INFRAESTRUTURA: A RETOMADA DA PETROBRAS

O mercado brasileiro de construção pesada -fabricantes de equipamentos, fornecedores de peças e componentes e prestadores de serviços e uma enorme carteira de desempregados – acompanha com atenção o anúncio de uma das poucas grandes obras de implantação anunciadas nos últimos dois anos. Trata-se da retomada do projeto da UPGN (Unidade de Processamento de Gás Natural), que integra o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras Distribuidora (BR), em Itaboraí (RJ).

Das 34 empresas convidadas pela estatal a participar da concorrência, todas internacionais – o que gerou não poucas contestações de concorrentes brasileiras -, apenas 4 foram classificadas, conforme critérios de melhor oferta de preços e serviços e atendimento às certificações exigidas no edital de licitação. São elas a japonesa Toyo Engineering Corporation, a norte-americana Fluor Corporation, o grupo espanhol Cobra e a lituana Kervi Hidraulika.

As obras da  UPGN, realizadas pelo consórcio QGIT, composto pela Queiroz Galvão, Iesa Óleo & Gás e Tecna Brasil, foram interrompidas em setembro de 2015, após o pagamento de R$ 500 milhões, com avanço de apenas 30% de seu cronograma físico. A definição da vencedora da licitação deve considerar a proposta com maior aproveitamento dos equipamentos já adquiridos pelo consórcio anterior, que se encontram armazenados no local, para efeito de redução de custos. O preço mínimo da obra, fixado no novo edital, é de R$ 2 bilhões. Mas especialistas estimam que seu custo final deve variar entre R$ 3 e 4 bilhões.

A UPGN é um investimento garantido no Plano de Negócios da Petrobras para o quinquênio 2017-2021, que prevê investimentos de US$ 74,1 bilhões no período. O montante é bem menor que os previstos nos dois planos anteriores da companhia, respectivamente de US$ 98,4 bilhões (2015-2019) e US$ 220,6 bilhões (2014-2018).  A  maior parte desses recursos (US$ 60,6 bilhões) será aplicada em projetos de exploração e produção de petróleo no Brasil, principalmente em águas profundas, sendo 76% para desenvolvimento da produção, 11% para exploração e 13% para suporte operacional. A área de Refino e Gás Natural, onde se inclui a UPGN, ficará com US$ 12,4 bilhões, distribuídos igualmente entre a manutenção operacional dos ativos e projetos de escoamento da produção de óleo e gás.

Integração

A UPGN é parte do Projeto Integrado Rota 3, que inclui o Gasoduto Rota 3, o Tratamento Complementar de Gás no Terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ), e a faixa de Dutos Norte Rota 3. Cabe a essas instalações responder pelo escoamento e processamento de 21 milhões de m3/dia de gás natural extraído do polo pré-sal da bacia de Santos, litoral sul de São Paulo, em áreas de cessão onerosa cuja produção começa já em 2017. O sistema atual, composto pelos Gasodutos Lula-Mexilhão, Rota 1 (Mexilhão-Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato) e Rota 2 (Lula-Terminal de Cabiúnas), não possui capacidade para atender a essa produção adicional, o justifica a urgência da continuidade das obras da UPGN.

A construção da unidade deve ser iniciada ainda este ano e tem prazo de conclusão de 29 meses. Até o final de 2017, devem ser licitados outros 23 contratos para a implantação da Central de Utilidades que a complementa, como as unidades de vapor e energia e de tratamento de efluentes e água, que também tiveram suas obras paralisadas.

O Gasoduto Rota 3 tem cerca de 355 km de extensão, 307 km deles em trecho marítimo e 48 km em trecho terrestre. A construção do trecho marítimo foi autorizada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) em novembro de 2016 e está sendo executada pela Allseas. Além dela, será preciso executar o trecho terrestre e, ainda, outro gasoduto, com 11 km de extensão, que levará o gás processado até a estação de entrega de  Guapamirim, conectada ao Gasduc III (Cabiúnas-Refinaria Duque de Caxias). Esse terceiro gasoduto será relicitado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), vinculada ao Ministério das Minas e Energia (MME).

