Júlio Simões e Fabio Gaeta, respectivamente, presidente e vice-presidente do SINDIPESA – Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais, falam da escalada de custos e do impacto da pandemia de coronavírus no setor
Júlio Eduardo Simões, diretor da Locar e presidente do SINDIPESA
O aumento do custo nesses últimos meses foi assustador. Todos nossos equipamentos são comprados em dólar e a manutenção segue a mesma moeda. Então, o câmbio pra gente é algo muito relevante. Fora isso, nós estamos tendo o impacto do aço, já que todas as peças são feitas com essa matéria-prima.
Automaticamente, o locador foi obrigado a rever seus preços. O setor ficou muito tempo com o preço deficitário, porque houve sobra de equipamento, falta de serviço, e todo mundo foi convivendo. Só que os equipamentos ficaram velhos e hoje, ou se investe em um equipamento novo ou a manutenção é pesadíssima, muito mais pesada do que no passado. A idade da frota nacional hoje deve ser acima de 10 anos, então não tem muita alternativa.
Tem que se mudar a tabela de preços, tem que pensar no custo real do equipamento pra sobreviver. 70/80% das empresas locadoras passaram por dificuldades, então hoje tem uma atualização de preço que ainda está muito abaixo da necessidade pra se investir, mas podemos dizer que teve uma mudança de preço substancial nos últimos 8/10 meses.
O mais preocupante é o custo de peças de manutenção. Combustível é um índice pequeno. Pneu também não é um índice grande, apesar de ter subido muito. Eu calculo que pneu, no último ano, dobrou de preço – e os nossos são todos importados, não tem alternativa.
Mas o mais preocupante são as peças. Algumas delas chegaram a subir mais de 150%. E tem peça que não tem disponibilidade. O custo dos contêineres que vêm da China subiu absurdamente e a disponibilidade caiu.
Na Locar, nós chamamos os custos relacionados com a pandemia de custo COVID: transporte é diferenciado, os treinamentos são constantes, são vários itens de segurança que mudaram os processos – horário do almoço ficou mais espaçado. Tudo isso são custos que vêm pra conta direto. Para novos trabalhos grandes nós estamos até apresentando ao cliente o custo COVID separado. Porque pelo menos 10% do custo vai ser relacionado a isso: ônibus que transportada 40, agora só pode 20. Dormitório que alojava 3, agora só pode 1 e assim por diante.
A gente tem assumido parte dos custos e negociado com cada cliente e a maioria tem aceitado – a situação pegou todo mundo desprevenido, não tem como contestar. Contratos novos a gente repassa, não tem como negociar. O volume também diminuiu bastante, houve uma retração de serviço. Muitas obras pararam, principalmente manutenção. Mas este ano começaram a voltar aos poucos.
A tecnologia dos guindastes, das carretas de transporte pesado, plataformas não mudou muito. A questão é que, nos últimos 10 anos, entraram muito poucos equipamentos no Brasil. Ou seja, não tivemos alternativa. As máquinas ficaram velhas, meio abandonadas. O setor canibalizou algumas máquinas para não gastar e sobreviver. A Locar já conseguiu recompor a maioria deles. Isso é o que está pesado. As revisões e manutenção são caras e isso pesa bastante.
Com relação à falta de pneus, a gente vem fazendo grandes estoques. Antes a gente comprava pneu mensalmente. Agora fazemos comprar pensando em 90 dias para frente, porque o pneu importado tem momentos que não se acha no mercado.
Além de soluções no plano macroeconômico, o que ajudaria muito seria ter menos burocracia nas operações de transporte. O SINDIPESA tem se movimentado para mudar algumas coisas no Estado de SP. Estamos sendo bem recebidos. Nossas normas são muito antigas. Tivemos reunião com o Tarcísio (Ministro da Infraestrutura) e ele colocou a equipe técnica para olhar pra isso. A parte de financiamento seria importante, mas hoje o governo não tem caixa por conta da baixa nos juros.
O ambiente no setor é bastante animador. Os projetos estão voltando e aos poucos as empresas estão retomando suas atividades.
Fábio Gaeta, diretor executivo da Transdata e vice-presidente de Guindastes do SINDIPESA
O mercado de máquinas e equipamentos está sofrendo desde 2015. Em 2020 e 2021 nos deparamos com um cenário de variação brutal do câmbio e dos insumos que vêm afetando principalmente a capacidade de renovação da frota.
Antes da pandemia tínhamos um custo operacional nas operações de transporte de 30% direto, hoje estes custos passam dos 50%, o que torna as operações perto do inviável. É necessário rever imediatamente os parâmetros de venda. Na divisão de guindastes, o câmbio é o maior custo, pois afeta a manutenção e reposição de máquinas.
De uma forma geral, estamos enfrentando perda de competitividade e um aumento de controles e de procedimentos que elevam os custos diretos em 3 a 5%, sem contar custos de insumos. É impossível absorver estes custos, o mercado é de CAPEX intensivo, o desafio é repassar os custos. Veja o mercado de caminhões, onde o valor de um veículo dobrou em três anos. Isso só ocorreu porque apesar dos fabricantes terem fábricas no Brasil os insumos são importados; esse é o nosso caso.
O mercado de guindastes, no ano passado, com o aumento do câmbio, chegou a ser o mais barato do mundo. O de transportes está de 200 a 300% abaixo do ideal. Não é uma questão de repassar custos e sim de voltarmos a preços internacionais mais o custo local. Quem não fizer isso não vai conseguir seguir investindo e haverá uma troca grande de players no mercado.
O novo programa do governo federal “Gigantes da Estrada” não impactanosso segmento, que é muito específico e depende muito mais de uma profissionalização do empresário do que de medidas governamentais. Este governo está empenhado em resolver as situações mais críticas.
Hoje há evidências de falta de pneus, assim como de peças, insumos, etc. Até falta de navios existe hoje e o resultado é direto em nossas operações.
O setor precisa fazer a “lição de casa” antes de pedir algo para o Governo.