Peregrinos e turistas que visitarem Aparecida do Norte (SP) para conferir, in loco, o Santuário reformado vão achar que as estruturas ali instaladas só podem mesmo ser obra dos céus. Definitivamente, não foram. Ouvir os 13 sinos, importados da Holanda, ressoarem de um campanário de 37,5 metros de altura da basílica é obra grande – e das mais complexas.
A base do campanário é uma armação metálica composta por um fólio maior e um menor que, uma vez concretados, equivaleriam a um peso de 265 toneladas para serem içados, com graves riscos de danos estruturais durante o processo. Também era preciso avaliar como posicionar a base de sustentação da estrutura de modo milimétrico, afim de não comprometer a rede de serviços subterrânea – galerias, passagens de tubulação, cabos de fibra ótica e de energia – existente no local. À primeira vista, uma tarefa impossível sem a remoção ou, no mínimo, alteração dessas interferências. Para completar, o espaço de movimentação na área era bastante reduzido.
Foi esse o briefing que a IPS Engenharia de Rigging recebeu da Lótus Engenharia, sua contratante. E, foi pela solução que deu a esses e a outros desafios do projeto, que se deve a sua conquista como empresa Top Crane’2016 em Plano de Rigging.
Terceiro Ponto
A primeira decisão tomada pela equipe, bastante acertadamente, como se verificou depois, foi sobre a forma de içamento dos fólios. Apenas a estrutura metálica seria erguida, com a concretagem realizada quando ela já estivesse verticalizada. Nessa condição, o peso teórico da carga passou a ser de 105 t.
Resolvido esse problema, uma das possibilidades sugeridas pela IPS para garantir a integridade do solo, foi a criação de dois mancais na base inferior da estrutura. Criou-se, então, uma condição atípica para uma operação de verticalização: a de um terceiro ponto de carga. Ou seja, aos dois guindastes que seriam empregados, seria somado o apoio no solo sobre os mancais, possibilitando uma redução de recursos. Ainda que exigisse muito mais, não só dos envolvidos na elaboração do planejamento de Rigging, como dos responsáveis por sua execução.
O ponto crítico da operação seria a transferência de carga do guindaste principal para o auxiliar visto que a carga estaria sempre apoiada nos mancais, o que colocava seu centro de gravidade teórico bem próximo da base. A IPS, então, desenvolveu um gráfico de carga para identificar o momento em que a transferência de carga pudesse ser iniciada sem que o peso total fosse colocado sobre os mancais, afim de não causar problemas aos guindastes. O gráfico contemplou ângulos e raios de operação para os dois guindastes, permitindo um planejamento perfeito e seguro do içamento.
Restava definir adequadamente o posicionamento dos guindastes para evitar a remoção ou a alteração das redes subterrâneas de serviços. Após um processo de concorrência, a escolha recaiu sobre a Guindastes Tatuapé. Com a definição dos modelos Liebherr LTM 1750-9.1 e LTM 1500-8.1 para a operação, foi iniciada a elaboração dos estudos de Rigging pela IPS. Com base nas dimensões exatas dos Mats dos equipamentos, fornecidas pela locadora, os cálculos de pressão no solo foram revisados, assim como foi checado seu impacto nas interferências existentes, definindo-se seu posicionamento final.
A Lótus Engenharia preparou as bases de concreto, cada uma projetada de acordo com o cálculo da pressão que seria exercida no solo pelos Mats. Dois dias antes do içamento, a IPS acompanhou o acesso, posicionamento e montagem dos guindastes. Uma equipe de topografia aferiu a posição das máquinas, garantindo que ela seguisse estritamente o planejamento de Rigging. Uma reunião prévia entre técnicos da IPS e da Guindastes Tatuapé esclareceu dúvidas sobre a operação e seu momento mais crítico – a transferência de carga. Isolada a área, o içamento foi liberado. Quem não estava ali, perdeu a subida do fólio às 9h30. Às 11h30, quem chegasse só veria o campanário já no ar. Quem estava – e não era pouca gente – garante que o momento da transferência da carga foi imperceptível. Como se nunca tivesse acontecido.