No final do mês de abril, o navio Tian Lu atracou no Cais 4, em Suape, depois de 40 dias de viagem. A carga, jamais vista naquele ponto do litoral pernambucano, ao menos com aquelas dimensões, havia sido despachada do Porto de Lianyungang, em Jiangsu (China), e incluía oito aerogeradores e outros componentes eólicos, como torres, caixas de transmissão e hélices com 84 m de comprimento.
Dali, seguiria por via terrestre, em carretas com até 16 eixos, até a região do Seridó, na Paraíba. Essa epopeia irá se repetir mais 11 vezes, até 2025, totalizando 108 turbinas (GW171-6MW) com 120 m de altura e seus acessórios. A contratante dessa logística é a holding chinesa Goldwind, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo, tendo como cliente a CTG Brasil, igualmente chinesa, e já uma das maiores geradoras de energia limpa do Brasil.
Trata-se do maior projeto eólico da CTG Brasil fora da China. O Complexo Eólico Serra da Palmeira terá 23 parques, que estão sendo implantados nos municípios de Picuí (36 geradores), Nova Palmeira (33 geradores), Pedra Lavrada (25 geradores), São Vicente do Seridó (10 geradores) e Baraúna (4 geradores). Em conjunto, terão capacidade instalada de 648 MW, o suficiente para atender 1,7 milhão de habitantes (40% da população da Paraíba).
“O segmento eólico atravessa um momento desafiador no país. Mas a CTG tem uma visão consistente, de longo prazo. Claro que haverá momentos de vale e de pico nesse mercado. E talvez o momento certo de investir é quando todo mundo está receoso”, diz Lucas Cardoso Sanchez, diretor do Projeto Serra da Palmeira. “É uma abordagem realista, se você acredita no que está fazendo, se tem bons fundamentos. Assim, com relação aos preços futuros de energia, a CTG acredita na sua capacidade também de depois vender essa energia”.
Ele lembra que, do ponto de vista da demanda, o cenário é promissor, em razão da transição energética, produção de hidrogênio verde e eletrificação veicular, por exemplo. E que, ao contrário de muitos investidores, a CTG não constrói parques para vender depois. É uma geradora de energia, que busca um equilíbrio entre as várias fontes de energia limpa.
Se na hidráulica há dependência das chuvas e a solar é eficaz somente durante o dia, a geração eólica no Nordeste, onde os ventos são muito fortes, complementa o perfil desejado para a companhia. “A solar, obviamente, tem ganhado destaque por conta do seu baixo custo de energia. Mas a geração eólica é uma fonte muito importante para a gente. Esse projeto é altamente estratégico para a companhia. Enfim, a gente continua muito confiante aqui no futuro da das renováveis”
A CTG Brasil, a exemplo do que fez na China em que explorou inicialmente o potencial de geração de energia através de hidrelétricas e depois continuou crescendo com fontes eólica e solar, está ampliando atualmente sua capacidade instalada no Brasil – majoritariamente hidrelétrica – não somente com Serra da Palmeira, mas também com o Complexo Solar Fotovoltaico Arinos, no noroeste de Minas Gerais. Juntos, esses dois projetos irão adicionar cerca de 1 gigawatts aos 8 gigawatts que é a capacidade instalada atual da CTG no Brasil.
A companhia, lembra Lucas Cardoso Sanchez, por ter acesso a cadeias globais de fornecimento, de ser muito grande e respeitada pelo mercado e fornecedores, é capaz de desenvolver diferentes projetos de maneira competitiva e eficiente. No caso de Serra da Palmeira, os parques eólicos estão sendo implantados em parceria com o fornecedor. Ou seja, cabe à Goldwind, o projeto de engenharia do aerogerador e sua fabricação, passando pelo transporte marítimo, desembaraço aduaneiro e transporte rodoviário, até o içamento dos componentes, montagem e, enfim, o comissionamento.
O foco da CTG é plantar as bases do projeto, em todos os sentidos. Um trabalho que não é de hoje e vem sendo feito com bastante antecedência. O próprio Lucas Cardoso Sanchez, que desde 2006 participa da implantação de parques eólicos na Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, está em Picuí desde 2021 e, inclusive, mudou-se de São Paulo com a família para coordenar em tempo integral e localmente esse trabalho.
