia. “No começo, tive dificuldades e muito medo. O grande obstáculo foi o preconceito por ser mulher, mas conquistei meu espaço. Sempre trabalhei firme e nunca tive acidente de trabalho”.
Isso é fruto de cursos, mas também do aprendizado que Marcia teve no dia a dia. “Estou sempre me superando. Em novembro de 2014, tive que movimentar 12 contêineres sozinha – os maiores deles de 40 pés. Morri de medo, pois além de tudo, o solo não ajudava. No entanto, encarei de frente e deu tudo certo”, conta. Aquela operação foi pela Bravo Logística, onde Marcia Lubatsch segue trabalhando, de Curitiba (PR). Atualmente, ela opera um guindauto TKA 52.700, com capacidade para 12 t, alcance máximo vertical de 23,8 m e horizontal de 20,2 m. “Hoje, consigo manter minha família como operadora de guindaste”, encerra.
“O chamado de Deus”
Há quatro anos no setor, Mayane Rodrigues entregava jornais de moto durante as madrugadas. Num belo dia, em Ipatinga (MG), passou num local chamado “Monte das Respostas”. “Em um momento de intimidade com Deus, Ele me revelou que eu iria trabalhar como operadora de máquinas em áreas industriais”, relata Mayane. Quando descobriu os equipamentos de elevação de cargas, passou a sonhar em operar um guindaste. Alcançar o sonho não foi fácil. “Cheguei a ouvir de um diretor de uma entidade de treinamentos de operadores que ia ser complicado arrumar uma vaga, pelo preconceito de que apenas homens são operadores”.
Começou com empilhadeiras, passou por guindautos e hoje se tornou operadora de guindastes de até 100 t. Mayane Rodrigues chegou a ser supervisionada nas primeiras operações, pois não acreditavam que ela era capaz de cuidar de equipamentos de grande porte com segurança. Aliás, logo em sua primeira operação, o Plano de Rigging não batia com a configuração real da operação. Porém, foi reavaliado e o trabalho foi executado de forma bem-sucedida.
Com o tempo e a dedicação – passava horas acompanhando manutenções dos equipamentos ao lado dos mecânicos –, conquistou a confiança de pessoas ao redor. “A diferença está na formação, na qualidade e visão de segurança de cada operador e não no seu sexo”, afirma Mayane, que no momento se encontra fora do mercado. “Mesmo num cenário desfavorável, busco minha vaga. Aceitaria propostas em qualquer local do Brasil”.
hoje temos mais uma operadora de guindaste !!! MARCELLA MARTINS!! INSTA: @MARCELLA. MARTINS,ACBOU DE CONCOUIR SEU CURSO COM MAIOR SUCESSO!!!