A ENGENHARIA DE IÇAMENTO BRASILEIRA E A EÓLICA OFFSHORE

A ENGENHARIA DE IÇAMENTO BRASILEIRA E A EÓLICA OFFSHORE

Por Leonardo Roncetti (1)

A crescente busca mundial por energias limpas e renováveis tem desafiado a engenharia por soluções eficazes, escaláveis, competitivas e que atendam à demanda da substituição das energias de origem fóssil.

Entre elas, a que mais se destaca atualmente é a energia eólica, que tem, entre outras, as seguintes vantagens em relação às energias fósseis:

  • A produção da energia é diretamente não emissora de poluentes;
  • Tendo o vento como fonte, fica livre das variações de preço de matéria-prima como petróleo, carvão, gás, biomassa entre outras, cujos preços podem variar bastante em função de oferta, demanda, eventos geopolíticos etc.;
  • Essa independência de matéria-prima, torna os custos e utilização muito mais previsíveis. Por exemplo, é muito mais fácil responder: “quanto custará um gerador eólico em 2030” que responder “quanto custará um barril de petróleo em 2030”;
  • A produção de energia é local, permitindo descentralização e redução dos custos de transmissão;
  • É uma fonte sustentável e, na prática, inesgotável;

Entre os desafios da energia eólica estão:

  • Competitividade de preço em relação às fontes de energia existentes;
  • Escassez de áreas com potencial de produção de energia eólica;
  • Ruído, poluição visual e impacto na fauna da região.

Com o crescimento dos projetos em terra e a necessidade de produção de energia mais eficaz, em resposta aos desafios dos parques terrestres, os parques eólicos estão sendo construídos em mar, afastados da costa, ou offshore, com geradores mais potentes e eficazes, maior disponibilidade de áreas, sem impacto de ruído e poluição visual.

Porém, esse novo posicionamento traz outros desafios, a serem vencidos pela engenharia de construção e içamento brasileira. A tabela a seguir traz um resumo das atividades e demandas.

 

Estrutura Descrição Demandas Experiência e disponibilidade da Engenharia Brasileira
Fundação de gravidade, para águas rasas Geralmente de concreto armado ou protendido, apoiada sobre o leito marinho tratado Construção civil

Diques secos, diques flutuantes ou ensecadeiras

Guindastes terrestres de pequeno e médio porte

Cábreas de médio porte

Balsas de serviço

Rebocadores de grande porte

 

Excelente domínio do concreto

Poucas obras no Brasil de instalação offshore.

Exemplo: plataformas PUB-1 a PUB-3 (1975 a 1982)

Frota de rebocadores (AHTS) ativa

Baixa disponibilidade de cábreas

Monopile ou tubulão, para águas rasas até 40 metros Corresponde a cerca de 80% instaladas no mundo, constituída de um tubo de aço soldado de grande diâmetro, cravado no leito marinho Construção metalmecânica

Infraestrutura portuária com guindastes de grande porte

Balsas de serviço de grande porte

Rebocadores de médio porte

Guindastes offshore de médio a grande porte

 

Excelente domínio de metalmecânica

Muitas obras de instalação offshore

Frota de rebocadores (AHTS) ativa

Baixa disponibilidade de cábreas

Baixa disponibilidade de guindastes offshore de grande porte

Jaquetas com “topside” Estruturas metálicas de grande porte para suporte das subestações elétricas Construção naval

Guindastes terrestres de pequeno a grande porte

Infraestrutura portuária

Equipamentos de load out

Balsas de serviço de grande porte

Rebocadores de médio a grande porte

Guindastes offshore de  grande porte

 

Excelente domínio de construção naval

Muitas obras de instalação offshore

Frota de rebocadores (AHTS) ativa

Baixa disponibilidade de guindastes offshore de grande porte

Rede submarina de controle, monitoração e distribuição Cabos e equipamentos submarinos Infraestrutura portuária

Balsas ou navios  lançadores de cabos

Balsas de serviço de médio porte para águas rasas

Rebocadores de médio porte

Guindastes offshore de  médio porte

 

Baixa disponibilidade de balsas ou navios  lançadores de cabos

Balsas de serviço de médio porte

Muita experiência em lançamento de dutos e equipamentos submarinos

Um dos gargalos esperados é a baixa disponibilidade dos navios de construção e içamento offshore, dentre eles, os navios especializados em içamento para eólicas offshore (ver Crane Brasil 82). Atualmente, com a forte demanda de construção mundial, serão necessárias novas embarcações desse tipo.

Além de toda infraestrutura e equipamentos haverá forte demanda de mão-de-obra especializada nas seguintes áreas:

– Engenharia de içamento offshore;
– Engenharia de estruturas offshore;
– Geotecnia de fundações offshore;
– Engenharia naval;
– Transporte marítimo de cargas de grande porte;
– Engenharia elétrica e de instrumentação;
– Engenharia submarina.

Como no Brasil não há a experiência com eólicas offshore, esses profissionais estão, principalmente,  atuando na área de petróleo e gás, o que deve gerar certa concorrência por essa mão-de-obra ou uso de engenharia estrangeira no início dos projetos.

(*) leonardo roncettiLeonardo Roncetti, engenheiro, é doutorando em içamento offshore pela COPPE-UFRJ, mestre em estruturas offshore pela COPPE-UFRJ, e diretor da TechCon Engenharia e Consultoria. Contatos: leonardo@techcon.eng.br

 

Leia mais artigos do Leonardo Roncetti sobre içamentos offshore

Foto no destaque:  Jan Arne (Equinor)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

error: Conteúdo com direito autoral
×