Na área de influência do Projeto Integrado Rota 3 estão 16 municípios fluminenses, duramente afetados com a interrupção das obras que, em sua fase de pico, chegou a contar com cerca de 35 mil trabalhadores. Em Itaboraí, por exemplo, a perda da arrecadação do ISS foi de cerca de 60%. Segundo estimativas da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), a retomada do projeto pode gerar 18.300 postos de trabalhos, sendo 2.300 na fabricação direta de máquinas, 5.200 na produção de insumos para essas linhas de produção e outros 10.800 na prestação de serviços.

Financiamento

A recuperação do caixa da Petrobras para cumprir seu plano de negócios, incluindo a UPGN, passada a fase inicial de redução de custos e demissão voluntária de funcionários, aposta agora em três frentes: a venda de ativos desvinculados de seu core business, a abertura do IPO (oferta pública de ações) da Petrobras Distribuidora (BR) e a parceria com a chinesa CNPC (China National Petroleum Company).

Na área de desinvestimentos, após realizar ajustes para atender exigências do TCU (Tribunal de Contas da União) visando aumentar a transparência do processo de vendas, a oferta de ativos deve voltar ao mercado em setembro. São 34 projetos, avaliados em US$ 42 bilhões, nos setores petroquímico, de refino, biocombustíveis, gás liquefeito de petróleo, fertilizantes, campos de petróleo e gasodutos, entre outros. Já foram negociados. Entre os destaques desse portfólio estão a participação na Braskem (36% do capital total e 47% do votante), a refinaria de Pasadena e a Liquigás. A meta é totalizar R$ 21 bilhões em desinvestimentos e parcerias entre 2017 e 2018.

Já o IPO da BR foi aprovado no início de julho pelo Conselho de Administração da Companhia, que ainda não definiu o percentual que será ofertado. Pelo regulamento do Novo Mercado da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo, onde a empresa pretende ser listada, o mínimo de ações a serem negociadas  (free float) é de 25%. Atualmente, o valor de mercado da BR varia entre US$ 8 e 12 bilhões. A Petrobras assegura que pretende manter o controle acionário da distribuidora,o que deve limitar a oferta a 40% das ações em circulação.

Também no início de julho, a parceria com a CNPC foi formalizada através de um Memorando de Entendimento, com o compromisso de avaliação conjunta de  oportunidades no Brasil e no exterior no segmentos de óleo e gás e para a estruturação de financiamentos. As duas empresas já possuem, desde 2013, um contrato em regime de partilha de produção no pré-sal da Bacia de Santos. Maior corporação chinesa no setor, a CNPC está presente em mais de 70 países e tem interesse direto na viabilização da UPGN.

RNEST TAMBÉM SERÁ CONCLUÍDA

Na Rnest – Refinaria Abreu e Lima, localizada em Ipojuca (PE), a Petrobras aprovou a conclusão da carteira de enxofre, responsável pelo tratamento dos gases resultantes do processo de produção de combustíveis com baixo teor de poluentes, como o Diesel S-10 (diesel com até 10 partes por milhão do enxofre).

A instalação é composta pela Unidade de Tratamento de Águas Ácidas (UTAA) e pela Unidade de Regeneração de Metildietanolamina (MDEA) e seus sistemas de tancagem, Unidade de Neutralização de Soda, duas subestações e duas Casas de Controle Local, destinadas à operação das Unidades U-93 e U-94 (SNOx), além das unidades U-45 e U-46 (UREs) e suas interligações.

Para as obras da UTAA e MDEA, foi contratado  no final de junho o Consórcio Conenge SC/Possebon Engenharia e Serviços, por R$ 215 milhões. Com avanço físico de 95%, o projeto era executado pela Alumini, que pediu R$ 75 milhões para sua finalização e teve o contrato rescindido pela Petrobras em 2015. As unidades de abatimento de emissões (SNOx) também não foram concluídas e terão nova licitação. A proposta da Qualiman, embora de menor valor entre as concorrentes, ainda foi considerada elevada pela Petrobras.

Com a UTAA e a MDEA terminadas, a Refinaria Trem 1, em funcionamento desde 2014, passa a operar a plena carga, com uma produção de 115 mil barris/dia.

 

 

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