Por: Daniel Schnaider (*)
Se dirigir pesados é complexo, o que dizer de gerenciar uma frota deles? Adaptar soluções tecnológicas a todos os processos, desde o treinamento em tempo real dos motoristas até a redução de custos, que neste tipo de frotas são altíssimos, não é só proporcionar autonomia à empresa, mas também fortalecer a engrenagem da economia brasileira.
Responsáveis por trazer a alta performance aos veículos pesados, a IoT (Internet das coisas) e a Inteligência Artificial são soluções que funcionam por meio de sistemas e aplicações, câmeras e coleta de dados para reconhecimento de vias, distância e comportamento na direção, provendo, inclusive em tempo real, feedbacks com dicas para melhor performance ou avisos de perigo para o motorista. Permitem, ainda, o cálculo de qual rota será melhor, de acordo com o peso da carga do caminhão, e o desvio de trechos mais complicados, como subidas muito íngremes ou pistas sem infraestrutura adequada.
O mercado desses serviços, que funcionam a partir da instalação de um dispositivo, encontra ainda algumas limitações na própria estrutura das empresas. E apesar dos custos serem acessíveis e trazerem um importante custo/benefício ao frotistas, existem algumas questões que precisam ser superadas – como renovação dos veículos. E, mesmo sendo óbvio que os caminhões devem ser atualizados e trocados por segurança e atualização de tecnologias, nem sempre é a regra. E o aparelho ou dispositivo de que falamos não é compatível com pesados muito antigos.
Outro desafio é a disseminação dessa tecnologia no Brasil. Embora se caracterize como ativa, ou seja, não há necessidade de uma comunicação de qualidade para que possa funcionar, é preciso uma infraestrutura básica. Muitas cidades brasileiras não têm antena, ou, quando tem, é uma só, que está saturada com muitas conexões. São dezenas de milhões de aparelhos comunicados ao 2G, e a passagem ao 4G ou 5G aumentaria significativamente o investimento. Daí a importância de políticas públicas de incentivo, para que a concorrência aumente, as alternativas apareçam e o custo não seja tão elevado para o acesso a esse tipo de cobertura.
As soluções dependem muito de um contexto macroeconômico do Brasil, como a diminuição de impostos, para que as empresas brasileiras possam ter acesso ao 4G ou 5G, pelo menos durante o processo de implementação. Uma política que incluiria também os custos de homologação dos equipamentos. Enfim, uma série de ações que deixariam a tecnologia chegar ao país de forma assertiva – resultando, inclusive, em uma arrecadação adicional de impostos com sua implementação, contribuindo para o crescimento da economia como um todo.
Quando pensamos em larga escala, vemos que existe um incentivo de mercado para a IoT chegar em todos os pilares, porém, não vejo uma forma de todos os benefícios serem colhidos por nós, como sociedade. Com certeza, todo esse contexto está nas mãos das políticas públicas. Todos os veículos que contam com a telemetria estão amparado em uma demanda muito grande de mercado, mas a pergunta que fica é: porque os outros não? Resposta: por conta dos custos de estrutura como o de telecomunicação e de importação da tecnologia.
O uso da tecnologia em frotas é a engrenagem para uma economia que precisa girar, afinal, os preços das commodities são definidos em mercado. Quando um país taxa tecnologia de base, acaba gastando muito mais com outros problemas, que são provenientes da falta desses recursos, que diminuiriam gastos do governo – nas concessionárias em vias e estradas, em mobilização de perícia, polícia, ambulâncias e no próprio SUS. Enfim, enquanto os diferentes governos não aprenderem a investir para prevenir, a larga escala está comprometida.
(*) Daniel Schnaider é CEO da Pointer by Powerfleet Brasil, líder mundial em soluções de IoT para redução de custo, prevenção de acidentes e roubos em frotas.