CONCEITOS
Por: Leonardo Scalabrini (*)
Recentemente, recebi dois questionamentos por e-mail de leitores aqui da Revista CRANE BRASIL sobre como proceder na elaboração de um Plano de Rigging, quando o raio de operação do guindaste está entre dois valores e não consta na tabela de cargas.
Elucidando melhor, tomando como exemplo um recorte da tabela de cargas do Guindaste ZOOMLION ZAT3000V (figura 1), no comprimento de lança de 35,3 metros, qual seria a capacidade de içamento para um raio da operação de 19 metros?
A boa prática – e até observações presentes em algumas tabelas de cargas de fabricantes específicos – orientam a adotar a capacidade do próximo raio, se o valor procurado não está na tabela. No caso da figura 1, para um raio de 19 metros, seria adotada a capacidade de 39 toneladas, referente ao raio de 20 metros.
Todavia, adotar a capacidade do próximo raio pode inviabilizar o içamento. Em muitas áreas de trabalho existem limitações de Taxas de Utilização e, como a capacidade na tabela do guindaste é uma das variáveis para o cálculo destas taxas, é necessário trabalhar com a correta capacidade considerando o raio real.
Mas como podemos informar no Plano de Rigging a capacidade do guindaste em um raio que não está na tabela?
Um caminho bem rápido, porém, incorreto e que (infelizmente) ainda é realizado com frequência, é a interpolação matemática dos valores já conhecidos na tabela de cargas.
E apesar do resultado desta interpolação em alguns casos apresentar um valor bem próximo do que seria a real capacidade do guindaste, como a tabela não representa uma função linear, esta ação não pode ser utilizada.
Assim, existem três alternativas para inserir no Plano de Rigging a capacidade do guindaste sem o raio indicado nas tabelas disponíveis do guindaste.
A primeira alternativa é um caminho um pouco mais longo (e quase nunca seguido): determinar a função da tabela de carga em questão. Isso pode ser facilmente calculado por um programa de matemática computacional. Em seguida, com a função em mãos, deve-se gerar uma nova tabela de cargas específica. Esta tabela precisa, obrigatoriamente, estar acompanhada do memorial de cálculo utilizado para se chegar na função, incluindo a assinatura e ART do Responsável Técnico pela geração da nova tabela.
A segunda e a terceira alternativas tem o mesmo princípio e uma abordagem bem mais prática: simular a operação no software de apoio do fabricante ou no computador do guindaste com o raio que não está na tabela de cargas.
Após realizada a simulação, registra-se a imagem da capacidade do guindaste e adiciona-se esta informação no Plano de Rigging. Para efeitos de rastreabilidade e confiabilidade, uma cópia desta imagem deve fazer parte do documento.
É importante salientar que estes procedimentos, simplificados aqui no artigo sobre como trabalhar em Planos de Rigging com raios que não estão informados na tabela de cargas, não podem ser aplicados para os comprimentos de lança dos guindastes que também não estão presentes nestas tabelas.
A maior parte dos guindastes telescópicos atualmente possuem a configuração dos comprimentos das lanças por sistema de pinagem das seções telescópicas. Na maioria das vezes, não é permitido o trabalho com valores intermediários aos indicados nas tabelas de cargas. Os que admitem configurações entre lanças possuem procedimentos específicos operacionais, bem como tabelas próprias que devem ser consultadas e aplicadas.
Leonardo Scalabrini, estuda e desenvolve projetos de tecnologia para o segmento de içamentos e guindastes, área na qual atua desde 2000. Contatos: leoscalabrini@gmail.com