Por: Redação Crane Brasil
Não por vontade própria, é óbvio, construtoras e locadoras se viram no último ano obrigadas a colocar suas frotas em um período sabático. Em alguns setores – construção pesada, petróleo e imobiliário -, a ociosidade do parque de máquinas já beira mais de 50% das unidades. É indiscutível, no entanto, se parte da frota parou, não há porque deixá-la virar sucata. O retorno à operação, sem que uma manutenção adequada tenha sido feita, pode revelar surpresas desagradáveis.
No caso de equipamentos de elevação de carga – em especial, guindastes móveis e de torre e plataformas elevatórias -, os problemas mais comuns, em períodos de longa inoperância variam, segundo os fabricantes, desde danos simples, como a descarga total das baterias até o ressecamento das graxas, a perda das propriedades lubrificantes de óleos e graxas e a oxidação em componentes fundamentais. Outra grande vilã, nessa situação, é a exposição das máquinas às condições climáticas: sol, chuva, umidade e vento.
A umidade do ar, por exemplo, pode comprometer os componentes elétricos e eletrônicos e o sistema pneumático, no caso dos guindastes sobre pneus. A oxidação causa danos nas placas eletrônicas, nos conectores elétricos (causando mau contato), nos bicos injetores, em componentes hidráulicos e pode contaminar o óleo hidráulico com água. Vedações e mangueiras podem sofrer um processo de ressecamento provocando vazamentos quando a máquina voltar à operação.
Check List
Para evitar esses riscos, há intervenções que devem ser realizadas a intervalos regulares. Gustavo Ferreira, supervisor de Pós-Vendas de Guindastes de Torre da Liebherr Brasil, recomenda que os painéis elétricos do equipamento (mesmo desmontado) sejam alimentados periodicamente para a preservação de seus componentes elétrico-eletrônicos.
Já Rodrigo Bossa, gerente de Pós-Vendas de Guindastes Móveis sobre Esteiras e Pneus da fabricante, destaca a importância de uma boa lubrificação preventiva, protegendo as partes sujeitas à corrosão. “Manter os tanques de combustível cheios também ajuda a evitar a ação corrosiva do enxofre, presente no óleo diesel que, junto com a umidade do ar, pode causar a corrosão interna do tanque e reservatórios”, diz.
Bossa sugere, ainda, a retirada de todas as partes possíveis – cilindros, por exemplo -, preservando as hastes cromadas da ação do ar e, na impossibilidade, aplicar produtos especiais que auxiliam nessa proteção. Outra indicação é movimentar o guindaste ao menos uma hora por semana e, antes de colocá-lo em operação após um longo período de ociosidade, substituir todos os filtros e lubrificantes e realizar testes de funcionamento monitorados, além de executar, no prazo, a primeira revisão do equipamento.
Para José Carlos Lima Rezende, coordenador de Suporte ao Cliente da Tadano, antes de parar o equipamento, além do tanque de combustível, é recomendável completar também os níveis de óleo de todos os compartimentos e do radiador. Outros cuidados são a lubrificação dos componentes mecânicos, a calibragem dos pneus e a desconexão ou o desligamento da chave geral das baterias. “Durante a paralisação é indicado, ainda, realizar uma inspeção periódica mensal, manter o equipamento limpo e, se possível, guardado sob uma área coberta”, acrescenta.
Ricardo Cunha, gerente de vendas da Sany do Brasil, também destaca a importância de inspeções periódicas com o guindaste em funcionamento e testes para a vistoria dos sistemas mecânico, hidráulico e elétrico. André Ricardo Moschen, coordenador de Pós-vendas da Luna ALG, diz que, além da limpeza com produtos específicos, no caso de oxidação, uma repintura pode ser necessária. Ocorrendo contaminação, o ideal é a filtragem do óleo e a troca dos filtros e, em alguns casos, a limpeza interna do reservatório.
Deivid Garcia, gerente de Vendas da XCMG, lembra que elevar os guindastes com seus estabilizadores, assim como manter os pneus hidratados com produtos à base de óleo de silicone, evita sua deformação. “É importante, ainda, envolver as partes lubrificadas com plásticos evitando seu contato com poeira, ligar o motor por 15 minutos a cada 10 dias, em rotação levemente superior à da marcha lenta, para carregar a bateria e, além das partes internas e vedações da máquina, lubrificar também os cabos de aço a cada 3 meses com produtos que contenham material anticorrosivo”, destaca.