“Eu vim para cá para estar junto com a equipe e sinalizar também para os nossos fornecedores para que eles façam o mesmo. Temos um time de mais ou menos 25 pessoas, em várias áreas: elétrica, civil, mecânica, qualidade, segurança, meio ambiente e social, fundiário. Todos com o objetivo de acidente zero e qualidade alta, respeitando todas as condicionantes que constam do processo de licenciamento ambiental e focados em deixar um legado positivo para as comunidades”.
Infraestrutura local
Os futuros parques do Complexo de Serra da Palmeira se estendem por cinco municípios. Do extremo sul para o extremo norte, em linha reta, são 40 Km. Internamente, 150 Km de acessos. Em face de sua experiência anterior, Lucas Cardoso Sanchez diz ter se surpreendido positivamente em relação à infraestrutura, do ponto de vista da engenharia, dos acessos. “As estradas são boas e a gente percebe aqui uma grande movimentação para melhoria das condições em todas as áreas. Eu vejo a Paraíba como um grande canteiro de obras, existem muitas coisas acontecendo, e isso também ajuda na logística da operação”.
Segundo ele, o maior desafio são os pesos e dimensões dos componentes. Lembrando que se trata de novas turbinas de 6 megawatts, com um diâmetro de rotor de 171 m e torres de aço de 120 m, que também estão vindo da China. Foi definido entre a CTG Brasil e a Goldwind, um ponto de transição na rota, basicamente um entroncamento da rodovia asfaltada, com o acesso por estrada de terra que, apesar de já existente, precisou ser adequada. Para garantir uma largura minha, maior capacidade e com a declividade correta. Os trabalhos incluem também adequações nas vias existentes e construção de outros para viabilizar a chegada dos componentes – e as plataformas de montagem e patolamento dos guindastes.
Investimentos sociais
Do ponto de vista social, se comparado com grandes centros, na região há muitas carências, em infraestrutura e serviços. A chegada de um grande projeto, como diz o diretor do Projeto Serra das Palmeiras, é sempre uma grande oportunidade de desenvolvimento os municípios, inclusive pela arrecadação de impostos gerados com as atividades. A CTG Brasil, segundo ele, está fazendo a sua parte para deixar o maior valor possível para as comunidades.
“É a primeira vez que eu vivo uma experiência como essa. E estou muito feliz, ainda mais porque a Paraíba é a terra da minha avó e o meu filho aqui nasceu aqui neste ano. A CTG Brasil já tem uma atuação consolidada e um programa de investimentos na área social e sustentabilidade junto a mais de uma centena de municípios onde atua. E aqui na Paraíba nós seguimos esse caminho, com parcerias com as instituições do Sistema S para a formação e qualificação de pessoas da região”.
Além de treinamento e qualificação de pessoal para a obra, em julho do ano passado a CTG Brasil anunciou um plano de desenvolvimento local e projetos sociais para cinco municípios: São Vicente do Seridó, Baraúna, Nova Palmeira, Picuí e Pedra Lavrada. Daí surgiram, em parceria com órgãos públicos e associações locais, projetos como: “Musicou” (para crianças a partir dos seis anos e idosos), “Futebol de Rua” (para crianças em vulnerabilidade social), “Rede de Parceiros do Esporte e Educação” (voltado a coordenadores, pedagogos e professores de escolas municipais), “Vida ativa” (para idosos), e Núcleo de Apoio à Criança e ao Adolescente.
Cronograma
O cronograma de implantação do Complexo Serra da Palmeira ainda está em fase inicial. Os primeiros componentes começaram a chegar em maio. “Começamos a receber os componentes dos aerogeradores e já terá início a montagem do primeiro aerogerador. Como são 108 é um cronograma que se estenderá por muitos meses. A previsão é começarmos a geração comercial, a partir de janeiro do ano que vem, à medida que cada um dos 23 parques fique prontos. É projeto que é muito estratégico para a CTG. Ele é o maior projeto que a nossa empresa já construiu fora da China. Então tem todo um olhar aqui do nosso acionista para isso”.