Por Beatriz Barbosa (*)
Quando eu decidi mudar o direcionamento da minha carreira, migrando da área da educação para o ambiente corporativo, tive que enfrentar os meus próprios medos para assumir o desafio de levar contribuição para a empresa familiar e, ao mesmo tempo, elaborar que não havia garantia de sucesso. Era certo que eu precisaria conhecer os processos internos e me adaptar a um cenário totalmente distinto. Contava também com o apoio gradativo do meu pai e dos meus irmãos. E busquei especialização na pós graduação em gestão estratégica de RH, que iniciei imediatamente, além de outros cursos que fiz, específicos de gestão de qualidade.
Em 1999 ocupei o cargo o cargo de assessora da diretoria e, em 2002, gestora da qualidade, o que foi consequência de, em janeiro de 2000, a empresa ter decidido obter a certificação na ISO na época na versão 9002: 1994, o que foi conquistado três meses antes. Eu me identifiquei totalmente com a gestão da qualidade e de pessoas e, desde então, a empresa vem migrando as recertificações nas novas versões da ISO, sendo a atual 9001:2015.
No início de minha atividade na empresa, fui muito bem recebida e tive total apoio da família e de muitos da equipe, principalmente da secretária da época, com quem aprendi muitas tarefas do dia a dia organizacional. Mas também houve resistência inicial por parte de alguns, o que absorvi com naturalidade sabendo que o tempo resolveria, como ocorreu. Nunca me senti questionada por ser mulher, mas para mostrar para o que vim, o que é normal no mundo corporativo que tem a eficiência e eficácia como um dos pilares do negócio.
As diferenças existem, os homens ainda prevalecem nos cargos de liderança, há preconceito em relação à capacidade de dedicação profissional da mulher e sofremos muita pressão para equilibrar as responsabilidades profissionais e domésticas, mas cabe a cada uma de nós fazer essa diferença diminuir. Aprendi que, seja com jornada dupla ou tripla, nós mulheres conseguimos equilibrar a vida pessoal e profissional. Esse resultado pode ser atribuído à nossa capacidade de cuidar de diversas coisas ao mesmo tempo, o que fica muito mais fácil com disciplina e organização.
Na verdade, ao longo desses anos, eu absorvi muito da objetividade e do imediatismo da gestão masculina, tipo ir direto ao ponto, mas sem dúvida o feminino contribui com um olhar mais moderado e flexível, porém não menos exigente. Acho que nós mulheres pela habilidade de desenvolvermos diversos papéis no trabalho e em casa, trazemos para as empresas o lado de cuidadora, um olhar micro, atento aos detalhes, às pessoas, à empatia e à competência social, além de geralmente sermos “realistas esperançosas”, termo que ouvi de Ariano Suassuna e achei genial, pois segundo ele o otimista é um tolo, o pessimista um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.
A graduação, a pós graduação e a especialização que fiz foram fundamentais no meu aprimoramento profissional, mas não seriam suficientes sem o processo de autoconhecimento que me permitiu saber mais o que quero e adquirir um equilíbrio para lidar com as diferenças num ambiente tão masculino. Geralmente é mais fácil sabermos o que não queremos do que o que queremos e conquistar esse saber, faz muita diferença.
Estamos acompanhando a tendência e abertos às políticas de diversidade, como exemplo adaptamos as instalações do escritório em Belo Horizonte para garantir a acessibilidade aos deficientes e temos PCD’s na equipe. O objetivo da empresa é contratar a pessoa com o perfil mais aderente ao perfil do cargo, indiferente de ser homem ou mulher.
Atualmente temos 57 mulheres trabalhando na empresa e 11 ocupam cargos de liderança. Penso que uma boa dica para as mulheres que desejem entrar no segmento é desenvolver o autoconhecimento para ajudar a saber o que fazer. Depois que souber, faça bem feito, pois quem faz mais ou menos tende a também ter uma vida mais ou menos. Persista! Esteja disposta a se dedicar e trabalhar muito no que gosta, então terá satisfações, como ser participante e até protagonista das boas práticas e mudanças necessárias nas organizações e dar a sua contribuição para um mundo melhor, sendo uma pessoa melhor para você mesma.
Cabe citar a frase de Nélson Rodrigues: “Aprendi a ser o máximo possível, de mim mesmo”, interpretada com perfeição por Fernanda Montenegro em entrevista recente ao vivo e que me marca para sempre. A fonte de inspiração é diferente para as pessoas, mas o importante é cada um encontrar a sua! A minha inspiração é a independência financeira e psicológica porque me abre a possibilidade de escolher estar onde quero e com quem quero. Parece simples? Não é não, dá um trabalho danado de bão!
(*) Beatriz Barbosa é Gestora de Qualidade e Desenvolvimento Organizacional da Elba Equipamentos e Serviços