O reajuste da tarifa da energia elétrica, que penalizou a economia, está produzindo reflexo positivo em um segmento específico da indústria: o de cestas aéreas. Como contrapartida ao reforço no caixa, as distribuidoras de energia assumiram maior responsabilidade em relação à qualidade do serviço, o que implicará investimentos na expansão e manutenção de suas respectivas redes de alta a baixa tensão. Esse cenário aponta para um crescimento na demanda desse tipo de equipamento, seja por parte das concessionárias ou de seus prestadores de serviços.
Para turbinar ainda mais esse quadro, a transferência das redes de iluminação pública para a gestão das prefeituras, uma determinação polêmica da agência reguladora do setor elétrico, a Aneel, aponta para um aquecimento nas vendas de cestas aéreas. Apesar da contestação dos municípios, eles deverão investir em frotas para a manutenção dessas redes e as podas de árvores, ou, mais provavelmente, contratar fornecedores que assumirão esse serviço.
Independentemente do caminho adotado, os fabricantes do setor dão como certa a expansão desse mercado. “Nos próximos anos, ele deverá crescer de 20% a 30% ao ano”, avalia Gustavo Faria, diretor de utilities da Terex. A concessionária Elektro, por exemplo, que distribui energia para 228 municípios de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, acaba de adquirir 21 veículos para manutenção em suas redes de alta e baixa tensão. A empresa opera com uma frota de 1.350 picapes e caminhões leves, equipados com cestas aéreas, guincho-broca e outros implementos necessários aos serviços.
Outras empresas do setor seguem o mesmo caminho, mas Carlos Eduardo Gonçalves, diretor comercial da Load Control, destaca o pioneirismo da Cemig e da Copel, concessionárias de energia de Minas Gerais e Paraná, respectivamente. “Elas são rigorosas no cumprimento ao Anexo 12 da NR-12.” Gonçalves se refere aos requisitos de segurança incorporados à norma há um ano, para operações com cestos aéreos, que apesar de terem força de lei, ainda são negligenciados no mercado. Segundo ele, isto não se aplica às duas distribuidoras, que exigem o cumprimento desses requisitos em seus equipamentos e nos novos contratos com prestadores de serviços.
Redes urbanas
Entretanto, para Gustavo Rigon, executivo da unidade de negócios plataformas e cestas aéreas da Palfinger, dificilmente as companhias elétricas repetirão os níveis de consumo desses equipamentos nos últimos anos. “O mercado deverá ser movimentado mais pelas prefeituras e pelos prestadores de serviços, que demandam produtos não isolados.” Por esse motivo, apesar de a empresa produzir os dois tipos de equipamentos, ele vislumbra maior procura por plataformas montadas sobre veículos leves, que contam com estações de trabalho mais espaçosas em lugar dos pequenos cestos na ponta da lança.
Para atender a esta demanda, a Palfinger lançou a plataforma P200, que atinge uma altura de trabalho de 19,8 m e um alcance máximo horizontal de 8,4 m. O equipamento realiza um ângulo de giro de 370º e, devido ao seu design compacto e baixo peso estrutural, de apenas 3.320 kg, pode ser implementado em veículos compactos, o que facilita seu acesso para trabalhos em redes urbanas ou locais com pouco espaço.
Segundo Rigon, o equipamento foi desenvolvido na Itália e integra a linha de plataformas aéreas Smart, da Palfinger, indicada para serviços de manutenção em geral e que cobre a faixa de 13 a 18 m de altura de trabalho. “Eles geralmente são não isolados e, para trabalhos em linha energizada, contamos com uma linha de produtos que cobre a faixa de 10 a 24 m de altura.” A empresa produz plataformas de alcance ainda maior, para aplicação em chassis de caminhões mais pesados, incluindo a WT 700, que atinge 70 m de altura e é indicada para os mercados de óleo e gás, obras industriais, de usinas eólicas e infraestrutura.
