USO DE CINTAS PLANAS NA FORMA ENFORCADA

USO DE CINTAS PLANAS NA FORMA ENFORCADA

Por Jorge Vaz (*)

As três partes da norma ABNT NBR 15637 foram publicadas em 29/12/2023, onde os responsáveis pela movimentação de cargas devem enfrentar uma mudança significativa com a nova edição da ABNT NBR 15637-1, que coloca uma proibição do uso de cintas enforcadas em cintas largas, um requisito que traz mais segurança, mas que precisa ser observado com cautela.

A utilização das cintas na forma forca (choke hitch) é uma das grandes vantagens do produto têxtil: ao “abraçar e apertar” a carga, temos uma maior firmeza e muitas vezes conseguimos ancorar a cinta em pontos mais elevados (acima do centro de gravidade) da carga, proporcionando maior estabilidade e segurança de maneira geral. Tudo isto, claro, sem danificar a carga.

A nova edição da norma diverge de sua própria referência (a EN 1492-1) bem como de outras normas reconhecidas como a ASME B30.9 e as recomendações da americana Web Sling & Tie Down Association (WSTDA). Em nenhuma destas normas (ou qualquer outra do mundo) existe esta proibição no enforcamento.

O novo requisito da norma (item 3.2.2.2) estabelece: “Cintas planas com largura igual ou maior do que 120 mm somente podem ser utilizadas na forma enforcada com o uso de um acessório adequado, conforme B.5.”, porém sem citar qual o tipo (modelo) de cinta e sem fazer referência à quantidade de camadas (simples, dupla, quádrupla). De maneira geral o item traz mais segurança, porém o requisito não está adequado tecnicamente pois ignora o tipo/modelo de cinta e a quantidade de camadas, fatores que afetam diretamente este agravamento na compressão da cinta no enforcamento.

E ainda temos outro item (5.1.5.3) que determina que esta forma forca não pode ser informada na etiqueta: este requisito da norma agiu contra um dos princípios da normalização, que é fomentar a compatibilidade internacional e evitar barreiras técnicas.

Uma falsa sensação de segurança

Durante nossa colaboração com a TechCon Engenharia em julho de 2019, verificamos a complexidade do tema. A primeira barreira foi quanto à metodologia dos ensaios: optamos por um teste mais direto e fundamentado no que já está estabelecido na norma, evitando assim altos investimentos em dispositivos de teste complexos para considerar todas as variáveis inicialmente levantadas.

Mesmo assim, após 26 ensaios os resultados foram inconclusivos e, portanto, o estudo nem sequer foi adiante. Por exemplo, durante os testes houve modelos de cintas duplas com largura de 180 mm que tiveram um desempenho melhor que cintas do mesmo modelo e de menor largura, de 120 mm!

E ainda assim, esta foi uma análise muito parcial: os testes foram realizados apenas com as cintas da Tecnotextil e somente com um modelo (SLING[1]). O fato é que um profundo estudo ainda precisa ser realizado para viabilizar um requisito efetivo quanto à perda de resistência em função da largura, com diversos modelos e fabricantes de cintas.

O grande risco que temos neste requisito da norma é justamente oferecer uma falsa sensação de segurança aos usuários que poderão interpretar a etiqueta da seguinte maneira: “se não tem a informação na etiqueta, não posso enforcar; agora se estiver lá, posso utilizar sem problemas”. Mas como informamos no boletim técnico (acesse no QR Code no final da página), o problema pode ocorrer até com cintas de 90mm se não forem observadas as devidas orientações! Veja na fotografia acima que até em uma cinta de 60 mm já podemos observar um princípio de esmagamento/compressão da fita que fica nítida no modelo de 180 mm.

 

Foto2-cintas
Utilização de cinta tubular em forca (com proteção total no perímetro): perfeita acomodação.

Uso seguro de cintas planas enforcadas

Além de observar todos os detalhes expostos no boletim, veja um resumo com as principais medidas que devem ser adotadas independente da largura ao utilizar cintas planas na forma enforcada: primeiramente, aumente o critério de inspeção nestes casos. É crucial verificar em cada tipo de utilização se o ponto de compressão está de fato danificando a cinta, permitindo assim estabelecer parâmetros seguros de utilização, especialmente encurtando o período entre inspeções.

Até que um estudo abrangente e científico seja publicado, adote a recomendação da norma e evite o uso da forma enforcada em cintas largas, mas considere o valor de 120 mm para cintas de camada dupla: modelos confeccionados com quatro camadas tendem a ter um menor efeito de compressão (adote 150 mm) e de maneira inversa, modelos com uma camada (simples) têm maior efeito de compressão (adote 90 mm).

Seja qual for a largura da cinta plana, adote um acessório compatível que elimine o efeito de compressão na fita no enforcamento: desta maneira eliminamos o risco. E ainda no tema de eliminar risco, sem sombra de dúvidas o mais simples e efetivo é adotar o uso de cintas tubulares para este tipo de operação.

Para finalizar, um mantra: jamais utilize cintas (planas ou tubulares) em cantos vivos ou arestas sem as devidas proteções!

[1] Terminologia comercial da cinta plana com terminais em olhais flexíveis (têxteis).

QC Tecnotextil

Acesse neste link o boletim técnico elaborado pela Tecnotextil sobre a utilização de cintas em forca

 

 

Jorge Vaz(*) Jorge Vaz, é Diretor Executivo da Tecnotextil, empresa pioneira na fabricação de cintas têxteis no Brasil. Com uma atuação de mais de 15 anos no ramo da movimentação de cargas, atualmente desempenha um papel chave como secretário da comissão de estudos que elabora as normas técnicas do setor. Contato: jorge@tecnotextil.com

 

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