Planos de Manutenção
Esses cuidados podem integrar planos de manutenção oferecidos por alguns fabricantes. “Na Liebherr, dispomos de pacotes de serviços on-demand, com escopos variados conforme necessidades específicas do frotista ou da obra”, diz Ferreira. Os mais requisitados são o de Técnico Residente na Obra e o de Manutenção Preventiva Periódica, disponíveis para todas as linhas de guindastes da fabricante (veja tabela).
Segundo ele, os principais benefícios do contrato de Técnico Residente na Obra são a intervenção imediata do técnico, no caso de eventual manutenção corretiva; a garantia de integridade do equipamento, que pode seguir para a próxima obra, e o orçamento calculado, com valor já definido desde o início do contrato. Para Bossa, são comuns aos dois planos, as vantagens de assegurar a maior disponibilidade e longevidade dos equipamentos e a redução de custos, com manutenções preventivas programadas ao invés de manutenções corretivas, além da maior segurança das operações.
Para seus clientes, a Sany do Brasil dispõe de planos de manutenção preventiva e corretiva in loco ou programada (veja tabela). O suporte técnico em todo o Brasil é feito pela fábrica com uma equipe de técnicos certificados internacionalmente, de oficinas volantes e por atendimento remoto, 24 h/dia nos 7 dias da semana. Segundo Cunha, a empresa possui um dos melhores custos de manutenção do mercado, com atendimento gratuito (hora técnica, hospedagem e deslocamento) para defeitos de fabricação em equipamentos na garantia.
A Manitowoc possui contratos de manutenção para as marcas Manitowoc, Grove, YardBoss e National, mensais ou anuais, que incluem fornecimento de peças e, em alguns casos, técnicos dedicados em campo, explica Marcelo Medeiros, diretor de Suporte ao Cliente da fabricante. Para equipamentos novos, a garantia, contratada na aquisição, pode ser de 1 a 3 anos. Proprietários de máquinas usadas também podem contratar o serviço. Para a marca Potain, atendimento é feito pelo distribuidor, com intervenção da fábrica quando necessário.
A Palfinger, segundo Douglas Pedroso, da equipe de serviços dispõe de programas de manutenção de Técnicos Residentes, Flex e “Acompanhamento de Frota Palfinger”, hoje o mais utilizado. A XCMG oferece duas modalidades de contratos: Pleno Atendimento e Fornecimento Diferenciado – Peças e Serviços (veja tabela). Para Garcia, a contratação prévia de serviços e peças, aliada à capacitação da equipe de manutenção do cliente, assegura uma economia de cerca de 15% em peças e de 25% em mão de obra e serviços especializados, além de otimizar o tempo de recuperação do equipamento em até 70%.
Suporte Técnico
Na Liebherr, a área de suporte técnico é estruturada com equipes de assistência técnica em campo para todo o país, ferramentas de trabalho e estoque de peças de reposição e com um centro de reparos e manutenção com tecnologia de ponta. Para os guindastes de torre, estão disponíveis ensaios não-destrutivos nos componentes para avaliação de suas condições estruturais e laudos estruturais em máquinas com mais de 20 anos. Já o galpão de reparos de guindastes móveis conta com pontes rolantes de alta capacidade e dispositivo para teste de lança telescópica, que movimenta a lança sem a ajuda do equipamento.
A Tadano conta com suporte técnico telefônico, depósito de peças disponível inclusive nos finais de semana, equipes de técnicos treinados, incluindo um da fábrica da Alemanha, veículos de serviço com ferramental adequado e aparelhos para diagnósticos dos equipamentos.
O suporte técnico da Manitowoc é realizado pela divisão CraneCare, em todo o país, com técnicos motorizados, treinados e equipados com sistemas de diagnóstico para interpretar o computador da máquina. Há também uma equipe interna para a solução de problemas ou dúvidas sobre as máquinas. As duas equipes possuem acesso a engenheiros nos centros de excelência nos EUA, Alemanha, França ou Itália, dependendo de onde a máquina veio. A fábrica em Passo Fundo (RS) dispõe, ainda, diz Medeiros, de simuladores para testes mais precisos e, se necessário, peças ou componentes podem ser enviados aos centros de verificação de produto, nos EUA ou Alemanha, para testes mais severos.
A Luna ALG possui um setor de Assistência Técnica para atendimento na fábrica e cerca de 50 oficinas autorizadas no país. As peças substituídas em regime de garantia retornam à fábrica e são submetidas a análises metalográficas, testes de tração e testes de bancada.
Na Palfinger, o suporte técnico conta, além das equipes de campo, com uma equipe interna de engenheiros e é prestado em todo o Brasil. Já a XCMG, segundo Geraldo Peleje, coordenador de Peças e Serviços, dispõe de técnicos treinados em sua fábrica na China, de um centro de tecnologia e engenharia direcionado ao mercado brasileiro e latino-americano e de softwares específicos de análise e diagnóstico dos equipamentos.
