Por Leonardo Roncetti (*)
O mais importante congresso sobre içamento offshore do mundo é realizado a cada ano, alternando o local entre duas cidades que são referência na indústria offshore europeia: Aberdeen, na Escócia, e Stavanger, na Noruega. Em 2022, foi realizado entre 29 de novembro a 1 de dezembro na cidade escocesa, promovido pela Norwegian Society of Lifting Technology (NSLT).
Reuniu as principais empresas operadoras offshore, tanto de óleo e gás como de eólica, bem como fabricantes de guindastes, construtores, associações, entidades de segurança do trabalho e empresas certificadoras, onde foram apresentados trabalhos técnicos e exposição de produtos e serviços.
Como em todas as edições, os assuntos apresentados foram os normalmente tratados em içamento, entre eles: análise de acidentes, capacitação de pessoal de içamento, içamento de pessoas para transbordo, novas normas e revisão das normas de içamento existentes, inspeção, manutenção, entre outros.
Porém, três assuntos se destacaram entre os demais, por trazerem inovações que transformarão definitivamente a forma como os içamentos offshore são feitos, e naturalmente impactarão também os içamentos em terra.
Içamento Remoto
O içamento remoto é feito quando os operadores, supervisores e riggers não estão fisicamente na área de operação. Pode parecer estranho, mas no içamento remota não há pessoal de campo envolvido na operação, manuseio das lingas, acessórios de içamento, cabo-guia e carga. O pessoal opera e supervisiona o içamento em salas de controle, que podem estar na própria plataforma ou em terra.
Sem dúvida, a retirada do pessoal da área de risco é o maior apelo pelo investimento na tecnologia de içamento remoto, aumentando muitíssimo a segurança do trabalho e a produtividade operacional.
Porém, para implantação plena do içamento remoto, muitos desafios devem ser vencidos, entre eles o aperfeiçoamento dos guindastes de operação remota, sistema de engate e desengate automático da carga, necessitando mudança nos contêiners utilizados atualmente, telemetria em tempo real entre guindaste e sala de controle e capacitação profissional.
No congresso, foram apresentadas algumas tecnologias que estão em desenvolvimento pelos fabricantes de guindastes tanto para operação quanto para inspeção remota.
Guindastes Autônomos
Na trilha dos carros autônomos e mais recentemente, na esteira dos navios autônomos, os fabricantes de guindastes estão propondo, inclusive já com protótipos, os guindastes offshore autônomos, onde já não há mais interferência direta do operador, executando autonomamente as atividades de içamento rotineiros, conforme programação pré-estabelecida.
Assim como nos carros autônomos, há todo um aparato eletrônico para permitir a operação do guindaste, incluindo CPU e GPU de altíssimo desempenho, câmeras e outros sensores, sendo essa operação possível devido ao uso de inteligência artificial.
O içamento com esse tipo de tecnologia tende a ser muito mais eficiente, rápido e seguro. Um exemplo é a capacidade do guindaste autônomo de prever o melhor momento de retirada da carga a partir do convés do barco de apoio e içá-la com grande velocidade, realizando as compensações de movimento para que a carga suba sem causar sobrecarga e quase sem movimentos laterais.
Outro ganho operacional é a capacidade desses guindastes diagnosticarem antecipadamente qualquer problema eletro-mecânico, gerando alertas para intervenção, reduzindo drasticamente o tempo parado para reparo ou manutenção.
Inteligência Artificial
Enquanto o içamento depender dos operadores, eles podem contar com a ajuda da inteligência artificial para decidir se içar determinadas cargas do convés do barco de apoio é seguro ou não.
A TechCon Engenharia, através do seu diretor Leonardo Roncetti, apresentou o trabalho “Monitoração em tempo real dos movimentos do navio, guindaste e carga para içamentos seguros”, sendo destaque o aumento de segurança com baixo investimento e sem modificações na estrutura e eletrônica dos guindastes existentes.
Foi exposto o sistema em desenvolvimento pela TechCon, que através de micro sensores instalados no guindaste, carga, navio e plataforma indica quais cargas podem ser içadas atendendo aos critérios de segurança programados.
O sistema utiliza inteligência artificial para analisar os dados dos içamentos realizados anteriormente na mesma plataforma, levando em conta os dados meteoceanográficos, condições atuais no momento da operação e habilidade do operador.
Um dos benefícios é aumentar a segurança evitando içar cargas que vão causar sobrecarga em algum componente devido ao movimento do barco de apoio, ou permitir o içamento de uma carga, que teoricamente, poderia levar a uma sobrecarga, utilizando parâmetros convencionais simplificados.
A implantação dessas tecnologias são inevitáveis e aumentarão a segurança e eficácia dos içamentos. Como lidaremos com elas ainda é difícil responder. A certeza é que sempre haverá necessidade de profissionais treinados e capacitados para desenvolver e utilizar essas tecnologias.
(*) Leonardo Roncetti, engenheiro, é doutorando em içamento offshore pela COPPE-UFRJ, mestre em estruturas offshore pela COPPE-UFRJ, e diretor da TechCon Engenharia e Consultoria. Contatos: leonardo@techcon.eng.br