O Grupo Wind Brasil (GWB), realizou novo encontro virtual, dia 10 de novembro, junto com a ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica, para um balanço de atividades e a divulgação de um novo documento: o “Guia para preparação de bases e acessos para guindastes e veículos pesados no site de instalação e manutenção de aerogeradores”. Como o objetivo do GWB é o de “trazer e divulgar no Brasil as melhores práticas globais, para elevar os padrões de segurança nas atividades de instalação e manutenção em parques eólicos”, o momento não poderia ser mais oportuno. Por duas razões básicas.
Primeiro porque o segmento eólico no país continua a mostrar grande vitalidade e um crescimento exponencial. E, depois, porque os acidentes continuam a ocorrer. O Brasil acaba de atingir a marca de 20 GW, mais de 26 mil pás e quase 9 mil aerogeradores instalados. E, segundo a ABEEólica, outros 10 GW já estão em projeto para ser instalados nos próximos três anos e meio – e de 10 a 15 GW estão previstos para os três ou quatro anos seguintes.
O que é ótimo, evidentemente, mas com uma ressalva importante, como lembrou Davi Rodrigues, CEO da Makro Engenharia e integrante do GWB. “O Brasil começou a instalar parques eólicos no início dos anos 2000 com os primeiros leilões. E, agora, temos pela frente o horizonte de instalar, em três anos e meio, metade da estrutura atual, que levou 20 anos para ser concluída”. Ou seja, o grande número e o ritmo acelerado dos novos projetos – sem esquecer o trabalho de manutenção nos parques atuais – tornam ainda mais prementes a disseminação de boas práticas operacionais.
“Se não fizermos isso, ao invés das belas imagens de parques em operação, o que começaremos a ver, com maior frequência, serão imagens de acidentes com guindastes”, adverte David Rodrigues. “Os acidentes acontecem e quando acontecem são de grandes proporções e, em alguns casos, levam a óbitos. Nós muitas vezes temos condições precárias para trabalhar, com grandes desafios logísticos, de topografia, de solo e de vento, onde não pode haver qualquer descuido”.
Resumidamente, diz ele, o que se espera das atividades do GWD é que salve vidas, proteja as pessoas. “Vidas não tem preço. Mas um acidente num projeto desses também atrasa toda a cadeia, com prejuízos do investidor ao consumidor final. E temos que proteger o patrimônio das empresas que estão trazendo seus guindastes e ferramentas para o site, e todos os componentes que serão instalados”.
Cesar Schmidt, coordenador do GWB, historiou as atividades do grupo, com mais de 12 encontros realizados. Foram realizadas mais de 67 análises de acidentes no Brasil e no exterior para discutir a causa raiz e como evitar esses acidentes. 11 ações de melhores práticas foram compartilhadas entre membros do grupo. E mais de 1000 colaboradores foram treinados na frente de serviço, com a previsão de treinamento de mais 1500 em um curto espaço de tempo em 2022. “De que forma esses acidentes podem ser mitigados e como podem servir de aprendizado para que não ocorram mais. É um trabalho que o GWB vem fazendo ao longo desses últimos 2 anos. Compartilhar essas experiências para evitar novas ocorrências”.
O primeiro trabalho realizado foi a tradução e tropicalização (adequação às condições locais) de um manual de melhores práticas que já havia sido desenvolvido na Europa por um grupo de empresas e fabricantes. Trata-se do Guia de Instalação e Manutenção de Aerogeradores, elaborado originalmente com a chancela da ESTA (associação europeia dos transportadores e empresas de guindastes) junto com a VDMA (Mechanical Engineering Industry Association, na sigla em inglês), que reúne a indústria.
Agora, em 2021, o GWB lançou um segundo documento: o “Guia para preparação de bases e acessos para guindastes e veículos pesados no site de instalação e manutenção de aerogeradores”. Esse trabalho também toma por base, um estudo internacional de boas práticas no segmento eólico. O original deste documento foi produzido pela ICSA (International Crane Stakeholders Assembly), entidade que reúne, a nível global, a indústria fabricante de guindastes e os sindicatos de empresas de guindastes ( Association of Equipment Manufacturers (AEM), Crane Industry Council of Australia (CICA), Crane Rental Association of Canada (CRAC), The European Association of abnormal road transport and mobile cranes (ESTA), European Federation of Material Handling (FEM), Specialized Carriers & Rigging Association (SC&RA) e Japan Crane Association (JCA).