Treinamento e Estoque
Para o frotista com estrutura própria de manutenção, a Liebherr disponibiliza um Centro de Treinamento com cursos de operação e manutenção. Entre eles, o de telescopagem de modelos EC-B e EC-H (guindastes de torre) e, para guindastes móveis, o Sistemas Liccon 1 e 2, Documentação Técnica e Work Planer dos Guindastes LTM e LR e Influência do Vento na Operação. Outros cursos podem ser oferecidos in company. A empresa recomenda que a manutenção que envolva a segurança do equipamento ou que não seja de domínio técnico do cliente deve ser realizada por ela. Quanto às peças de reposição para guindastes de torre, Ferreira diz ser interessante manter um estoque de componentes elétrico-eletrônicos, mais voláteis à instabilidade da rede elétrica do país. Já Bossa observa que, para os guindastes móveis, filtros, lubrificantes e correias são estratégicos no estoque.
Na Tadano, os treinamentos básicos de manutenção, com interpretação de diagramas elétricos e hidráulicos, são disponibilizados sem custo para o cliente. Também podem ser ministrados cursos in company. A duração média do treinamento é de 26 h. Para Rezende, devem ser realizados apenas pelo fabricante os ajustes de sensores de comprimento e ângulo de lança e momento de carga, diretamente ligados à segurança do equipamento e sua operação. Para manter em estoque, ele recomenda itens como filtros, vedações de bujões de dreno e correias, além de componentes elétricos sujeitos a falhas como fusíveis e lâmpadas.
A Sany possui treinamentos para a reciclagem de operadores e técnicos em elétrica, eletrônica, hidráulica e mecânica, com carga horária entre 36 e 48 h. Para reposição, Cunha indica peças de desgaste como roldanas, polias, transdutores de pressão, válvulas hidráulicas do sistema de içamento, válvulas e sensores do sistema de patolamento, controladores e sistema de embreagem.
Na Luna ALG, o treinamento oferecido é o de Nível II – Manutenção – o mesmo de uma oficina autorizada -, além de atendimento à distância. Com duração de 20 h, o conteúdo inclui temas como manutenção preventiva, leitura de pressão, substituição de componentes e leitura e interpretação de diagramas elétricos e hidráulicos. Para o estoque de peças, André Ricardo Moschen aconselha manter óleo hidráulico e filtros, kits de reparo dos cilindros e válvulas de contrabalanço e retenção, que são comuns a diversos equipamentos da marca.
A Manitowoc ministra treinamentos in company mediante agendamento. A duração dos cursos varia entre 4 e 5 dias. Alguns problemas, no entanto, não devem ser tratados nas oficinas dos clientes. “Casos decorrentes de uma intervenção externa não controlada, como uma carga que esbarra na parte mecânica do guindaste ou em sua lança, requerem o suporte da fábrica”, alerta Medeiros. Quanto às peças de reposição, o diretor recomenda os kits de manutenção preventiva de 250 h.
Além dos treinamentos para distribuidores, a Palfinger dispõe de cursos para qualificação de operadores, diz Fabrício Tombini, da equipe de serviços da empresa, com duração de 8 a 16 h, conforme o porte e eletrônica dos equipamentos. Os de maior carga horária são indicados para guindastes com controle remoto e cesto com certificação NR12 e para as plataformas Jumbo, que alcançam até 100 m de altura. Para reposição, Edson Bueno, também da equipe de serviços, diz que o Centro de Distribuição de Peças, em Caxias do Sul (RS), conta com mais de 17 itens para pronta entrega. Além dele, a rede de representantes da marca possui estoques locais de peças estratégicas e de alto giro.
Na XCMG, Garcia destaca quatro opções: Treinamento e Reciclagem sobre Produto, Segurança Operacional, Capacitação Técnica em Manutenção Preventiva e Manutenção Corretiva (Elétrica, Hidráulica e Eletrônica), todos com certificação e carga horária entre 20 e 45 h. O gerente adverte que o usuário não realize intervenções em componentes eletrônicos, que podem prejudicar a leitura da tabela de cargas, nem a implantação de sistema LMI em equipamentos antigos ou a adaptação de motor e transmissão diferentes dos originais. Em relação às peças de reposição, Peleje assegura que o estoque mantido pela XCMG em Guarulhos (SP) dispensa o cliente de manter estoque próprio, reduzindo seus custos operacionais.