Por: Myla Cohim (*)
Eu nasci numa família tradicional no mercado de guindastes e movimentação de cargas. Já são mais de 60 (sessenta) anos de atividades. Sou a terceira geração a trabalhar na empresa com muito gosto e orgulho, já que minha inspiração por essa carreira veio de dentro de casa, observando meu pai, Almiro Calmon, a se arrumar, sair de casa para trabalhar, resolver problemas de forma habilidosa. Saber que ele prosperou e teve uma carreira de ascensão me fez admirá-lo ainda mais, não só como pai, mas também como profissional.
Ingressei na empresa em 1999, quando ainda era estudante de administração de empresas em Salvador, Bahia. A proposta veio em meio ao período acadêmico enquanto eu me aventurava no setor comercial da área de entretenimento. E não pestanejei, aceitei na hora. Sabia que eu tinha uma responsabilidade grande pela frente e desafios, maiores ainda, num mercado pouco explorado por mulheres.
Minha chegada à empresa foi muito bem acolhida por todos os funcionários. Desde os operadores até os que possuíam cargos de chefia. Entrei com a humildade de querer aprender com eles e com a disposição de fazer a diferença. Toda essa relação foi baseada e construída a base de respeito mútuo.
Acredito que me preparar academicamente e ter como maior exemplo o meu pai, Almiro Calmon e toda sua experiência, foram fundamentais para o meu crescimento no setor. Sempre participei de reuniões, feiras de eventos, sem nenhum problema. Até porque, por gostar do meu trabalho e querer contribuir sempre mais para minha empresa, estou sempre atenta ao mercado. Compreendê-lo faz toda diferença.
A habilidade para enfrentar o dia- dia e seus desafios traz um ganho de experiência incalculável. Como sou uma pessoa curiosa, que adoro a comunicação e tenho especialização em marketing, o networking para mim também acontece de forma natural e muito prazerosa. Gosto de conhecer pessoas do mercado, trocar conhecimentos e ouvir opiniões sobre o setor. Me acrescenta conhecimento profissional, coisa que sempre estou em busca, e satisfação pessoal.
Tenho certeza que a gestão feminina faz uma diferença grande dentro de qualquer empresa. Isso porque, em sua grande maioria, as mulheres são mais minuciosas, detalhistas; tanto no trato com os clientes como na organização administrativa. É admirável ver o capricho que elas têm com seus afazeres desde a categorização do arquivo, organização dos escritórios e a atenção a detalhes que garantem a qualidade do serviço. Desde a minha chegada na empresa a quantidade de mulheres no setor sob minha gestão, o administrativo, teve um ganho crescente.
Estamos atentos ao mercado de trabalho para acolher profissionais sem julgar classe social, gênero e raça. Se formos contabilizar o número de mulheres em toda empresa, temos uma representatividade de dez por cento. Mas, no setor administrativo, elas são 90%, ou seja, elas não estão presentes ainda no operacional, como operadoras de maquinários, apesar de todo o trabalho teórico ter passado ou ter sido realizado por elas antes. A exemplo do setor comercial onde o gestor é masculino, mas conta com a ajuda e organização de duas assistentes mulheres.
Em cargo de chefia temos três mulheres. Percebo que isso dá a empresa uma gestão mais humanizada onde o cuidado com os funcionários e clientes são constantes. O meu trabalho enquanto gestora administrativa é acolhedor e eficaz. Procuro sempre reconhecer e incentivar as aptidões das pessoas que estão no meu dia a dia fazendo o trabalho harmonioso. Muito importante desenvolver o sentimento de bem-estar e de amor pelo ambiente de trabalho. As pessoas produzem mais.
Percebo que essa forma de gestão traz inspirações, não só para outras mulheres e sim para todos que participam desse time e dessa história. Meu filho mais velho, que está prestes a completar 18 anos esse ano, já está trabalhando conosco enquanto faz faculdade de engenharia. Iniciando cedo na Vertical assim como eu. A forma como diligencio os problemas e conduzo a empresa, com certeza, o inspirou.. No futuro próximo será a quarta geração da família conduzindo o mercado de cargas na Bahia.
Acredito na máxima que “a mulher pode ser o que ela quiser”. Apesar do mercado de movimentação de cargas, ainda ser em sua maioria masculino, a mulher também tem a capacidade de aprender, gerir e desenvolver um trabalho de maestria no setor. Não tem segredos para ingressar no mercado. Basta ter interesse e buscar se aprimorar, seja através de curso acadêmico ou se qualificando na área que deseja atuar através de cursos técnicos.
Na área operacional ainda não vi nenhuma mulher trabalhando, nunca recebemos um currículo, por exemplo. Mas, uma funcionária minha do administrativo já está começando a desejar operar os maquinários. Se for, realmente da vontade dela, vamos apoiá-la. Quem sabe nasce a primeira mulher operadora de máquinas da Vertical?