INSPEÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS

INSPEÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS

Por Ronaldo Gonçalves Cruz (1)

Como têm sido percebidos hoje os serviços de inspeção de equipamentos de movimentação de cargas? É bastante comum que ocorram como atendimento à regulação pertinente, obrigação contratual ou iniciativa dos proprietários das máquinas. Mas a realização das inspeções com foco apenas em conformidade normativa ou contratual tem se mostrado motivos de problemas, e, por vezes, pode contribuir para ocorrências de incidentes ou acidentes com estes equipamentos.

Tal correlação com eventos indesejados pode ocorrer, apesar da realização das inspeções, se os relatórios são apenas arquivados, para efeito de comprovação e cumprimento de um plano de inspeção. Quando isso ocorre, inviabiliza-se o tratamento em tempo adequado de não conformidades registradas no documento, que progridem até a falha em serviço de algum componente ou sistema. A situação caminha ainda para o pior, se uma determinada não conformidade crítica não tiver sido avaliada adequadamente na inspeção.

A legislação atual para o segmento de movimentação de cargas offshore tem sido atualizada para “fechar portas”, como a citada no parágrafo acima, demandando estabelecimento de cronogramas para solução de não conformidades identificadas em inspeções dos equipamentos. Estes documentos ficam sujeitos a auditorias externas por órgãos reguladores.

No segmento onshore, os serviços de inspeção ainda carecem de referências mais objetivas na legislação, fazendo com que estes ocorram por iniciativas das empresas proprietárias dos equipamentos ou por força de instrumento contratual firmado, podendo ainda viabilizar o inconveniente efeito de não solução de problemas.

É importante notar que, além da segurança operacional, os serviços de inspeção têm grande importância ao disponibilizar uma massa de dados que tratada pode ser de extrema valia para as empresas. Como exemplo, estão compiladas de forma resumida a seguir informações obtidas a partir das inspeções periódicas realizadas em dois guindastes de uma instalação de Exploração e Produção de petróleo (E&P) no Brasil.

Os equipamentos estão em serviço há pelo menos 20 anos, tendo uma das máquinas cerca de 10.000 horas de operação e, a segunda, 25% menos.

A identificação da empresa operadora não é divulgada neste texto devido ao aspecto sensível das informações. O importante é que, uma vez apuradas, devem permanecer disponíveis exclusivamente para planejamento de intervenções de manutenção, auditorias internas e externas por órgãos fiscalizadores.

Estes dados constituem também uma base histórica que sinaliza como tais máquinas têm sido tratadas, até mesmo viabilizando a identificação de responsabilidades pela evolução das condições operacionais dos equipamentos e de necessidades de mudanças de postura quanto a condução dos processos O&M. Deve constar a informação de que o planejamento para eliminação das não conformidades está estabelecido internamente pela empresa operadora e tem prazos definidos, conforme determinado pela legislação brasileira.

As ocorrências foram enquadradas por sistemas dos guindastes em categorias: comando, estrutura, basculamento de lança, içamento, acionamento, segurança, hidráulica e emergência. Os tipos de não conformidades também foram categorizados como: contaminação de óleo, vazamento de óleo, fixação deficiente de componentes, mal funcionamento, função inoperante, deformação de componente, ausência de componente, corrosão e outros.

A Figura 1 apresenta a categorização de não conformidades por sistemas do guindaste B, sendo B a máquina de menor número de horas de serviço.

offshoreFigura1

Foi observado em comparação com a mesma análise efetuado sobre guindaste A: 1. O quantitativo de anormalidades presentes neste guindaste é superior (216%) ao detectado no guindaste A: 39 itens; 2. De forma análoga ao guindaste A, o sistema mais afetado é ESTRUTURA (64% das ocorrências nesta máquina, enquanto no guindaste A foi de 44%); 3. O sistema SEGURANÇA também ocupa a segunda colocação em quantitativo de problemas registrados (10%); 4. Há mais sistemas afetados no guindaste B, como EMERGÊNCIA, COMANDO E ACIONAMENTO, porém com poucos itens.

A Figura 2 mostra a categorização por tipos de não conformidades identificadas no guindaste B.

offshoreFigura2

Foi observado por comparação entre as não conformidades identificadas nas 02 máquinas:1. Estão presentes 22 apontamentos relacionados a ocorrência de corrosão impactando de forma muita significativa o sistema ESTRUTURA, sendo a lança e suas partes o principal componente afetado; 2. Assim como no guindaste A, neste equipamento foi observado quanto ao sistema SEGURANÇA, 06 ocorrências de ausência de componentes predominantemente relacionadas a cabos de aço destinados a impedir queda de objetos e de pessoas.

Como citado anteriormente, a partir dos apontamentos efetuados, os seguintes aspectos, podem ser considerados: 1. Apenas 01 (uma) não conformidade poderia ser considerada crítica a continuidade operacional do equipamento, tanto quanto ao aspecto legal quanto ao técnico, correspondendo a perda de calibração do sistema de monitoração de carga do guincho principal de elevação de carga do guindaste A. 2. O comprometimento de componentes do sistema ESTRUTURA nos 02 guindastes ratifica pelo menos a deficiência de um sistema de preservação; 3. O guindaste A é o equipamento mais demandado, o que pode justificar o menor quantitativo de anormalidades apontadas para o mesmo, assim como o estado mais comprometido por corrosão do sistema ESTRUTURA do guindaste B; 4. O tema queda de objetos demanda atenção especial para os 02 (dois) equipamentos

Avaliações como as conduzidas para esses equipamentos podem subsidiar empresas quanto à necessidade de intervenções em seus processos de O&M, além de identificar riscos à segurança operacional e contribuir para a continuidade das operações com os equipamentos em conformidade legal.

ronaldo cruzRonaldo Gonçalves Cruz, engenheiro mecânico e de segurança, com 35 anos de experiência em inspeção de equipamentos de movimentação de cargas offshore na Petrobras. Atualmente é diretor técnico da Cargopro Engenharia. Contatos: cruz@cargopro.com.br

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2 comentários em “INSPEÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS

  1. Ronaldo Cruz é profissional do mais alto gabarito e quando se fala em guindastes offshore, uma referência nacional. Entrando na questão da segurança e performance dos equipamentos de movimentação de cargas e passando pela segurança do trabalhador e ativos como um todo, o Brasil ainda evoluir muito em certificação de pessoas em termos de operação, manutenção e inspeção. Recentemente vimos esse escândalo da venda de certificados de treinamentos para trabalho em altura e em espaços confinados, e é aí que reside a grave patologia do país: “profiçionais” fazendo mau uso de seus diplomas e inscrições em conselhos regionais vendendo certificados para aqueles que encaram a proteção de pessoas, máquinas e equipamentos como um mero entrave cartorial. Ainda bem que eu não estou sozinho nessa luta. Ronaldo é um companheiro de batalha.

  2. Ronaldo Cruz é um profissional exemplar e de conhecimento e experiência incontestável.
    Tive a honra de trabalhar com esse profissional e ter podido aprender muito nessa época.
    Utilizo esse aprendizado nas minha ações e trabalho.
    É fato que a dedicação, comprometimento e empenho de são suas ações o levaram a essa posição de destaque no segmento de guindaste e equipamentos de içamento de cargas em geral.
    Quero aqui parabenizar essa pessoa pela qual tenho extremo respeito e admiração.

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