As empresas da indústria da construção estão constantemente evoluindo seus processos construtivos. A fabricação horizontal, por exemplo, está gerando cargas cada vez mais pesadas e maiores. Com isso, cresce a necessidade de guindastes em quase todas as fases da construção. Como a evolução desse processo resultou na redução do custo global da obra, o item custo do guindaste passou a receber mais atenção nos planejamentos financeiros.
Apesar de tentador, economizar no item guindastes, não vem sendo uma boa ideia, pois envolve a segurança dos trabalhadores e das pessoas do entorno, como residentes ou transeuntes. Não se pode economizar, contratando equipamentos que irão operar no limite de suas capacidades, ou contratando empresas que não estão comprometidas com a segurança ou não tem o conhecimento e experiência necessários para a operação. Em outras palavras, segurança não é negociável.
As empresas que evoluíram seus processos, depararam com a necessidade de se aparelharem, ou adquirirem o know-how da operação de guindaste, ou ainda se assessorarem por empresas ou profissionais especialistas em movimentação de cargas.
Algumas empresas trabalham se padrão algum
Atualmente, algumas empreiteiras têm padrões de segurança para a movimentação de cargas bem consistentes, enquanto outras têm padrões puramente formais, e outras não têm padrão nenhum. Assim, as empresas, que não têm essa experiência e conhecimento, podem estar trabalhando com padrões de segurança abaixo da necessidade das operações.
A falta de padrões de segurança e a elevação das atividades geradas pelos novos processos construtivos vêm aumentando o número de acidentes e incidentes, com alto grau de gravidade, muitas vezes nem relatados. Para que as empresas contratantes, empresas locadoras, empresas de consultoria e profissionais especializados, possam ter diretrizes bem definidas para operações de guindastes, a normatização é necessária.
O planejamento das operações depende muitas vezes da experiência dos profissionais ou da exigência das empresas contratantes. Esses padrões de segurança variam e podem apresentar divergências. É do conhecimento de todos os profissionais especializados em movimentação de carga que as operações com guindastes têm um risco intrínseco e para levá-las aos níveis aceitáveis de segurança, são necessários padrões de planejamento e execução.
Porque é necessário normatizar os içamentos
Coloco a seguir algumas perguntas, e existem muitas outras que poderiam fazer parte desta lista. Tenho certeza de que todos os profissionais especializados têm respostas para elas, mas não existe um padrão definido para que todos convirjam para o mesmo ponto:
- Quando o Plano de Rigging deve ser feito?
- É possível um planejamento sem um desenho?
- O que dever compor um Plano de Rigging?
- No desenho é necessária uma vista de planta e outra de elevação?
- Qual a porcentagem ideal de utilização do guindaste?
- Quais os parâmetros que definem uma operação crítica?
- É necessário um desenho para os detalhes da amarração ou só a lista dos materiais é suficiente?
- É possível trocar o guindaste por um de maior capacidade utilizando o mesmo plano?
- Nas operações em tandem, qual é o limite de utilização?
- Na retirada de uma carga que está montada no alto, qual é o limite de utilização?
- Quais os fatores de contingência sobre o peso da carga?
- Em uma operação em que teremos efeito dinâmico, qual o fator para compensar a amplificação dinâmica?
- Quais os cuidados nas operações de içar e carregar?
- Qual a distância a ser mantida nas operações próximas de uma linha energizada de alta tensão?
- Quais os cuidados a serem tomados para operações embarcadas?
- E Qual as competências e certificação dos profissionais envolvidos nas operações de movimentação de cargas?
- Outro ponto: Qual a área a ser isolada para operações com guindastes?
- E também: Qual a relação entre a altura e a área dos dormentes?
A normatização vem para equalizar essas respostas, colocando de modo formal a experiência dos profissionais da área, dos exemplos internacionais já normatizados e do estudo da causa raiz que culminou em acidentes.
Impacto negativo na segurança
A falta de uma definição clara para respostas às perguntas da lista, certamente incomoda muito quando um Plano de Rigging está sendo feito ou analisado. As diferenças, mesmo que sutis, entre as respostas, podem gerar confusão e ter um impacto negativo na segurança.
Uma vez normatizadas as operações, as empresas contratantes terão mais segurança na contratação e as fornecedoras terão base sólida para reverter algumas incoerências impostas – que, quando analisadas profundamente, “tramam” até mesmo contra a segurança.
Normas internacionais para planejamento de operações
Internacionalmente, existem normas que definem os padrões para o planejamento das operações. É o caso da ASME P30.1 2014 – Planning for Load Handling Activities. Planejamento para atividades de movimentação de cargas, onde são tratados os seguintes tópicos:
- Considerações da atividade de movimentação de cargas e categoria de planos.
- Pessoal e Responsabilidades, Qualificação / Competência.
- Plano de Rigging padrão.
- Revisão pós-içamento.
- Plano de Rigging Crítico.
- Categorização da Atividade de Movimentação de Carga.
Primeiros passos para a normatização
Os primeiros passos na direção de uma norma nacional já foram dados, em contatos com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), com o intuito de traduzir uma ou mais normas ISO. Ou editar uma norma brasileira com os padrões necessários para as operações de movimentação de cargas. Agora, é hora de arregaçar as mangas e começar a trabalhar. A intenção é resgatar a experiência de profissionais especializados com o objetivo de formatar padrões mínimos de segurança. Os interessados em cooperar com esse trabalho devem entrar em contato pelo e-mail cgabos@hoistengenharia.com.br.
O sucesso das operações está no planejamento robusto e consistente, onde os padrões mínimos estarão nessas normas, onde as empresas poderão se basear para montar seus programas de controle das atividades de movimentação de cargas. O nosso objetivo e o daqueles que irão compor esse time é montar um programa de normatização nacional, que certamente irá gerar uma linha descendente nas estatísticas de acidentes e incidentes, relacionados com a movimentação de cargas.
(*) Carlos Gabos, da Hoist Engenharia Serviços e Treinamentos, é engenheiro mecânico atuante na área de Movimentação de Carga desde 1996 nas empresas American Hoist, Tema Terra, Instituto Opus/Sobratema, Tomé Engenharia, Odebrecht, Hoist Engenharia e Coordenador do Bureau de Certificação de Pessoas da Abendi.