O Grupo Wind Brasil, no entanto, fez um importante acréscimo nesse trabalho que traz orientações sobre como fazer preparação de terreno nos locais de operação e deslocamento de guindastes. O GWB inseriu nesse guia procedimentos para acessos dos veículos e dos guindastes – e o dimensionamento mínimo requerido (largura, compactação do solo, resistência do solo, aclividade, declividade, raio de curva, área de estocagem, e o crane pad em si, a área de montagem e desmontagem do guindaste. Os dois guias estão disponíveis para os fabricantes e membros do GWB
Oportunidade de melhoria
Além da questão dos acidentes, sem dúvida, a mais crítica, os debates do GWB revelaram alguns gargalos, comuns a todos os prestadores de serviço que integram o grupo. Um deles é o processo de admissão de pessoas e equipamentos nos parques eólicos. “Cada acesso pressupõe um cadastro que envolve a elaboração de um dossiê enorme. Estamos falando de uma coisa que é burocrática, repetitiva”, diz Schmidt. “Um exemplo, alguém que sai de um parque “A”, para entrar em um parque “B”, mesmo que seja uma prestação de serviço para o mesmo fornecedor, tem que gerar toda essa documentação outra vez, repetindo o que foi feito uma semana, um mês, seis meses atrás”.
Ele diz que, com os procedimentos atuais, cada colaborador leva, em média, 23 dias, desde o início do processo, para obter a autorização para acesso ao parque. E os equipamentos, uma média de 6 dias. Não é difícil contabilizar o custo com a ociosidade de equipamentos e equipes. “E ainda temos que considerar que estamos passando por uma época de crise, de falta de mão de obra, de escassez de equipamentos”, lembra Cesar Schmidt.
Segundo ele, nenhuma empresa do grupo está se negando a fazer esse cadastro. A proposta do GWB é a criação de um banco de dados das empresas prestadoras de serviço, periodicamente atualizado, unificando todas essas informações e com acesso online pelos parques. “Já temos compiladas as exigências dos fabricantes em todos os parques e novas exigências podem ser incluídas, desde que comunicadas com antecedência razoável e não no momento de entrada no parque”. A ideia básica, seja por um cadastro, passaporte ou carteirinha, é agilizar esse processo, para que os recursos sejam usados de maneira mais racional, evitando, inclusive, atrasos no cronograma da obra.
A perspectiva é que problemas como esse podem ser equacionados à medida que o Grupo Wind Brasil passar a contar com novos integrantes, incluindo donos de parques, que já estão sendo convidados. Cesar Schmidt ressalta a importância, além dos fabricantes, que já estão presentes, de que outros locadores e transportadores participem das atividades das atividades do GWB, para fortalecer e ampliar o trabalho que vem sendo feito. “O grupo vai ser mais forte quanto mais membros contribuírem com ideias. Não vai ser uma única grande ação que vai salvar vidas, o ambiente vai ser mais seguro com múltiplas ações de pequeno e médio alcance”, diz David Rodrigues.
Histórico e objetivos do GWB
Desde abril de 2020, um grupo de locadores de guindastes com interesses no segmento eólico passou a se reunir periodicamente. Apesar da grande concorrência entre eles, o objetivo era o de debater iniciativas e ações que pudessem ser do interesse de todos. E havia um tema central que, desde o início, iria permear todos os encontros, realizados de maneira virtual em decorrência da pandemia: segurança.
Não era uma preocupação corriqueira, mas um verdadeiro alerta vermelho, em face do número crescente de acidentes que estavam acontecendo durante os trabalhos de içamento e montagem de parques eólicos – alguns, inclusive, com perda de vidas. Os debates, que se revelaram bastante proativos, deram origem à criação do Grupo Wind Brasil (GWB) nos mesmos moldes dos que existem em outros países. Para coordenação desse grupo foi convidado Cesar Schmidt, profissional com grande experiência no setor de movimentação de cargas e hoje à frente da Deal Guindastes.
A partir de então, o GWB começou a desenvolver uma série de trabalhos, de modo a consolidar e disseminar no Brasil as melhores práticas operacionais estabelecidas em nível global justamente para minimizar os acidentes nos trabalhos realizados junto ao segmento eólico. Claro que existem condições operacionais específicas nos parques eólicos brasileiros e isso também contemplado com o compartilhamento de informações entre as empresas do GWB. O Grupo Wind Brasil, conta com o apoio da ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica e tem hoje, como sócios mantenedores, a Makro Engenharia, I.V. Guindastes, Santin e BSM. Também participam os principais fornecedores do segmento: Siemens Gamesa, Vestas, GoldWind, Nordex, WEG e Acciona.