Por Redação Crane Brasil
A crise política brasileira gerou um impacto sem precedentes na economia do país e, seja qual for o seu desfecho, demandará um esforço muito grande de todos para que o Brasil volte à normalidade. Também demandará tempo e ninguém sabe dizer quanto. O ano de 2016 está realmente perdido? E em 2017? Teremos o mesmo do mesmo? Não é possível acreditar nisso, dadas as potencialidades do Brasil e o grande número de projetos e obras já definidos e que estão apenas travados.
Seja por inépcia governamental, embargos judiciais, ambiente recessivo, ou falta de confiança dos investidores. E a tendência é que todos esses fatores sejam atenuados no devido tempo. O problema é: o que fazer enquanto isso não acontece? Até agora, não houve escolha para as empresas e, consequentemente, para os trabalhadores: redução de custos e enxugamento (quando não o fechamento) da estrutura, incluindo a dispensa de pessoal.
A retração do mercado também gerou um processo de redução de preços que, além de certos limites, pode pôr a perder não somente a competitividade das empresas, mas também padrões operacionais duramente conquistados nos últimos anos – pelo investimento em tecnologia de ponta, formação e treinamento de pessoal qualificado, além de certificações em qualidade de processos, meio ambiente e saúde ocupacional.
Essa é a preocupação, por exemplo, do segmento de elevação de cargas reunido na Divisão de Guindastes do Sindipesa – Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais. As empresas do setor, diretamente impactadas pela desaceleração dos investimentos em infraestrutura, estimam que os valores para locação de guindastes já sofreram uma redução da ordem de 50%, em média, quando comparados aos valores que vinham sendo praticados entre os anos de 2008 e 2011. A situação é ainda mais dramática se considerado que hoje o pagamento de obras públicas em regra é feito com grande atraso em relação ao mês da medição – e sem custo de capital.
Evidente que, diante desse quadro, que já faz com que as empresas trabalhem com 40% de seu quadro funcional (em relação há dois anos atrás) não há margem para investimentos em renovação de frota – apenas em reposição e manutenção do parque atual. “As consequências são previsíveis: daqui a algum tempo não haverá disponibilidade de guindastes com menos de 10 anos de vida útil – com maiores custos de manutenção, defasagem tecnológica e comprometimento da segurança das operações”, alerta João Batista Dominici, vice-presidente executivo do Sindipesa.
A Divisão de Guindastes do Sindipesa, entende que, para evitar essa situação de deterioração, só mesmo um comprometimento maior das empresas do setor em relação aos preços praticados no mercado. Os empresários reunidos na Divisão sabem que existe grande concorrência entre as empresas do segmento, mas entendem que o mercado está sem referência de preços.
Com isso, empresários com indicadores de ociosidade de até 60% na frota, estão desconsiderando cálculos básicos – que não se resumem a custos fixos, mas também a todos os desembolsos envolvidos. Como, por exemplo, o item “retorno dos investimentos”, que vem sendo negligenciado no cálculo no preço de locação. Em muitos casos, também, sequer está sendo considerado que o dólar é o principal indicador na aquisição de guindastes, manutenção e peças – já que em geral tem como origem a Europa, os Estados Unidos e a Ásia.
Levar adiante essa política comercial será um caminho sem volta: a insolvência será só uma questão de tempo. Por isso, a decisão do Sindipesa de adotar uma prática consolidada entre muitas entidades, dentre elas a NTC&Logística, de elaborar e publicar tabelas referenciais. O objetivo, que precisa ficar bem claro, complementa João Batista Dominici, é “somente balizar o cálculo do custo e não o preço de locação”.