Outra que aposta na demanda de equipamentos para trabalhos em redes urbanas é a Terex. Para atender a essa necessidade das companhias elétrica, prefeituras e seus fornecedores de serviços, ela acaba de lançar a linha Skycity, totalmente desenvolvida no Brasil. Segundo Gustavo Faria, o equipamento pode ser utilizado em linhas vivas ou redes de telecomunicações, proporcionando baixo consumo de combustível e economia nos custos operacionais. “Como se trata de um equipamento simples, de baixa manutenção, ele atinge uma vida útil de 15 anos ou mais”, completa o especialista.
Novos produtos
Na avaliação de Thiago Santos Vitola, diretor comercial da Masal, o consumo de cestas aéreas deve ter crescido cerca de 300% no mercado brasileiro, nos últimos dois anos, devido à nova realidade do setor. “Empresas que encomendavam no máximo três unidades entraram com pedidos de 40 equipamentos e locadoras que não dispunham dessa linha incorporaram as cestas aéreas ao seu portfólio”, afirma o executivo.
A empresa, que produz guindastes articulados, florestais e outros equipamentos de elevação, conta com uma linha de cestas aéreas, isoladas ou não, que operam na faixa da 9,6 a 17 m de altura de trabalho. Equipados com uma ou duas cestas em fibra, de 136 kg de capacidade, os equipamentos realizam um ângulo de giro de 410º e contam com estabilizadores dotados de válvula de retenção pilotada, horímetro e protetor lateral, quando montados em caminhão.
Já a Imap, que fabrica guindastes veiculares, implementos hidráulicos, cestas aéreas e outros equipamentos, aposta em um modelo para operar em locais de difícil acesso, quando o instalador precisa superar uma barreira para executar seu trabalho. Para atender a essa necessidade, ela lançou a cesta aérea LA 14.000 Other Side, que atinge 13,5 m de altura e conta com três segmentos de lança, realizando giro infinito no primeiro deles e giro de 340º no segundo.
“Isto permite elevar o cesto atrás de uma árvore ou da rede de iluminação pública, além de permitir um melhor posicionamento no local de trabalho, o que contribui para reduzir impacto no trânsito e os riscos de acidente”, pondera José Alfredo Marques da Rocha, diretor presidente da Imap. Equipado com cesta de 136 kg de capacidade o modelo também exige menos espaço para as manobras durante a operação, conforme explica o executivo. “Esperamos uma demanda maior por esse produto no segundo sementes, pois além dos prestadores de serviço, esse mercado começou a ser desbravado também por locadores.”
O Grupo Consenso, por sua vez, que comercializa componentes para compressores de ar e guindastes importados, além de produzir uma linha de guindastes articulados e cestas aéreas, lançou os modelos Aero 10/10i e 13/13i, que atingem 10,2 m e 13 m de altura, respectivamente. Segundo Daniel Piotto, diretor geral da empresa, o primeiro é indicado para veículos com peso bruto total (PBT) de no mínimo 2,8 t e outro, de 5 t. “Ingressamos nessa área após firmar uma parceria com a italiana Oil&Steel, em 2012, e agora trabalhamos para diminuir o peso dos equipamentos, com o objetivo de viabilizar sua montagem em veículos ainda menores”, conclui o executivo. (Por Haroldo Aguiar)
Norma incorpora dispositivos de segurança
Segundo Carlos Eduardo Gonçalves, diretor comercial da Load Control, as recentes mudanças introduzidas na norma reguladora NR-12 (Anexo 12) impõem a necessidade de retrofit nos equipamentos antigos, para adequá-los aos parâmetros de segurança mais rigorosos. “São sistemas de nivelamento ativo e automático da caçamba e outros dispositivos, que tornam os cestos acoplados em guindaste tão seguros quanto as cestas aéreas, projetadas para elevar pessoas.”
A empresa, que atua no fornecimento desses dispositivos, para a modernização de guindastes e cestas aéreas, acaba de apresentar ao mercado uma lança isolada para trabalhos com cesto acoplados em redes de 46 kV. Outro lançamento recente da empresa é um equipamento para acoplar em guindaste sobre caminhão, nos serviços em linhas de transmissão (500 kV). “Além das tensões altas, esse serviço envolve maiores alturas e distâncias para acesso, o que implica muita utilização de cestos acoplados.”