Por Camilo Filho (*)
Existem muitos detalhes que influenciam no percentual de risco quando trabalhamos com movimentação de cargas e particularmente em içamentos. A prevenção de acidentes deve ser a prioridade número um de qualquer empresa, pelos vários aspectos negativos que estão associados a este tipo de evento não planejado.
Começando por baixo
Eu costumo dizer que se o içamento pudesse ser traduzido numa fórmula matemática, o “X e o Y” seriam o solo e o vento. Acredito de maneira convicta que essa dupla são os dois piores inimigos dos operadores. São variáveis que nós do planejamento, não temos muito controle, principalmente no trabalho de “taxi crane”.
Uma grande parte dos acidentes envolvendo guindastes é causado por falha do solo. Sempre devemos suspeitar do solo, principalmente trabalhando próximo de taludes ou quando após uma chuva forte. Uma boa distribuição feita por “mats”, chapas ou dormentes, é fundamental!
Içamentos múltiplos
Entendo que todo içamento múltiplo, deve ser tratado como de alto risco e deve ser dotado de bastante engenharia e critério.
Dito por um dos papas na área de movimentação de cargas numa Conferência em Washington: “eu prefiro usar um guindaste trabalhando com 100% da sua capacidade tabelada do que dois guindastes a 50%”.
E a razão é que são dois ou mais guindastes iguais ou diferentes, trabalhando em solos distintos, dois ou mais operadores com reações diferentes; na maioria dos trabalhos a localização do C.G. não está corretamente determinada, a incidência de vento numa máquina afeta a outra e etc. A primeira pergunta que deve ser feita neste caso é: temos na empresa o pessoal experiente e capacitado para planejar e executar este tipo de içamento? Se não, pode ser que a empresa tenha que ir ao mercado buscar uma consultoria especializada.
Treinamento
Os fabricantes de guindastes evoluíram muito rapidamente nos últimos anos, as máquinas estão cheias de tecnologia. É imperioso que a mão de obra tanto operacional quanto de engenharia, conheçam no detalhe todas as possibilidades que se apresentam nos equipamentos novos. Antigamente, as máquinas eram extremamente robustas, aguentavam quase todo tipo de sobrecarga, no que tange ao estrutural, mas hoje isso mudou completamente. Hoje as máquinas são fabricadas com aços de altíssima resistência e consequentemente mais leves, porém as tabelas estão trabalhando mais próximas do limite estrutural. Não se opera mais o equipamento usando bom senso, se opera com conhecimento e capacitação, mas isso só se consegue investindo em formação do pessoal.
Planejamento
Propositadamente, deixei por último este tópico, por ser ele o mais importante, porque abrange todos os outros. Quando há planejamento, o risco é mitigado a percentuais baixos. O planejamento engloba tudo: o dimensionamento correto do guindaste com sua configuração, acessórios que serão utilizados, o cálculo da velocidade do vento, necessidades específicas, tudo de acordo com o plano de rigging. Também a logística de carregamento, envio de material e montagem, alojamento, refeição para a equipe e etc.
Nos içamentos complexos, devemos formar uma equipe multidisciplinar e ter um coordenador, o qual gerenciará os recursos humanos e materiais, sendo responsável pela integração entre os componentes da equipe. É possível dividir as tarefas em: engenharia, operacional, manutenção, solo e vento, acessórios, recursos humanos (exames, seguros; enfim, a parte administrativa do pessoal).
Aprendi desde cedo, trabalhando nessa área que por mais que tenhamos experiência, devemos ter a humildade de, durante o planejamento, envolver e ouvir o pessoal que irá executar a tarefa. O pessoal que vai operacionalizar o trabalho não deve ser chamado depois que todo o planejamento estiver pronto. Não devemos entregar-lhes algo já definido que deva ser enfiado goela abaixo. No nosso tipo de operação, aquela máxima de que “eu sou o engenheiro, o chefe, faça o que eu mando”, não funciona. O trabalho de içamento de cargas, é um trabalho de equipe e cada qual com sua contribuição é que leva ao sucesso do projeto como um todo.
Quantas vezes eu consegui ações de melhoria, por ter o operador, o rigger ou o encarregado acompanhando o processo passo a passo?